Bula-bula, como qualquer ser vivente deste planeta, já está a planear o que vai fazer no final do ano em curso. Bula-bula quer um telefone celular.
Não
um que só serve para fazer chamadas e
receber SMS. Não, não. Um destes modernos.
Bem mesmo. Um smartphone.
Destes que só falta saberem fritar ovos
de tão sofisticados serem. Um que grava
vídeos, faz fotografias, toma notas, acessa
à internet em 3 ou 4 G, entre outras
funcionalidades. Que tenha WhatsApp,
Facebook, Viber, entre outras modernices.
Mas mais do que tudo isso, tem de ser um
telefone caro. Sim, que custa quase tanto
como um carro tipo Vitz ou Uno. Não se
espante, amigo. Quero um telefone caro,
desses que alguns pais dão aos filhos que
mal conseguem localizar Moçambique no
mapa-mundo. Filhos que de tantos mimos
terem já não distinguem a ficção da realidade.
Vivem num casulo de facilidades
que não os deixa ver a realidade da vida.
Quero um celular moderníssimo…
E para que é que Bula-bula precisa
de um elemóvel moderno?
Simples: para gravar vídeos. Para
espionar a vida alheia. Procurar coisas
perturbadoras e ou sem interesse nenhum,
filmar, fotografar. Para ser o primeiro
a postar coisas via WhatsApp e
no Facebook. Virar um verdadeiro terror
para os incautos, para os estropiados,
baleados, presos, namorados, executivos,
criminosos, dirigentes, juízes, camponeses,
artistas (sobretudo músicos);
não vai escapar ninguém…
Preparem-se. Bula-bula vai vasculhar
a vida alheia. Procurar onde haja
confusão e morte para filmar e postar
sem nenhum problema de consciência
porque é isso que está na moda. Toda a
gente filma… estão dois miúdos imberbes
a golpearem-se com paus e canivetes,
é só filmar. Separar os adversários?
Para quê? Quanto mais sangue, melhor.
Acabou-se o respeito. Agora é cada um
por si e Deus por alguns!
Mas particular atenção será dada
a gente famosa… ah… estão mal.
Coisas tipo casou; separou; namora
com fulana; deixou beltrano; está a
“rochar”; não canta nada ou não pinta
nada, vão fazer parte do cardápio.
Inveja? Nada disso. Se até há canais
televisivos que gostam de publicitar essas
coisas. São capazes de repetir até a
exaustão imagens de sangue, violência,
acidentes de viação, entre outras atrocidades,
sem pejo nenhum.
Ou se calhar não é boa ideia?
Vendo agora o dicionário de língua
portuguesa, ele define inveja como “desejo
de possuir algo que outra pessoa
possui ou de usufruir de uma
situação semelhante à de outrem;
cobiça”. Interessante. Conclui-se do
exposto que o invejado (o alvo) não tem
conhecimento da inveja. Isto é o mesmo
que dizer que o invejoso sofre duplamente.
Pelo desejo e pela ignorância do
visado. Deve doer ser invejoso!
Mas a que propósito vem a terreiro
essa cena de inveja? Por tudo e por
nada. É que Bula-bula topou que as redes
sociais – com maior pendor para o
Facebook e o WhatsApp – têm sido usadas
para destilar venenos que indiciam
inveja congénita.
Aliás, algumas pessoas também se
prestam ao serviço (inocentemente, claro)
de atiçar o modo Inveja nos outros.
Postam tudo e mais alguma coisa. Outras
até a sua intimidade. Bem, há gostos
para tudo, como sói dizer-se… mas
Bula-bula não se quer perder em coisas
e loisas mas num facto que mexeu com a
sensibilidade de muitas pessoas pela violência
e pela idade dos envolvidos; sim
a cena dos miúdos da “Josina Machel”…
O fenómeno não é de todo novo.
Quando o constitucionalista Gilles Cistac
foi baleado, enquanto se mexia dolorosamente
prostrado no chão, dezenas
de pessoas, com os seus smartphones,
registavam o momento e no instante
seguinte postavam as imagens via Facebook
ou WhatsApp. Podia-se ouvir vozes
dizendo “ele mexeu-se” mas não há
registo de ninguém a socorrer o pobre
homem que depois perdeu a vida.
Nas imagens, também postas a circular,
pode-se ver que há dezenas de estudantes
a assistirem a sanha barbárie
do menino de canivete em punho desferindo
golpes no outro mas ninguém, literalmente
ninguém, faz nada para parar
o ataque… nem que fosse gritar para o
desvairado rapaz parar. Nada. Não se
ouve nenhum grito de alerta para uma
possível ajuda. Nada. Apenas a preocupação
de registar o facto.
Isso é bom? É mau?
Uma coisa é certa; não serão os
professores a consertar as falhas na
educação dos filhos, como ensina Pepe
Mujica. Acrescenta que “em casa se
aprende a: cumprimentar, falar obrigado,
ser limpo, ser honesto, ser correcto,
ser pontual, não insultar, ser solidário,
mastigar de boca fechada, não roubar,
não mentir, cuidar das próprias coisas,
etc. Na escola se aprende: Matemática,
Português, Ciências Naturais, História,
etc. e reforçam-se os valores que os
pais ensinam aos filhos”.
É isso. Não adianta mandar o filho
para a escola sem um mínimo de educação.
Estaremos a criar invejosos. E não
há nada mais assustador do que a inveja.
A inveja vê sempre tudo com lentes
de aumento que transformam pequenas
coisas em grandiosas, anões em gigantes,
indícios em certezas.
E é assim que vamos moldando as
mentes. Há cada vez menos homens capazes
de prestar homenagem ao sucesso
de um amigo, sem qualquer inveja. Salvador
Dalí diria o termómetro do sucesso
é apenas a inveja dos descontentes.
Mas será que precisamos de ser
assim?
Bula-bula acha que não… o smartphone
pode servir para outras coisas.
Coisas positivas. Mas, atenção: se pisarem
na bola, não haverá contemplações…
a menos que mandem cá o último
I Phone! O tal 7…