O Governo de Moçambique – aquele saído das últimas eleições – indicou a composição para a Comissão Mista que tem por missão preparar o caminho para o Presidente da República, Filipe Nyusi, e Afonso Dhlakama, da Renamo, encontrarem-se. A Renamo também indicou os seus representantes para a tal comissão. Bom. Agradável de ouvir depois de tantos estampidos de armas no Centro e Norte do país.
Bula bula acredita que um bom número de moçambicanos respirou de alívio. Os sinais de que o vento – daquele bom – estava a começar a soprar animou a tanta gente. Finalmente a coisa ia levantar voo. Os sinais de que a Democracia ia vingar estavam ali a vista!
Sim a vista mas – reza a sabedoria africana – a chuva bate a pele de um leopardo, mas não tira suas manchas. E foi isso que aconteceu. Os filhos do pai da democracia voltaram a falhar nos pormenores. Se o chefe diz-se ameaçado pelas FDS lá em Santinjira e tem necessidade de dar uns tiros aqui e ali, os que estão no ar condicionado e com direito a fazer compras nos shopings, decidiram também andar aos tiros. Os alvos, aqui já são outros: os Media!
Bem mesmo. Agora há os bons e os maus. Os que podem veicular informações atinentes à Renamo e os que estão liminarmente proibidos. Isso mesmo. Criou-se uma lista negra. De pessoas indesejáveis.
A Televisão de Moçambique (TVM), como se sabe, é um canal nacional. Está praticamente em todo o país. Goste-se ou não. Ora, excluir a TVM de qualquer assunto que se entenda como nacional é, no mínimo, caricato… a menos que se pense que toda a gente tem acesso aos canais internacionais – o tal pensamento de que o que é estrangeiro é sempre bom…
Ora a Renamo – filiação partidária do Pai da Democracia – entendeu que numa teleconferência com o líder lá da parte incerta alguns órgãos de comunicação social não deveriam participar. Fez, pelo que se percebeu depois, uma selecção criteriosa de quem podia ou não participar da dita cuja.
A TVM, por portas e travessas, soube da tal teleconferência e tratou de despachar uma equipa para o local; afinal tudo o que diz respeito a Renamo, diz respeito ao povo moçambicano. Coitados dos tipos da TVM. Foram barrados. Fazem parte de uma lista de “não elegíveis”. Eles e outros tantos.
Bula bula, também não foi tido nem achado para essa tal da teleconferência. O certo é que não sabe se faz parte da lista negra da Renamo… mas isso não é o mais importante porque sendo omnipresente Bula bula acaba sabendo das coisas…
E desta vez nem foi preciso transpirar tanto saber… a própria TVM mostrou tudo o que aconteceu na tal teleconferência… vimos o bom do Muchanga a dizer para o chefe: “estão aqui a Lusa, a RTP-Africa, Miramar, etc. etc. “
Foi também interessante ouvir, lá parte incerta, o Pai da Democracia dizer, mais ou menos assim: “epa. Isto está mal. Vejo as FADM aqui na área. Tem chineses, tanzanianos, angolanos nas FDS. Não sei porquê estão a atacar-me. Nós somos família. Não se justificam esses ataques enquanto já indiquei nomes para a comissão mista”.
Bula bulaficou mudo. Balas de um lado, tem justificação. Quando são do outro, ai já não colhem consensos. Fazem mal. São perigosas. Essa coisa de democracia tem muito que se diga. A inimitável sabedoria africana diz claramente que se sua língua transformar-se em uma faca, cortará sua boca. É isso. Para a Perdiz a democracia e a liberdade do povo dependem de quem tem o martelo. Mais ou menos do tipo: a teleconferência é minha e eu escolho quem pode cobrir.
Resumindo, se só tens acesso à TVM em casa, ficarás sem saber o que é que se passa no teu país porque os descendentes do Pai da Democracia assim o querem… logo eles que falam sempre do povo… povo esse a quem agora negam o Direito de Informação. Uma sociedade não pode avançar desta maneira. Queremos mudanças mas não queremos mudar. Reclamamos isto e aquilo e, para que isso aconteça, queremos que sejam os outros a garantir que isso aconteça.