No dia 22 de Maio de 1997, eu e o meu colega fotógrafo, Carlos Bernardo, experimentamos uma “odisseia” no planalto dos Makondes, muito precisamente no distrito de Muidumbe.
Tínhamos a missão de trazer uma reportagem sobre a Base Central dos guerrilheiros da Frelimo, ali onde tudo foi planeado para trazer a Independência Nacional.
Tivemos o azar de o filho do falecido Macuba, um “chapeiro” da aldeia de Matambalale, ter-nos aldrabado ao prometer que, depois de nos deixar em Muatide viria buscar-nos por volta das 17 horas, altura em que pensávamos que teríamos feito a outra distância (ida e volta), de cerca de 13 quilómetros, a pé, porque para a aldeia de Naunde, onde se localiza a base, não havia estrada que aceitasse uma viatura.
O filho de Macuba, depois de o convencermos a nos levar a partir da vila de Mueda e buscar em Muatide e tendo recebido o valor correspondente com o extra sob a chancela de aluguer, pura e simplesmente não se fez ao local combinado, nem mandou alguém com o seu Isuzu-amarelo, caixa aberta, com a chapa de matrícula, MPA-10-70. Burlou-nos, como ainda não era comum entre as pessoas da sua etnia.
Já noite, devíamos infalivelmente regressar a vila de Mueda, mais porque o Bernardo tinha tempos muito apertados para regressar a Maputo. Outro factor foi termos sido confundidos com simpatizantes da Renamo, dado que no compasso de espera perguntamos pela localização da sede daquele partido, pois queríamos algumas palavras de um possível representante da perdiz em plena ex- zona libertada da Frente de Libertação de Moçambique.
Foi suficiente para sermos aconselhados a retirarmo-nos de Muidumbe, onde então não se podia ouvir a palavra Renamo e todas as outras que fazem parte da semântica ideológica e política daquela formação política. Não bastava termos dito que éramos jornalistas!
Foi por isso que uns bons rapazes, entre eles, o Raul, ofereceram-se a acompa nhar-nos a Mueda, a pé, perto de 60 quilómetros, o mais depressa possivel e, em Matambalale (aldeia de Macuba), já no crepúsculo, vimos ao longe uma casa a arder. Bernardo Carlos pôs-se a correr para tirar as imagens. E quando quisemos saber da causa, disseram-nos: é o dono da casa que ateaou fogo, fumou soruma! As pessoas que haviam ido socorrer voltavam desmoralizadas e a notícia ainda se podia fazer, mas em jeito de crónica e a imagem publicada na página 5 de então, sem legenda.
O fumar soruma para queimar a sua própria casa, deu algumas gargalhadas, poorque a propriedade era sua. Hoje só se pode comparar com reunir tanta força humana e toca a fazer uma cratera numa estrada asfaltada, como o que aconteceu em Honde, distrito de Báruè, em Manica. Aquilo deve ser soruma. Aquilo lembra garimpeiros ilegais em Namanhumbir quando eram eles a mandar, mas depois de doses valentes de soruma.
Fumar soruma para reunir forças que viabilizem a destruição duma obra pública, fumar soruma para destruir o país que se quer, por reivindicação, governar. Fumar soruma para dinamitar a pátria. Essa soruma tem um nome, tem gente à volta de um ideal, mas não é fácil concordar que haja soruma patriótica…
Pedro Nacuo
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