O escritor moçambicano Mia Couto lança, no próximo dia 2 de Outubro, o seu mais recente livro de romance intitulado “A Cegueira do Rio”, numa cerimónia que terá lugar no Centro Cultural Moçambique-China (CCMC), na capital do país, a partir das 18.00 horas. domingo publica, a seguir, parte do primeiro capítulo da obra que, inclusive, já está disponível para aquisição na Fundação Fernando Leite Couto.
- O rio quer sair da água. Quer sair da água, mas tem os olhos vendados. Tem os olhos vendados com dois panos espessos, um de cada lado. Todos sabemos: a cegueira da água é uma mentira. Todas as noites o rio levanta- -se e volta a ser nuvem. (Lenda de Madziwa)
Apoiado no sipaio Nataniel Jalasi, o sargento português Bruno Estrela arrastou-se pela margem lodosa do rio Rovuma. Custava- -lhe caminhar. Trazia um continente agarrado aos pés. Para os europeus, o Rovuma era uma fronteira separando a «África Oriental Portuguesa» da «África Oriental Alemã». Para os africanos, o rio era uma mulher que engravidava com as grandes chuvas. A verdade era esta: ambas as margens eram habitadas por gente que, todas as noites, rezava aos mesmos deuses. O rio escutava as preces e voltava a ser nuvem. Leia mais…