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Ritos de iniciação!

Por admin

Nos ritos de iniciação, cuja essência não se fala em público, há pelo menos algo interessante que indisciplinadamente posso revelar: há erros que são corrigidos por encomenda dos progenitores, entre eles, o hábito de roubar sabão na casa de banho, de não pedir licença no quarto dos pais e de mentir (bem dito, de dizer meias-verdades) …

O problema é que o roubar sabão na casa de banho, escancarada como costuma estar no campo, deixa muitas dúvidas sobre se foi um vizinho a fazê-lo, se terá sido o(a) menino(a) ainda não iniciado(a) para objectivos inconfessáveis ou se é um dos cônjuges a comportar-se dessa maneira. A atitude deixa uma nuvem de suspeitas que precisa de muito cuidado para desvendar.

Não se tem de dizer directamente que não deve pedir licença no quarto dos pais, porque se ele quiser saber do porquê, estes não terão a coragem de o explicar que lá os pais fazem muita coisa.

Não se tem de acusar o petiz de ter transportado uma verdade íntima da casa para fora, a partir da qual se ouvem referências desabonadoras em relação ao casal, porque não se tendo a certeza de ter sido ele, poder-se-á incorrer em erro de o ensinar a comportar-se desse jeito, pois, provavelmente, pela primeira vez, há-de ouvir que tal procedimento é possível.

Do mesmo modo, o açucareiro bem escondido pode despertar a atenção do(a) menino(a). Pode querer saber porque é que o resto, incluindo o sal, não se oculta tão assim. Daí nascer a necessidade de provar.

Na educação tradicional, na falta de um processo doseado de iniciação e porque isso ocorre na adolescência, então é a fase em que se leva o/a menino/a aos ritos de iniciação, com tutores bem instruídos, carregando as “encomendas” de tudo o que se pensa estar a carecer o futuro chefe de família.

Ele irá, por assim dizer, ouvir tudo na iniciação, mas individualmente ser-lhes-ão repetidas algumas lições que só se justificam na hipótese de ser “acusado” pelos pais, de ser autor de certos erros não desvendados em casa.

No regresso, ele é controlado em função da frequência ou raridade dos “erros” que eram habituais, para se concluir se terá valido a pena levá-lo à iniciação, ou, sobretudo, se era mesmo o promotor dos desentendimentos caseiros, da vizinhança ou do bairro… quer dizer, da sociedade em que vivia.

Trata-se duma das principais facetas da Educação Tradicional, cuja principal vantagem é não tirar os segredos da casa para fora dela ou gostar do que de mal se diz contra a sua própria família. Quem, na tradição da maior parte de Moçambique, não passou por isso é “Lúkhu” (não iniciado)!

Um não iniciado é capaz de vender consciente ou inconscientemente a sua família que a nível macro podemos considerar região, sociedade, país, pátria ou Nação.

São poucas as vezes em que os possíveis compradores denunciam de quem partiu a ideia de vender ou vilipendiar a família ou quem queria que fosse assim.

Por isso não se espere por muitas vezes a atitude do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou qualquer fonte externa de desmentir o que alguns jornais moçambicanos gostariam que acontecesse. Gostariam que o país, mais uma vez, estivesse de cócoras, desta feita, com mais uma dívida pretensamente descoberta.

Os “Lúkhus” foram desmentidos, de forma categórica, a partir de Washington que o vice-director do FMI tivesse anunciado que havia outras dívidas ocultas. Pode haver, mas não disse isso! Como é mau não ir aos ritos de iniciação!!!!

Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com

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