Arrancou na passada sexta-feira, dia 20, em todo o país, o ano lectivo-2017 para os diversos subsistemas de Educação. É um ano que mantém os antigos problemas do sector e acrescenta-lhe novos desafios.
Dos antigos problemas o de vagas nas saídas dos ciclos, 8ª e 11ª classes, insuficiência das infraestruturais básicas, como salas de aulas equipadas, elevado rácio professor/aluno, falta de bibliotecas e bibliografia relevante, professores sobrecarregados e trabalhando em horas extras, exiguidade de recursos financeiros para contratar todos os professores necessários aos sistemas, fraca formação dos professores, ineficiente gestão pedagógica pelas direcções das escolas, etc.
Os novos desafios para este ano relacionam-se com a chegada tardia do livro escolar até para alunos das classes iniciais que, por isso, irão estudar nas primeiras semanas de aulas sem livro e a interrupção das aulas em mais de um mês para dar lugar ao Recenseamento Geral da População e aos Jogos Escolares.
Em relação ao livro para a 1ª classe, as autoridades da Educação referem que as escolas receberam instruções de como colmatar a ausência do mesmo e que vão recorrer a manuais orientadores específicos, pois os professores foram capacitados com vista a lidar com este pormenor. Aqui oferece-nos dizer que é necessário haver um grande trabalho de acompanhamento e controlo dos professores, considerando que esta é uma inovação e tomando em conta também que dos oito mil professores a contratar este ano, sete mil são para o ensino primário e alguns destes são novos e poderão estar a leccionar classes iniciais.
Em relação interrupção de mais de um mês de aulas, fica por saber que outras actividades as escolas vão desenvolver para aproveitar este vazio, porque nem todos os professores e alunos estarão ocupados com o recenseamento e/ou com os jogos escolares. Será que vão ficar em casa? O que vão de facto fazer que esteja relacionado com o ensino e aprendizagem? Como é que as crianças vão ficar?
Claro que tanto os antigos como os novos desafios influem (de que maneira?) no processo de ensino e aprendizagem num sistema nacional que cada ano que passa sofre mudanças e inovações que precisam de ser assimiladas e adoptadas pelos seus actores principais.
Abriram as aulas por todo o país, mas o sistema continua a não absorver todos os que deviam estar nele, ficando ainda de fora, muitas crianças e adolescentes, por falta de escolas, de professores, apesar de todos os esforços que as autoridades têm feito anualmente para resolver o problema.
Uma criança que não estuda, por falta de meios, é mancha que nos devia envergonhar. Trata-se de violações objectivas de um direito protegido constitucionalmente. A igualdade de oportunidades tem como alicerce a escola. Em termos de lógica pura quer dizer que, no concreto das situações, ainda não conseguimos realizar essa igualdade de oportunidades, o que significa à priori que o Estado de Direito em construção ainda mete muita água pelas brechas abertas nos seus próprios fundamentos.
O ano lectivo de 2017 decorre sob o lema: “Por Uma Educação de Qualidade Rumo ao Desenvolvimento Humano” e na abertura, o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, deixou vários recados ao sector, tendo em conta cada um dos subsistemas.
O presidente disse claramente que “ estamos a falar da reforma que visa a estabelecer um sistema integrado, coerente, flexível e orientado para a demanda do mercado do trabalho. De forma estratégica, pretende-se que com a reforma neste sector seja estabelecido um quadro institucional da sua gestão e financiamento e criar um sistema integrado de qualificações e formações baseadas em padrões de competência e aumentar a capacidade de fazer e de produzir”.
É liquido que estas e outras metas são tangíveis. Mas precisamos que todos nós, actores principais do sistema e toda a sociedade interajamos para uma mudança de atitude, se quisermos mudar para melhor a nossa Educação. Vencer e passar para trás todas as formas viciadas de ser e estar na Educação. A começar pelo absentismo dos nossos filhos e dos professores às aulas. Sobre esta questão, ainda continuamos com aquela mentalidade que entende que mais aula, menos aula, não é daí que vem algum mal ao mundo, por isso se falta a valer às aulas. Uns e outros faltam sem grande preocupação de recuperar as lições perdidas.
Aqui o problema que nos aflige é a leviandade quando se trata da aquisição do conhecimento. Ainda não se enraizou nas nossas mentalidades que o conhecimento é a maior riqueza de um país. Quando pensamos em riqueza, olhamos para os recursos financeiros e naturais, carvão, areias pesadas, gás, etc. Esquecemos que há países que são ricos ou estão a desenvolver-se sem nada disso, mas que o fazem porque foram capazes de formar convenientemente os seus recursos humanos. Repare-se, por exemplo, numa Finlândia, escassa em recursos naturais, numa Suécia ou numa Dinamarca, olhe-se para os “bilgates” de todo o mundo.
Se não houver conhecimento, nunca seremos capazes de sair da pobreza que nos manieta e impede de voar mais alto. Entre nós não existe a cultura do conhecimento, existe, sim, a cultura do diploma, que até se pode comprar, a cultura da passagem de ano sem aprofundamento dos temas, a matéria dos testes decora-se ou copia-se, que é quase a mesma coisa, mas os alunos não crescem por dentro.
Já é tempo de pôr as nossas escolas a render em função do conhecimento sustentado. A começar pela escola primária e subindo pela escada acima. É tempo de solidificar a base, para o tecto ser consistente. Se não fizermos isso, cantaremos a cantiga da falta de qualidade do nosso ensino, até ficarmos exaustos, roucos ou enrouquecidos.
DESTAQUE:
“Vencer e passar para trás todas as formas viciadas de ser e estar na Educação. A começar pelo absentismo dos nossos filhos e dos professores às aulas. Sobre esta questão, ainda continuamos com aquela mentalidade que entende que mais aula, menos aula, não é daí que vem algum mal ao mundo, por isso se falta a valer às aulas. Uns e outros faltam sem grande preocupação de recuperar as lições perdidas”