Até parecem pirómanos. A piromania, para a psiquiatria, consiste no desejo mórbido e incontrolável de provocar incêndios, queimar ou atear fogo às coisas. É um transtorno pouco conhecido e há até mesmo quem questione se de facto é um transtorno mental. O número de actos incendiários não é importante, basta um para se fazer o diagnóstico, desde que preencha os critérios.
Todo este intróito do Bula-bula visa simplesmente narrar e reprovar, com todas as letras, o que está a acontecer nas rotundas da Estrada Circular de Maputo. Ao que tudo indica, os “pirómanos” tomaram conta da estrada. A diferença é que não incendeiam o asfalto. Mas não deixam de ser cruéis, quase bárbaros.
O que se passa naquela via faz lembrar um certo chefe de família que presenteou o seu agregado com uns lindos sofás, conseguidos depois de vários meses de lutas duras num emprego movediço. Porém, pouco depois, o filho mais novo quis entender o que há por dentro dos assentos que faz com que se tornem fofos. Com uma lâmina, o Júnior fez cortes aqui e ali e extraiu parte do algodão e esponja. Coisa de criança, mas há adultos assim. De barba rija.
No caso da Estrada Circular, que ainda não foi inaugurada, os acidentes de viação são, infelizmente, infalíveis nas noites e madrugadas de sexta-feira, sábados e domingos. Para preveni-los, os empreiteiros decidiram comprar e colar reflectores para que os automobilistas ao regressarem da farra, onde fatalmente álcool não faltou e, por conseguinte, as pálpebras pesam-lhes toneladas, pudessem abrir um olho para evitar embater violentamente naqueles obstáculos. Mas o que é que está a acontecer?
Bom, não é necessário ser bruxo para dar com a resposta. Uns tipos sem um pingo de moral têm estado a arrancar na cala da noite os autocolantes reflectores. Sabem para quê? Para que a probabilidade de ocorrência de acidentes de viação seja maior. Só isso. Um exercício infeliz, diabólico e desgraçado.
Conseguido o objectivo de fertilizar a ocorrência de acidentes de viação (fertilização “in vitro”), os que se dedicam ao roubo de reflectores ficam à espera das vítimas. Se estas estiverem bem aleijadas (melhor), no lugar de socorrê-las, surgem que nem abutres para espoliar os bens das vítimas. Veja-se ao que chegámos!
Abutre é o nome vulgar dado às aves accipitriformes da família Accipitridae, de hábitos necrófagos e simboliza a morte na cultura Maia e o ladrão, cá entre nós, é a mais viva representação da morte por nos arruinar o sossego, espoliar-nos os bens conseguidos com bastante suor e lágrimas, e, muitas vezes, não poupar a vida da vítima por uma carteira com parcas moedas, um telemóvel sem crédito, um relógio.
Bula-bula começa a perder a faculdade de se indignar porque de cada vez que o sol raia assiste, impotente, a mais um recorde olímpico de maldade.
Verdade como o céu ser azul, as enfermarias de Ortopedia e não só vêem aumentar o número de vítimas de acidentes de viação que os “pirómanos” das rotundas estimulam o recrudescer dessa infeliz estatística. Está a faltar juízo em muitas cabeças.