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GERAÇÃO SEM REFERÊNCIAS = GERAÇÃO FAZ- DE- CONTA

Por admin

Não choreis o morto, nem o lastimeis; (…) porque nunca mais tornará, nem verá a terra onde nasceu Jeremias 22:10

Passa um ano, (Maio do ano passado), escrevi nesta mesma coluna, sobre o mesmíssimo assunto: Cerimónias fúnebres longas e elogios inúteis aos mortos. Novamente, semana passada, durante dois dias, voltei a viver problemas desta vez de quase indiferença em relação a um morto, e exagerada devoção ao outro: duas situações antagónicas. Foi na Sexta-feira e no sábado passados, que participei em duas cerimónias fúnebres em momentos diferentes. A primeira (sexta-feira), fui despedir-me pela última vez de um dos meus amigos de infância, o Abdul Majid, (que sempre explicou-me que o seu nome significa Servo do Glorioso). Devoto e convicto muçulmano, sem ser, no entanto fanático, desde muito novo acalentou o sonho de conhecer a cidade Santa de Meca, (Makkah em árabe). Ensinou-me que, de acordo com o Livro Sagrado dos Muçulmanos, o Alcorão, (Corão), a peregrinação à cidade santa de Meca é uma obrigação somente para aquelas pessoas que atingiram a puberdade, mentalmente sãs, física e financeiramente capazes para empreender tal viagem. Considerada como o último dos "Cinco pilares do Islamismo" (arkan), é obrigatória, pelo menos uma vez na vida. Rezam as regras da religião do meu falecido amigo que, o peregrino só deve empreender a Hajj após saldadas todas as suas dívidas com dinheiro lícito, e deixar o sustento suficiente para suprir a necessidade da sua família equivalente ao período para o qual irá ficar fora devido a Peregrinação. Abdul-Magid, foi sempre um Comerciante e Agricultor bem conhecido desde muito jovem lá na nossa terriola. Depois de saldar a dívida que contraíra ao beneficiar do FDD, e investir na cultura de Sete Hectares de mandioca, que rendeu-lhe o suficiente, deixando-o financeiramente folgado. Decidiu materializar o seu sonho de infância. Conhecido na área como honesto e criativo, bom marido de uma só mulher e pai de sete filhos, com os quais preocupou-se em dar-lhes formação superior, neste momento todos a viver em diversas partes do País e fora, era estimado por quase por toda a Comunidade local. Ninguém soube dizer que doença vitimou o meu amigo logo após o seu desembarque no aeroporto de Mavalane de regresso da cidade Santa na noite da Quinta-feira. Sentindo-se mal, foi levado de emergência a uma clínica privada, onde iria perder a vida pela madrugada da Sexta-feira. Logo pela manhã preparou-se o seu funeral numa das Mesquita da cidade e foi a enterrar não na nossa terra como seria de desejar, mas no Cemitério da TEXLON. Estranhamente para mim, que esperava uma avalanche de Mensagens, não houve nenhuma nem dalgum os filhos ali presentes, nem de Hassan seu único irmão. A cerimónia apesar de ser muito concorrida foi simples e rápida (cerca de uma hora). Durante as exéquias ouvi comentários, nos quais se dizia que o falecido era Santo, pois falecera depois de se purificar na cidade santa. Hassan, irmão do meu amigo, muito apegado ao ora falecido, não suportou a perda e durante a noite da Sexta para Sábado, falecera também em casa duma das suas três mulheres. As exéquias de Hassan, ao contrário das do irmão, duraram três horas, e, nelas foram lidas quatro mensagens bem longas, onde se enalteciam as suas boas qualidades humanas, como bom marido para suas três mulheres, apesar de nenhum dos seus treze filhos ter concluído o ensino secundário. Caso para desabafar: a quem afinal se destina o conteúdo das mensagens fúnebres se o morto não as escuta!? Mistério!

Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com

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