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Alunos assistem às aulas sujeitos ao frio e poeiras

Por admin

Trinta e quatro turmas da Escola Primária Completa 12 de Outubro, localizada em Nkobe, município da Matola recebem aulas em condições lastimáveis. Algumas destas estudam praticamente coladas à estrada, num espaço sem vedação, com alunos sentados no chão, sujeitos a poeiras, intempéries e à dispersão de atenção devido ao movimento desusado da via pública.

domingo esteve, semana finda, naquela instituição de ensino e conversou com professores, alunos e a direcção da escola. A tónica do discurso gira em torno de lamentações pelas condições precárias em que se processa o ensino e aprendizagem.

Para além das turmas que funcionam no chão, ao lado da estrada, sem nenhuma protecção, várias outras se juntam debaixo das árvores.

Facto agravante é que, na mesma área, são acomodadas duas ou três turmas, com os respectivos professores, sendo que as aulas decorrem concomitantemente, obrigando, portanto, o educador a um exercício, quase impossível, de prender a atenção dos seus alunos.

Outrossim, trata-se de classes numerosas, de oitenta alunos, em média, o que torna a situação mais difícil de gerir.

Conforme vê, é um desafio trabalhar nestas condições, as crianças estão sujeitas a várias situações que dispersam a sua atenção. Por aqui circulam pessoas e veículos”, diz-nos Carlitos Nhamposse, professor, há sete anos.

Ainda assim, “na medida do possível vimos trabalhando. Tenho oitenta crianças, o que me obriga a adoptar estratégias de ensino, de forma a obter resultados satisfatórios ao final do ano lectivo”.

Assim sendo, as aulas decorrem de forma desenrascada, e são vários os factores que interferem negativamente no processo de ensino e aprendizagem. “Quando há intempéries ou nos juntamos com as turmas que recebem aulas em salas apropriadas ou paramos. Quando chove durante uma semana, ficamos uma semana sem aulas”, afirma Carlitos Nhamposse.

Estes factos foram confirmados por Maria Fernanda, professora há seis anos. Esta educadora certifica que a atenção das crianças fica prejudicada, facto que poderia ser amenizado “se ao menos existisse aqui uma vedação”. Na realidade, “estamos expostos; praticamente na rua, uma vez que vivemos o movimento que lá acontece”. Evidentemente, “isto interfere no aproveitamento dos alunos. E tem mais: o facto de se sentarem no chão, sem uma tábua que sirva de  apoio nos momentos de escrita, interfere, a seu tempo, na caligrafia”.

Os alunos sujeitos a essas condições apresentam as suas queixas, cientes das precariedades: “não gostamos, mas mesmo não tendo salas, nem carteiras não podemos deixar de estudar”, quem o diz é António Fabião, de onze anos, aluno da quarta classe na EPC 12 de Outubro.

De qualquer forma, António não deixou de nomear as dificuldades por que passa: “não consigo escrever perfeitamente por nos sentarmos no chão”. Outro entrave tem a ver com questões climáticas, “entro às seis e trinta. Neste tempo em que faz muito frio, dificilmente consigo pegar na caneta, tremo muito. Quando chove, não estudamos, os professores mandam-nos voltar para casa”, revela o aluno.

Os empecilhos aqui apresentados desagradam Stela Moisés, de dez anos, aluna da quinta classe. “Não gosto de estudar aqui fora e sentada no chão. Sinto muito frio, a minha mão fica gelada e não consigo escrever”. E uma vez que se encontram a pouquíssimos metros da estrada, a curiosidade típica de menores de idade, leva-as a virarem as cabeças, em plena aula, com o intuito de estar a par do que acontecem na via pública: “eu olho, porque gosto de ver os tipos de carros que por aqui passam”, argumenta.

JÁ SE TENTOU BUSCAR APOIOS

Armando Nhabanga, director da EPC 12 de Outubro

A direcção está ciente das dificuldades, já tentou buscar apoios, inclusive ensaiou uma acção em coordenação com os pais e encarregados de educação, de maneira a estender o número de salas, mas redundou num fracasso”, refere Armando Nhabanga, director da EPC 12 de Outubro, em conversa com o domingo.

Esta instituição de ensino funciona com cinco mil e noventa e sete alunos, tem catorze salas de aula, e trinta e quatro turmas a funcionar ao ar livre ou debaixo de árvores, sendo que a média por turma é de oitenta alunos, contra “cinquenta e cinco, que seria um número sustentável”, considera Nhabanga.

É que nas circunstâncias em que encontram “é difícil gerir a aula, principalmente lá fora, onde se vê e se ouve pessoas a passarem pela rua gritando, inclusive, para anunciar produtos à venda”.

Como consequência, “assume-se a existência de uma diferença em termos de aproveitamento entre os alunos que recebem aulas no chão, fora das salas de aula, e os que estão em condições minimamente aceitáveis”.

O director da EPC 12 de Outubro, lança, portanto, um apelo “a quem nos possa ajudar no sentido de, o mais urgente possível, fazermos pelo menos a vedação”.

Conforme avança, o modelo de acção traçado no ano passado consistia em cada pai contribuir com dois blocos e 10 meticais; mais tarde, pela conjuntura económica, o valor monetário subiu para trinta meticais, ainda durante aquele período.

Actualmente, “subimos para cinquenta e contamos com o apoio de toda a comunidade, contrariamente ao que ocorreu em 2015, quando não conseguimos concluir com sucesso o nosso plano”, concluiu António Nhabanga.

Texto de Carol Banze
carolbanze@snotícias.co.mz

 

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