A Polícia na cidade de Maputo anunciou esta semana que nos primeiros seis meses deste ano registou menos 400 casos criminais em comparação com igual período do ano passado, mas não jubilou com isso.
É que as estatísticas dizem uma coisa, a realidade no terreno é outra. Por isso, o Comandante Bernardo Rafael determinou que os agentes da corporação devem ficar menos tempo nos gabinetes e nas suas unidades passando o maior tempo da sua actividade no terreno, interagindo com a população, de modo a estar a par das suas preocupações e encontrar soluções.
De facto, a situação de criminalidade em muitos dos bairros da cidade e província de Maputo requer atenção redobrada, não só dos agentes da Polícia, como também uma accão reactiva da própria população que deve tomar algumas medidas para se proteger dos criminosos, como reforço de solidariedade entre vizinhos, vigilância cerrada e denúncia dos malfeitores às autoridades.
Assim, reforçar a solidariedade nas nossas comunidades é onde teremos impreterivelmente de desaguar para assustar os gatunos que estão cada vez mais ousados um pouco por todos os bairros do país, sobretudo nos subúrbios, e paulatinamente vão impondo a lei do mais forte.
Estamos cientes que a população, apesar de contar com os préstimos da Polícia da República de Moçambique (PRM), estará quase sempre em inferioridade bélica, pois as suas armas “mais letais” são apitos e gritarias enquanto os larápios ostentam catanas, chaves de fenda, pé de cabra e, por vezes, pistolas e AK-47.
A violência protagonizada pelos malfeitores empurram-nos para um beco cuja saída é apenas esta: vizinhos esquecerem da sua rivalidade ou inimizade, porque um é aparentemente mais bem sucedido que outro, e todos saírem em auxílio mútuo, porque como diz o velho ditado “hoje sou eu, mas amanhã poderá ser você”.
Em alguns bairros já se dorme em turnos, organizam-se patrulhas de vigilância, porque ninguém sabe quando os malfeitores vão chegar em grupo de oito ou dez indivíduos e após arrombarem as grades das portas e janelas e se terem introduzido no interior das casas vão acordar os donos para lhes exibir dinheiro, cartões de banco e respectivos PIN´s, smartphones, tabletes, computadores e plasmas.
Do alto do seu ego e atrevimento, agora deslizaram para o mais vil: além de roubar, agredir com barras de ferro e outros objectos contundentes, violam mulheres, por vezes diante do esposo e filhos, sem que estes tenham a mínima chance de esboçar um gesto ténue de defesa.
E é aqui onde as coisas ficam mais intricadas para os cônjuges. Começam ou agudizam-se as desavenças entre os membros da família. Recorda-se que se a casa tivesse sido gradeada quando a esposa pediu, nada daquilo teria acontecido.
O casal arrepende-se de não ter comprado um pitbull para afugentar os destemidos ladrões quando um amigo lhes sugeriu a ideia. Lembra-se do vidro partido da janela da casa de banho, que nunca mais foi substituído e por onde os ladrões se introduziram. Enfim, lembram-se de tudo, mais alguma coisa.
Facto é que a Polícia da República de Moçambique (PRM) terá de encontrar outra forma de abordar esta onda de criminalidade, pois os bandidos parecem conhecer os bairros onde o efectivo é curto e sem os meios necessários de locomoção disponíveis para polícia. Conhecem a rota de patrulhamento e zonas sem patrulhamento nenhum, por ai em diante.
No que toca à organização e convívio social nos bairros, e embora haja quem torça o nariz quando o chefe do quarteirão ou de dez casas questiona a identidade, proveniência e profissão de uma cara nova na zona, consideramos que isso é um bom filtro para se saber algo sobre os indivíduos estranhos que circulam nos nossos bairros.
Perdemos todos quando ninguém questiona ninguém, mas ficamos, depois, todos de boca aberta quando as sirenes dos carros da polícia sibilam mesmo ao lado da nossa casa e minutos depois somos confrontados com uma dura realidade: afinal o vizinho é bandido e a sua residência funcionava como cativeiro de raptos.
Com tudo isto, não pretendemos que as comunidades, os grupos de vigilância, substituam a PRM porque a ela cabe a tranquilidade e segurança públicas dos cidadãos para que ao nascer do dia possam estar suficientemente descansados, tranquilos e aptos para mais uma longa e dura jornada de trabalho, num período que o país precisa que todos os cidadãos trabalhem arduamente.
Entendemos que nas fileiras da PRM deve continuar a purga dos elementos que não dignificam a corporação e haja mão pesada e pesadíssima para aqueles que ousam alugar pistolas, como se diz, a troco de tostões, ou para os indisciplinados que muitas vezes trabalham embriagados ou se envolvem em extorsões aos cidadãos.
Apitos são artefactos de quase pouca utilidade em presença de homens catanas ou munidos de pistolas, mas a massa humana, organizada e que se bate pelos seus bens assusta o mais atrevido dos facínoras.
Há que erguer barreiras mentais em todos os nossos bairros para que os bandidos pensem três vezes antes de se aventurar em mais uma triste epopeia. Mas, atenção, não somos apologistas da justiça pelas próprias mãos. Há órgãos da justiça para o efeito. Entreguemos os criminosos a quem de direito.