O Clube Estrela Vermelha de Maputo celebrou o seu 37.º aniversário de forma vibrante, em uma gala que só é possível nos grandes clubes, fazendo esquecer a crise financeira em que o país mergulhou, mais sentida por uns que por outros.
A efeméride foi marcada pelo lançamento de um livro sobre a formação desportiva de um dos seus “donos”, Carlos de Sousa (Cazé) e ao reconhecimento dos que mais se afirmaram este ano nas variadas modalidades, dentre os melhores, as revelações e os promissores.
A despromoção do clube do “Moçambola” não passou despercebida, embora com referências disfarçadas que evitaram que as lágrimas transbordassem dos olhos dos que não gostaram de ver outra vez a agremiação fora da maior prova futebolística do país, pelo menos em 2017.
Foram entregues galardões e diplomas. Alguns dos que foram confiados às entregas fizeram questão de informar aos mais novos que eles também foram atletas de eleição, outros não se esqueceram de recordar que foram fundadores do Estrela Vermelha. Depois seguiram-se comes e bebes, que mais uniram as gerações.
Surgido da fusão entre o Centro Popular de Cultura e Desporto e o Clube de Desportos da Malhangalene, o Clube Desportivo Estrela Vermelha de Maputo completou a 5 de Dezembro 37 anos.
A sua história inicia da conversa entre dois amigos, em 1978, colegas do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular), um deles praticante de basquetebol do Centro Popular.
O Centro Popular de Cultura e Desporto teve como origem o Clube de Desportos Indo – Português, extinto pela força da lei que proibia qualquer tipo de discriminação no desporto. No Indo-Português só poderiam ser sócios cidadãos naturais ou descendentes de cidadãos das antigas colónias portuguesas na Índia.
A primeira reunião para a fundação do Estrela Vermelha realizou-se na sede do Centro Popular de Cultura e Desporto. E foi dirigida pelo General Salésio Teodoro Nalyambipano (Vice-ministro da Segurança) e pelo Dr. João Raposo Pereira (vice-ministro do interior). Os membros das duas instituições foram recomendados a se filiarem no novo clube e a promoverem a prática desportiva.
O Centro Popular, na pessoa de Geraldo Murta, estabeleceu contacto com elementos da direcção do Malhangalene, Júlio Rito e José Ferreira (Garrincha) para uma possível fusão, dada a sua proximidade e com infra-estruturas complementares. Havia sentimento de que juntos poderiam enfrentar as dificuldades do que isoladamente.
O Malhangalene, localizado no Bairro do qual recebeu o nome, e o Centro Popular no Bairro da COOP, tinham de comum uma só modalidade, basquetebol. O primeiro incluía hóquei em patins e futebol de salão e o segundo andebol e badmington.
Samora e Veloso
Houve três sugestões para atribuição de nome ao novo clube: 11 de Outubro (Dia da Vigilância Popular), Estrela Vermelha e Dynamo, estes dois eram designações normais de clubes desportivos dos órgãos de defesa e segurança nos países socialistas. Para a escolha final ficou de fora o nome de Dynamo. Por fim, foi aprovado o nome de Clube Desportivo Estrela Vermelha, por sugestão do Presidente Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique, secundado pelo Major General Jacinto Veloso.
Depois da fusão dos clubes, em 1979, a gestão do novo clube começou a ser garantida por jovens na casa de vinte anos de idade. Dos dirigentes iniciais, para além do presidente de direcção, Marcelino Guerra Picardo, destacou-se Geraldo Murta, como a “alma” do clube, e seus principais coadjuvantes, nomeadamente Lázaro Macamo e Pedro Mahumane. Aos poucos, através de reuniões de trabalho, começou-se a desenhar o tipo de clube que se pretendia. Houve contribuições de alguns dirigentes de outros clubes, como Domingos Moura do Maxaquene.
A união dos ex-sócios dos clubes da fusão, que juntos jogavam cartas no pavilhão anexo, do então clube da Malhangalene, foi decisiva no crescimento Estrela Vermelha, que se iniciou com as modalidades de futebol, basquetebol, hóquei em patins, andebol e badmington. A introdução de novas modalidades, como atletismo, começou a criar dificuldades logísticas, onde a falta de material desportivo surgia como a maior.
Dos contactos de cooperação feitos, levou à afectação de um conselheiro alemão (da Republica Democrática da Alemanha – RDA), Wolfgang Zein, oferta de material desportivo e acessória na criação da Associação Desportiva Estrela Vermelha (ADEV), factores de mais-valia.
Posteriormente, o Estrela Vermelha recebeu do Dynamo da RDA um categorizado treinador de futebol, Martin Skaba, que levou a equipa sénior ao mais alto nível muito alto do futebol nacional, em 1982.
Em finais de 1981 alguns dirigentes do clube emigraram para ADEV, que coordenava as acções dos dez Estrela Vermelhas no país, uma por cada província. Foram movimentados Lázaro Macamo, Adriano Macuapera, Luís Clemente e Telmo Mascarenhas. Não significou sua separação com o clube, pois, Telmo Mascarenhas continuou como chefe do departamento e treinador de atletismo e Luís Clemente como chefe de departamento de Natação, depois da recuperação da piscina da Escola Estrela Vermelha, no tempo em que no país havia ligação entre o clube, a escola e a comunidade.
Hoje o Estrela Vermelha de Maputo vive o presente olhando para o passado e para o futuro. E é o melhor exemplo de que a superação desportiva de um clube, que o futebol deixou de dar grandes alegrias, pode ser obtida através das vitórias das modalidades invulgares.
Actualmente o Estrela pratica as modalidades de futebol de onze, futsal, boxe karate e hóquei em patins. Próximo ano arranca com escolas de basquetebol.