Rezam as crónicas da humanidade que, há muito, muito tempo mesmo, os animais “falavam” e não raras vezes fizeram trinta por uma para tramar os seus eternos adversários conhecidos como os humanos. Isso foi há bastante tempo…
Pois bem… em Moçambique, mais precisamente na Ilha de Inhaca, esses tempos voltaram. Os animais “irracionais” recuperaram as suas faculdades e estão a semear confusão naquela ilha. E que confusão… pior, a coisa até envolve o Presidente da República, como se este já não tivesse problemas com gente que prefere ficar em lugar incerto!
Mas vamos por partes. A história tem já muitos anos. Em mil e novecentos e tal, um casal de corvos indianos aportou a Ilha de Inhaca. O território, então semi-habitado, oferecia condições mais do que propícias para procriar e ocupar espaço. Rapidamente, o casal fez filhos, teve netos e depois bisnetos e por ai adiante… a família cresceu na mesma proporção que os humanos iam ocupando a terra.
Ocupa aqui, ocupa ali, o conflito instalou-se. Os humanos, como é da sua natureza, começaram a reclamar que a Ilha lhes pertencia. O mesmo fizeram os corvos e, para mostrar que não estavam para brincadeiras, reproduziram-se ainda mais. De milhares passaram para muitos milhares. Os humanos não conseguiram competir no quesito reprodução. O espaço tornou-se pequenino. O convívio impossível. Os corvos começaram a invadir o território dos humanos. Passaram a ser acusados de larápios, entre outros epítetos.
Calhou que o Chefe Estado, Filipe Nyusi, visitou há pouco mais de um mês aquela ilha. Os habitantes trataram de queixar-se. Que os corvos não lhes davam sossego. Era preciso resolver-se o problema senão a coisa ia ficar mesmo preta. O presidente, usando da sua experiência – não nos esqueçamos que passou pelo pelouro da defesa – mandou reduzir o número de aves (corvos) para restaurar o equilíbrio ecológico e também sossegar as almas dos habitantes da ilha.
Ordem dada. Missão executada com zelo por um especialista no assunto. O referido especialista empenhou-se de tal forma que o corvo viu-se à nora. Estava claramente a perder a batalha. Então o chefe dos corvos lembrou-se das fragilidades do homem e iniciou uma forte campanha de sensibilização junto dos humanos residentes de Inhaca para encetarem uma manifestação de rua. Garantiu-lhes que ia conseguir um financiamento estrangeiro para o efeito. Disse (aos ilhéus, humanos) que podiam ganhar algum dinheiro com a morte dos corvos afinal seus vizinhos.
“Esse tipo que está aqui a matar-nos e está a ganhar dinheiro. Vocês não. Por cada um dos meus familiares (corvos) que ele mata, ele recebe. E Vocês? Noutras partes deste país, quando alguém perde uma árvore ou é obrigado a mudar de residência por causa do Estado, é indemnizado. É altura de vocês exigirem uma compensação pela morte dos meus queridos corvos”, disse o Corvo Rei.
Resultado: a população agora quer ser indemnizada pela morte dos corvos que ela mesma reclamou estar a criar confusão. Os ilhéus querem receber algum taco pelos corvos mortos. Fala-se de 50 meticais por cada corvo abatido. Como o especialista abatia entre 50 a 60 corvos por dia, esfregaram de contente as mãos e foram tirar satisfações ao técnico de vida selvagem e especialista em tiros certeiros contra aves pavorosas. Pressionado, bateu em retirada. Os corvos ganharam a batalha e estão outra vez a recuperar terrreno. Parece que agora estão a reproduzir-se a todo vapor…
Os humanos, uma vez mais, traídos pela própria ganância lixaram-se. Os animais parece que voltaram a falar e, aproveitando-se da febre do momento de greves por tudo e por nada, reforçada por whatsapps, facebooks e quenjados, mostraram que há muita gente que só tem cabeça para separar as orelhas.
Bula- bulaestá agora expectante: como é que o Chefe de Estado vai resolver este pepino?