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Madeireiros mudam de ramo por causa da crise

Por admin

O mercado asiático, principal destino dos produtos explorados nas florestas do nosso país, em particular da região norte e centro, está em crise devido ao excesso de stock e a recessão financeira que afecta negativamente algumas economias. Como resultado, as empresas, sobretudo de capitais chineses, que comercializavam os produtos madeireiros encerraram ou foram forçadas de mudar de actividade e a sua força de trabalho, maioritariamente local, foi sacrificada.

Os operadores florestais nacionais que fazem o corte da madeira para venderem a empresas asiáticas, muitas delas de origem chinesa, não escaparam à crise que o sector está a atravessar neste momento. A alternativa encontrada por aqueles foi de apostar no processamento interno da madeira para os mais variados fins e identificação de mercado para sua absorção local.

A nossa reportagem está na posse de informações que apontam que um banco de investimentos da Republica Popular da China, que financiava cidadãos daquele país asiático para efectuarem negócios, sobretudo no continente africano, e no ramo da madeira em particular, cortou há cerca de um ano a concessão de créditos aos seus concidadãos.

Esta decisão foi tomada precisamente quando a China já se encontrava num estágio de saturação ao nível do mercado de produtos madeireiros importados de Africa sem que estivessem na sua maioria processados.

EXPORTADORES

MUDAM DE ACTIVIDADE

Cerca de vinte empresas de capitais chineses que operavam a partir da cidade de Nacala-Porto, em Nampula, foram forçadas a encerrar as suas actividades focalizadas na comercialização e processamento primário da madeira destinada a exportação e apostar noutras acções capazes de gerar lucros.

Duas das 22 empresas de capitais chineses cujos gestores ainda se encontram em Nacala-Porto passaram a importar pneus usados, assessórios de veículos pesados e articulados para colocação no mercado interno. Para colocação no mercado internacional as mesmas viraram as suas atenções para comercialização de pescado em particular do atum, amendoim e plantas com efeito medicinal com principal enfoque para a moringa.

Francisco Matola, gerente da Lan Hai, empresa chinesa que há cerca de ano e meio deixou de comprar madeira em toros de operadores florestais nacionais, disse que sentiu-se forçada a despedir 20 trabalhadores efectivos porque já não havia mercado assegurado na China para colocação da madeira adquirida na região norte do país.

"Estamos a resistir ao choque do mercado internacional da madeira que está saturado, desenvolvendo actividades que consideramos fortes para gerar receitas para garantir a nossa sobrevivência. Se a crise persistir, até final de março de 2016, vamos identificar mais actividades alternativas à compra e venda de madeira que deixou de constituir negócio", disse Francisco Matola.

A madeira das espécies chanfuta, jambiri, pau-rosa, umbila entre outras que eram comercializadas nos estaleiros que a Lan Hai possui em Nacala-Porto eram exportadas a partir do porto local para as cidades chinesas de Shangai, Han Phu e Mao Mim onde sobressaiam na competição que eram sujeitas com outros produtos florestais provenientes de vários países do continente africano segundo o entrevistado.

DE VOLTA AO

MERCADO INTERNO

Dados fornecidos à nossa reportagem pelos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia (SPFFB), na Direcção Provincial de Agricultura e Segurança Alimentar (DPASA) de Nampula indicam que a região conta com um total de 87 operadores florestais em regime de Licença Simples e concecionários.

Luís Sande, chefe dos SPFFB de Nampula precisou que há uma redução dos pedidos de emissão de licenças para exploração de madeira que reflecte o quão é significativa a crise que se vive no mercado internacional.

Cebo Amade, operador florestal baseado na cidade de Nacala-Porto, não faz o abate das espécies florestais na sua área há mais de um ano e explica que a decisão de interrupção se deve ao facto as empresas chinesas que garantiam a compra da madeira em toro terem declarado indisponibilidade financeira para efectuar as compras.

"As empresas começaram por reduzir o preço de compra de cinco mil meticais para dois o metro cubico de madeira alegadamente por falta de recursos e mercado para colocação e quando vimos que a situação estava a conhecer um agravamento abandonamos o negócio de venda de toros, sendo que agora a aposta é o mercado interno que mostra-se favorável em termos de preços", disse Cebo.

O nosso interlocutor é um de cerca de trinta operadores florestais que optaram em adquirir ou investir na reparação de maquinarias para apetrechar as suas unidades de carpintaria e mercenaria para processamento da madeira para garantir a disponibilidade de madeira para produção de mobiliário incluindo materiais de construção nomeadamente portas, janelas e respectivos aros, carteiras escolares entre outros bens.

"Conto actualmente com equipamentos de mercenária adquiridos recentemente em Portugal e brevemente espero receber mais chariós para processar com mais celeridade e eficiência a madeira cujo corte os meus 40 trabalhadores fazem na floresta. Produzimos na carpintaria produtos de madeira que são colocados maioritariamente na cidade de Maputo e estou a fazer prospeção no mercado dos países vizinhos como Africa do Sul, Malawi e Zimbabwe porque qualidade é o que perseguimos constantemente”, disse.

Cebo Amade emprega actualmente cerca de cinquenta trabalhadores nas várias subunidades da sua empresa que sonha conquistar o mercado local com os seus produtos que procura diversificar os padrões com recurso a modelos de países desenvolvidos ou em vias na indústria de construção civil e de mobiliário entre eles Portugal, brasil, Itália.

Precisou que a actual crise de mercado de madeira despertou nele o patriotismo e, como empreendedor, a necessidade de garantir emprego aos seus concidadãos. "Os operadores asiáticos estavam a promover oportunidade de emprego para o seu país a custa dos nossos recursos e acho que devemos aprender desta lição que os nossos recursos são para alavancar a nossa economia”, ajuntou.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Um posto de saúde construído no distrito de Mecuburi e cinco escolas do ensino básico do primeiro grau em Memba, província de Nampula vão entrar em funcionamento a partir de Fevereiro deste ano (2016). São edifícios que neste momento estão na fase de apetrechamento em mobiliário respectivamente bancos e carteiras cujo custo incluindo da construção foi suportado por dois operadores florestais baseados na cidade de Nacala-Porto nomeadamente Cebo Amade e Matinga Augusto.

Cebo Amade disse que construiu o posto de saúde na localidade sede de Mecuburi por ser natural daquele distrito onde os cuidados sanitários não são abrangentes na sua óptica o que força as populações a ter de percorrer acima de dez quilómetros para aceder para beneficiar de cuidados.

Por seu turno Matinga Augusto justifica a construção de cinco escolas com três salas de aulas cada no posto administrativo de Lúrio, distrito de Memba, pelo facto de ser a região onde explora recursos florestais através dos quais garante o seu sustento e de mais de trinta colaboradores entre motoristas, operadores de máquina e cortadores.

A fonte que já alocou 150 carteiras para de um total de 300 que prometeu oferecer para equipar as salas de aulas construídas, alegou que quer deixar um sinal no posto de Lúrio como recompensa a comunidade local que considera ser prestimosa no trabalho que juntos tem desenvolvido no corte e gestão dos recursos florestais contra acção dos furtivos.

Matinga Augusto está em vistas de concluir o processo de implantação de uma serração em Nacala-Porto e projecta apoios a Escola Primaria Completa de Pavala, no posto de Lúrio, o qual vai se traduzir na alocação de carteiras para colmatar a falta daquele mobiliário que se verifica em algumas salas. Aquele operador florestal apoia a EPC de Pavala em equipamento desportivo nomeadamente chuteiras, calções e camisolas para a equipa de futebol.

MADEIRA ESCASSEIA

E REFLORESTAMENTO AVANÇA

A província de Nampula está a registar em algumas regiões a escassez de algumas espécies florestais com valor comercial facto que se pressupõe tenha origem na sua elevada taxa de exploração. Como medida de contenção está em marcha m processo de multiplicação de plantas de espécies nativas e fruteiras para garantir o reflorestamento ao nível da província.

Luís Sande, chefe do serviço de florestas e fauna bravia na DPASA em Nampula, destacou que nos viveiros de Nassuruma em Meconta e de Monapo, existe um número considerável e plantas nativas com alto valor comercial cujo processo de seleção visando o seu transporte para as regiões escolhidas está neste momento em curso para garantir o início do processo de reflorestamento na província.

Relatos de operadores florestais em Nampula apontam que a chanfuta e o pau-ferro são duas espécies que já começam a rarear nas florestas daquela província o que revela a necessidade de se iniciar um programa de reflorestamento com procedimentos que possam garantir o seu sucesso.

Luís Sande disse que o mês de Dezembro que marca o arranque da época chuvosa sem interrupções até o final da mesma entre Maio e Junho será caracterizado por plantio de árvores de espécies de valor comercial sendo que as comunidades terão um papel de destaque neste processo que será orientado por técnicos do seu sector

O plantio de espécies nativas vai cobrir uma área total de 250 hectares na fase prestes a iniciar e anualmente a área será cada vez maior na medida que os níveis de organização estarão aprimorados. Relativamente as espécies exóticas a fonte explicou que a Lúrio Green, empresa de reflorestamento com actividades em Nampula está a proceder o reflorestamento em vários distritos do oeste da província com enfoque em Mecuburi, Rapale e Ribáuè.

Outros 150 hectares serão usados para fazer o plantio de fruteiras porque na óptica do nosso entrevistado é preciso cruzar a saúde nutricional com os projectos de geração de rendimento.

Luís Sande defende que a província devia declarar a proibição por um período considerável do corte do pau-preto em razão da sua escassez neste momento ser muito acentuada. No entanto é preciso redobrar esforços no âmbito da fiscalização para garantir o cumprimento das medidas de protecção das espécies com elevada taxa de exploração segundo o interlocutor.

Regina Manuel

 

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