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Cooperação projectada para o futuro

Por admin

O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, esteve esta semana em Moçambique, naquilo que foi a primeira visita a um país fora da Europa depois da sua tomada de posse há cerca de dois meses.

É de facto de grande importância e consideração, o facto de o novo Chefe de Estado português ter escolhido o nosso país como o primeiro a visitar fora do território europeu.

O Presidente Nyusi, no discurso que proferiu no banquete em honra do presidente português intitulado “Moçambique-Portugal: Tudo o que consolida o passado, constrói o presente e desenha o futuro” afirmou que esta escolha fica a dever-se ao facto de Moçambique e os moçambicanos terem um lugar muito especial entre o povo português e, particularmente, na agenda de trabalhos de Marcelo Rebelo de Sousa. Recorde-se que ele conheceu este país quando o seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, era governador-geral de Moçambique, nos finais da década 60.

Dirão alguns, mais pragmáticos, que não bastam afectos para construir uma cooperação. Os afectos não bastam. Mas se eles existem e se existe na dimensão que é a da nossa história, então esses criam uma vizinhança que vai bem para além da geografia e das circunstâncias do momento”, elucidou Nyusi.

E Nyusi acrescentou: “essa amizade fundada no Tempo é uma base sólida para maximizar os benefícios da nossa cooperação mútua. O Povo Moçambicano e o Povo Português devem tirar vantagens desta relação secular. E devem saber modernizar e diversificar esses laços que nos ligam. Não ignoramos, Senhor Presidente, o lugar especial que a nossa terra ocupa na sua trajectória de vida. Conhecemos bem o afecto que nutre por esta bela pátria que tem a honra de o acolher na sua primeira visita de Estado ao nosso país e ao nosso Continente. Estamos certos que se recorda com carinho desta terra”.

O Chefe de Estado moçambicano enalteceu o facto de Moçambique e Portugal continuarem hoje a aprofundar uma cooperação económica concebida em bases sólidas e duradouras, por isso “recai sobre nós a responsabilidade de elevar as relações entre Moçambique e Portugal para patamares ainda mais cimeiros, valorizando a confiança que os nossos Povos depositaram e continuam a depositar em nós”.

Por isso, para o domingo, esta visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Moçambique é uma visita de uma personalidade que é mais do que um amigo de Moçambique. Conheceu esta terra antes mesmo de pensar que viria um dia a ser presidente da República. Palmilhou-a nas ocasiões em que cá veio visitar os pais. Conheceu as suas gentes, de quem continua nutrindo muita simpatia, como se viu durante a sua estada.

“Moçambique-Portugal: tudo o que consolida o passado, constrói o presente e desenha o futuro”, porque com Portugal tivemos encontros e desencontros, com Portugal tecemos uma História indelével, forjámos traços da nossa personalidade moçambicana, nunca, porém, quisemos ser portugueses, porque, de facto, não o éramos, apesar de toda uma propaganda maciça do sistema colonial ávido de sugar o melhor da nossa intimidade. Marcas ficaram desses tempos, umas negativas, outras positivas.

Nós, moçambicanos, levamos tempo a conquistar a soberania para mandarmos em nossa casa, e até tivemos de pegar em armas porque o regime colonizador entendia que lhe pertencíamos, como se objecto fôssemos. Tratava-se, porém, de um regime, não de um povo, povo este que nos últimos tempos também andava amordaçado por esse mesmo regime. 

Acontece que os dois povos também se uniram para se libertarem, como referiu o Presidente Nyusi no seu discurso. As guerras de libertação das colónias contribuíram, de forma insofismável, para a libertação do povo português do jugo fascista. Foram lutas irmãs contra o colonial-fascismo.

Por isso, a visita de Marcelo Rebelo de Sousa traduz, na prática, o encontro de irmãos em plena igualdade. É um reforço de duas soberanias que querem e podem auxiliar-se uma à outra, cada qual interpretando os seus destinos e interesses à sua maneira, mas sabendo que podem contar uma com a outra.

Talvez nunca, como agora, o que se deve a um percurso ou processo pacientemente construído, se possa afirmar que as soberanias de Portugal e Moçambique se cimentaram profundamente, reforçadas pela amizade dos seus líderes, cuja cumplicidade testemunhámos.

Somos dependentes uns dos outros, mas temos de ter o poder de escolher as nossas dependências, ou seja, aquelas que são necessárias para o nosso desenvolvimento sustentável sem perigo de se tornarem hegemónicas e flirtarem connosco para nos manipularem em função dos seus interesses. E aqui os amigos verdadeiros, como Marcelo, desempenham um papel de primeiro plano.

E como diria o Chefe do Estado moçambicano: “Moçambique e Portugal continuam hoje a aprofundar uma cooperação económica concebida em bases sólidas e duradouras. Regozijamo-nos, em particular, que Portugal seja o principal gerador externo de emprego, com 28 postos de trabalho por cada milhão de dólares investidos.Encorajamos que esses investimentos incidam na transformação local de produtos primários e apostem cada vez mais em parcerias efectivas com o empresariado moçambicano, partilhando os desafios e os ganhos”.

 

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