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A relíquia cultural que olhamos de esguelha

Por admin

Quando chegamos à província de Nampula, em missão de trabalho e se nos restar tempo para passear, dificilmente descartamos a ida à Ilha de Moçambique, um lugar mágico que dista  186 quilómetros da cidade de Nampula.

 A Ilha de Moçambique é ma cidade insular que deu nome ao país do qual foi a primeira capital. É  um paraíso, local de gente humilde, silenciosa que sentada ou cócoras (principalmente as mulheres), aprecia e deprecia o chegar das gentes que vão explorando com olhar aqueles edifícios únicos.  Edifícios que aparentemente destruídos se confundem com a gente que lá vive e que por vezes se faz despertar pelas cores acesas de suas vestimentas.

 Há uma percepção de a gente da Ilha não ter urgência com o tempo. Seus olhares e cumplicidade no sorriso e nos olhares nos remetem a um pensamento de que o tempo é que deve se preocupar com aquela gente e não o contrário.

Mas contava que dificilmente fazemos vista grossa ao percurso da cidade de Nampula à Ilha. E foi o que aconteceu ao grupo de gestores máximos, directores, jornalistas e administrativos da Sociedade do Notícias que se encontravam em Nampula. Escalámos aquela província para repensar a empresa e dotá-la de novas formas de ser e estar, social, para que continue a primar por uma informação formativa e informativa, abarcando mais gente deste vasto Moçambique.

Depois de dois dias de profunda reflexão, restou-nos o sábado para relaxar. E nada melhor que ir a Ilha de Moçambique. Organizamo-nos e lá fomos. A viagem foi bastante animada, pelo menos no machimbombo onde se encontrava a maioria, cerca de 32 passageiros. Anedotas, piadas e bastante animação caracterizaram a viagem a ilha, consumindo aqueles quilómetros todos sem os sentir. A palavra de ordem no autocarro era UWA…UWA. Era o nosso slogan e nos servia de saudação perante as pessoas que íamos encontrando pelo caminho.

Dentro do autocarro estava o Emídio, Administrativo da delegação da Sociedade do Notícias na província de Nampula. Incansável, ele explicava com detalhe, os locais por onde passávamos.  E ao ritmo das nossas gargalhadas percorríamos  aquela estrada, passando por Namialo, Mossuril, vendo os desvios para o interior, onde afirmam haver praias esplêndidas.

 

BOAS VINDAS À MODA NAMPULENSE

Chegamos a ponte que separa o continente da Ilha. Conforme nos foi dito, os autocarros de trinta lugares como o que nos transportava, estavam interditos por causa do peso. Entretanto, gozando nós de um estatuto diferente e, tendo antecipadamente feito o pedido às estruturas locais, nos foi permitida a passagem.  Enquanto percorríamos os três quilómetros da ponte, um dos colegas de Nampula dizia que a mesma sofrera intervenções com vista a sua reabilitação, pois houve tempos em que constituía perigo passar por aquela ponte.

De dentro do autocarro podemos contemplar de longe a primeira cadeia,  no meio da água. A primeira Igreja. Mas contemplamos sobretudo a água limpa e convidativa.  Pena não trazermos connosco fato-banhos para dar um gostoso e merecido mergulho.

Finalmente chegamos ao outro lado da ilha. Gente, pouca, mas presente, nos recebia com olhares, questionando no silêncio: quem são estes, nossos, mas provenientes de outro lugar?

Contornamos as diversas ruínas e fomos estacionar debaixo de uma árvore onde são vendidos objectos artísticos, desde missangas, colares, cestos. Vendem no mesmo local peixe, lulas, amêijoas, conchas e cestos de tamanhos vários.

No local, debaixo da árvore frondosa estavam onze mulheres e um homem, tipicamente vestidos. Receberam-nos com cânticos e coreografia locais. Perguntei como se chamava o grupo e um senhor que estava por perto respondeu-me prontamente dizendo: Associação Forte na Amizade.

As senhoras, devidamente vestidas, com capulanas e lenço a condizer, brinco no nariz e ouro por tudo quanto é lado, colar, pescote, brincos, mascote, piercing no nariz e no umbigo,  tudo a brilhar, e duas senão três com Mussiro na cara,  sorriam e nos contagiavam com aquele rasgar dos lábios, sem igual. O contágio foi tanto que despertou a atenção do Administrador Delegado, Jorge Matine, que não se fartava de se deliciar por aquela coreografia daquelas mulheres que cantam com a alma. Aliás, não apenas ele, o Administrador Comiche, recorrendo às novas tecnologias, usou o IPAD para registar aqueles inesquecíveis momentos, não pretendendo com tal retirar o lugar ao decano da fotografia Alfredo Mueche que sorria e fotografava ao ritmo da coreografia das muthianas.

Fazendo juz ao momento, os colegas Abdil Juma, senhora Lúcia e Cristina Langa, se fizeram ao centro, juntando-se às senhoras para dar gosto à voz e ao mexer das ancas, em uma coreografia que era baptizada pela brisa que soprava do mar ao lado. Vitorino Xavier, jornalista afecto em Inhambane, esqueceu a tradição dos coqueiros e se juntou ao grupo. E como ele estava trajado de um fato africano, com as cores quase que similares às das senhoras,  ele confundia-se com mais um bailarino da Associação Forte na Amizade. Era mais uma confirmação da enorme riqueza cultural que temos à qual por vezes piscamos o olhar ou apreciamos de esguelha.

Aliás, a própria Ilha de Moçambique que contempla museu, já reabilitado, a Fortaleza São Sebastião, aquele mítico bairro e suas gentes, alguns dos quais se confundem pela idade com a Ilha, é uma relíquia por explorar e capitalizar. Ainda bem que foi criado o GACIM – gabinete responsável pela restauração da Ilha de Moçambique. O reconhecimento universal daquela cidade insular foi feito em 1991, pela UNESCO ao declará-la Património da Humanidade. Uau. Isso é motivo de orgulho, ao qual se acrescem a Timbila, o Nyau.

 

GUIAS SORRIDENTES E INSTRUÍDOS

Terminada a saudação, seguiu o momento do Tour, uma visita guiada por um jovem alegre, conhecedor da Ilha e sobretudo com vontade de ver as pessoas saírem da Ilha com toda informação possível. Seu nome é  José Andrade e trabalha há sete anos como guia.

Com bastante precisão nas datas, ele foi explicando o que é a ilha, suas características, a preferência da ilha pelos portugueses, a fortaleza, os lugares onde eram aprisionadas as pessoas, e o outro em que rezavam pela última vez. Enfim, foi uma viagem pela história durante cinquenta minutos, recordando a muitos dos que ali estavam o que um dia ouviram dizer sobre os portugueses, as trocas comerciais. Daí, houve a combinação entre o que era dito pelo guia e as lições apreendidas na escola. Foi bonito.

Uma nota positiva ficou. Para além de se mostrarem dispostos e alegres, os guias investigam e vão dando informações com pormenor. Fica clara a mudança de postura, reconhecendo ser o turismo uma forma de capitalizar os lugares sócio-históricos e viver do próprio turismo.

Entretanto, um gesto me marcou. Um dos colegas, creio ter sido Victor Machirica, de Manica, esqueceu junto à árvore, a garrafa de água de um litro e meio. Um jovem, mudo, veio atrás de nós para devolvê-la. É um daqueles gestos que escasseiam nos dias presentes.

 

ILHA EM FRANCA RECUPERAÇÃO

 

A Ilha de Moçambique é uma cidade insular  situada na província de Nampula  , na região norte de Moçambique , que deu o nome ao país do qual foi a primeira capital. Actualmente, a cidade é um município, tendo um governo local eleito.

Pouco menos  de cinquenta mil habitantes  partilham aquelas terras frescas, entre  a Ilha e o continente.

O seu nome, que muitos nativos dizem ser Muipiti, parece ser derivado de Mussa Bem-Bique, ou Mussa Bin-Bique , ou ainda Mussa Al-Mbique , personagem sobre quem se sabe muito pouco, mas que deu o nome (na 2ª versão) a uma nova universidade  , sediada em Nampula.

A Ilha tem cerca de 3 km de comprimento e 300–400 m de largura e está orientada no sentido nordeste-sudoeste à entrada da Baía de Mossuril  , a uma latitude  aproximada de 15º02’ S e longitude de 40º44’ E. A costa oriental da Ilha estabelece com as ilhas irmãs de Goa e de Sena (também conhecida por Ilha das Cobras) a Baía de Moçambique . Estas ilhas, assim como a costa próxima, são de origem coralina.

Arquitectonicamente, a Ilha está dividida em duas partes, a “cidade de pedra” e a “cidade de Macuti  “, a primeira com cerca de 400 edifícios, incluindo os principais monumentos, e a segunda, na metade sul da ilha, com cerca de 1200 casas de construção precária. No entanto, muitas casas de pedra são igualmente cobertas com Macuti  .

A Ilha de Moçambique está ligada ao continente por uma ponte com cerca de 3 km de comprimento, construída nos anos 60.

A Ilha tem estatuto de  município, buscando desta feita parcerias para o seu desenvolvimento. Manuel Okala- Vereador para actividades económicas, esteve sempre de perto acompanhando a nossa visita. Tal como outros munícipes, ele almeja dias melhores e sorridentes para Ilha.

A palavra de ordem na Ilha e, podemos constatar é a reabilitação, mas preservando a estrutura arquitectónica. Isso faz com que muitas casas até pareçam ruínas por forma. Mas a sua estrutura interna é de se lhe tirar o chapéu. Ainda bem que se pensou em preservar aquelas obras primas. Pedra e cal são alguns dos materiais usados na reabilitação dos inúmeros edifícios que encantam qualquer ser apreciador do bel e estético, principalmente ligado a antiguidades.

Estátuas vimos duas, a de Luís Vaz de Camões (conforme a Literatura, ele perdera os escritos do livro Os Lusíadas, na Ilha de Moçambique) e Vasco da Gama. Camões está lá, sorridente e estático, dando boas vindas a todos, poeticamente. Quem dera que os nossos heróis por lá se fizessem presentes. Acredito que um dia poderão partilhar o espaço, não querendo com tal tirar mérito ao Vasco da Gama que no longíquo ano de 1498 fez-se aventureiro e escalou aquelas terras, nem ao Camões que à moda carpen die inspirou-se e escreveu poemas que ainda nos deliciam.

Resumindo, pois não poderei descrever na íntegra a imensidão daquela relíquia, Ilha é um lugar por melhorar, explorar, capitalizar e torná-lo destino turístico por excelência.

 

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