Não à violência! Os combatentes devem continuar a estranhar a violência gratuita. Por isso deixaram as armas e marcharam sem elas e, pelo contrário, trouxeram pombos, em sinal de paz, em festa.
Foi mais ou menos nestes termos que Filipe Nyusi, Presidente da República e da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional, indeferiu o pedido de rearmamento, feito pelos seus associados para fazer face às provocações armadas da Renamo. E acrescentaram: para dar lição a Afonso Dhlakama, de como se faz…
Foi no dia 7 de Setembro, dia da vitória, que calhou com a passagem dos 42 anos da assinatura dos Acordos de Lusaka, que puseram fim à dominação colonial em Moçambique. O pedido veio do homem mais executivo dos combatentes, o secretário-geral, Fernando Faustino. Por isso não se pense que terá sido apenas a brincar.
Fernando Faustino teve aplausos de alguns membros da Associação, sinal de que não estava a pensar sozinho. Mas encontrou um travão no seu/nosso presidente que, inclusive, pediu que a violência fosse, a todos os títulos, desencorajada. Pediu que os combatentes continuassem pacíficos como sempre o foram.
Ora, nos parece que o pedido vem na sequência da continuada intolerância da Renamo e o seu líder que fechou completamente os ouvidos a todos os apelos que lhe são dirigidos para que pare com as matanças às pessoas indefesas, com a destruição dos bens móveis e imóveis privados e públicos, de se comportar, enfim, como inimigo do povo sob quaisquer reclamações, sobretudo políticas, num país democrático que o é, em grande medida, ao sabor das suas próprias exigências.
O grupo que estava em Pemba, em festival, era por um lado constituído por quem está sempre a dialogar: desde o pedido pacífico da autodeterminação, entretanto violentamente sufocados, passando pelos Acordos de Luzaka (1974) aos de Roma (1992), vindo desembocar no da cessação das hostilidades (em 5 de Setembro de 2014) e o diálogo em curso. Os combatentes deram mostras de que nunca se cansaram de dialogar para ultrapassar diferenças.
Por outro lado, aquele grupo ultimamente é constituído pelos combatentes pela soberania e democracia, estes últimos que tendo estado ao lado da Renamo na chamada guerra dos 16 anos, já não veem razões de mais uma vez pôr o país de joelhos e catalisar o sofrimento de todo um povo, por interesses marcadamente umbilicais.
Os combatentes, pela voz do seu presidente, disseram não à violência gratuita, não porque não possam ser violentos, mas porque ela representa muitas vezes a pequenez de quem a apregoa; a falta de razão de quem a alimenta, enfim, significa a fraqueza de quem com ela ou por meio dela se acha forte.
A Renamo ao destruir tudo e todos pelo país, ao confinar todo um povo aos locais que ela escolheu e ao paralisar a actividade económica que advém da produção agropecuária, piscícola, mineral, da mobilidade de pessoas e bens, numa altura em que o país, mais do que nunca, precisa da paz para fazer frente às várias crises que o apoquentam, está de facto a pôr à prova a paciência de todos nós, incluindo aqueles que no dia 7 de Setembro estiveram reunidos em mais uma efeméride que trouxe a independência ao nosso país.
A Renamo está a comportar-se como se ela própria fosse abstracta. Ao atingir hospitais, está a caminhar em trilhos jamais vistos de violação dos direitos humanos. Ao atingir postos e agentes policiais, está a ser irresponsável perante um Estado existente. Ao pretender matar jornalistas, está a matar a liberdade de imprensa que disse lhe movia em 16 anos de guerra sangrenta. Ao começar selectivamente matar antigos combatentes, homens a quem temos a obrigação moral e patriótica de os venerar, está a tentar matar a história nacional e a posicionar-se com verdadeiramente contra a Independência nacional.
Terá sido por isso que os combatentes desabafaram, não tanto porque na verdade quisessem armas para defrontá-la numa guerra que na verdade não teria sentido.
A geografia da Renamo é concreta, ela existe, é palpável. Não são necessárias armas. Não é necessário ir à parte incerta para encontrar a Renamo. A Renamo não está apenas em Gorongosa ou Muxúgue, donde parte em missões criminosas para toda Sofala; em Sabe (Morrumbala), donde parte em fainas assassinas para toda a Zambézia; em Muacanha (Maúa), donde parte em obras atormentadoras para todo Niassa Oriental; em Nkondedzi (fronteira com Malawi) donde se desdobra antidemocraticamente para todo o norte de Tete; em Tsenane (Funhalouro), a partir de onde semeia luto para o resto de Inhambane; em Namilasse (Murrupula) onde encontra o arranque sangrento para os distritos vizinhos, em Nampula ou, ainda, algures em Macossa, onde apanha a coragem assassina contra a EN7, em Catandica.
Não é necessário, tal como ela o faz, sair de algum esconderijo para com actos macabros falar da governação de províncias pretensamente ganhas. A Renamo está connosco e, atipicamente, pagamos com os nossos impostos a sua selvajaria. Ela está em todo o território nacional e, bem arregimentada na Avenida 24 de Julho, na capital do país. É isso que a consciência sã não permite activar e aqueles que sempre vivem a dialogar para ultrapassar diferentes crises, não fariam.