“Na multidão dos sonhos há vaidade, assim também nas muitas palavras” Eclesiastes 5:7
Toda a pessoa viva e consciente no mundo carrega consigo os seus sonhos. Desde a antiguidade, até aos dias de hoje, ela (pessoa), segue, nesse seu galope frenético em direcção ao progresso com os seus sonhos. Citando o médico neurologista Austríaco de origem Judia Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud, e pai da psicanálise:“A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos.”Isso porque segundo ele, o sonho é um fenómeno psíquico, um conjunto de ideias e imagens mais ou menos confusas e disparatadas que se apresentam ao espírito durante o Sono. Só que os sonhos, (isso já quanto a mim), são condicionados pelo espaço geográfico onde a pessoa nasceu e reside, e são também, influenciados muitas vezes pela condição financeira da pessoa sonhadora. Por exemplo, enquanto no nosso continente a maior parte das pessoas, dorme com o estômago vazio a clamar pela comida, os seus sonhos surgirão em forma de migalhas de comida, (tipo mandioca, Xima de Karakata ou de milho, água do poço, etc.). De acordo com o Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, (Setembro 2010), o número de pessoas que vive com menos de Um dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo – principalmente no nosso Continente, mais do que duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões, o que equivale a 65% da população. O mesmo Relatório estimava que este número poderia chegar a 420 milhões até o ano passado (2015). Eu digo que, enquanto nós Africanos sonhamos com um bocado de comida e água potável, os Europeus e outros Povos do primeiro mundo, onde o dinheiro é uma espécie de bichinho de estimação, os sonhadores imaginam-se nadando em banheiras doiradas com Jacuzzis de água quente massajando-lhes os corpos. Por ser este meu espaço bastante exíguo, vou direitinho ao assunto: criticar o sonho europeu dos africanos, em particular dos moçambicanos. Apesar de o colonialismo ter-nos deixado já vão para cima de quatro décadas, não obstante, o espectro oufantasma de assimilados europeus continua arraigada nas nossas mentes. Vai daí os nossos sonhos apresentarem-se em forma de anjos brancos. Concretizando: Todo o jovem africano, (rapaz e rapariga), sonha com a obtenção dum Grau Académico, um Emprego num gabinete luxuoso na cidade, (raros são os que sonham com uma Licenciatura, para não falar de Doutoramento mas amanhando a Terra no Campo); um casamento com roupa de marca “Pierre Cardin”. Admito que, embora o uso do traje académico do fim de curso e o vestido de noiva impliquem o respeito e cumprimento de certas regras por se tratar de acontecimentos solenes, onde a obrigatoriedade de se vestirem apropriadamente, (no caso do fim de um curso académico a Beca composta por capelo, acompanhado de pingente que deve ser posicionado do lado esquerdo, símbolo do curso, capa vestida sobre a beca, faixa também sobre a beca na altura da cintura); no caso do casamento fato completo para homens e o respectivo vestido rendilhado para noiva), não obstante esses momentos serem sem dúvida belos, por permitir aos “protagonistas”, compartilharem a alegria com os entes queridos, assim como forma de expressarem o reconhecimento daqueles que de alguma forma contribuíram para a materialização dos seus sonhos, mesmo assim, continuo a dizer que devíamos sonhar Africanamente. Como!? Boa pergunta. Confeccionando a nossa Beca, Fato e Vestido de Noiva com os nossos tecidos tipo “Kapulana”, evitando despesas supérfluas, e conquistando a nossa auto-estima. Vejamos o exemplo do casamento duma europeia: Uma estudante Moscovita de 20 anos Khadija Uzhakhova, que se casou recentemente com Said Gutseriev, filho do oligarca Russo Mikhail Gutseriev, importou de Paris, um exuberante vestido de noiva pesando cerca de 25lb que custou qualquer coisa como £18.000, (para subir ao altar precisou de ajuda de quatro pessoas!) e todo esse aparato para ser exibido durante algumas horas. Onde iremos nós com essas imitações? Vamos lá sonhar deitados na esteira e com os pés no chão Africano: africanamente! Sonhei mal!?
Kandiyane Wa Matuva Kandiya
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