Quando ouvi o governador de Nampula a afirmar que o distrito de Lalaúa havia atingido uma produção quase histórica na campanha agrícola ora terminada, não me tinha impressionado à primeira, porque aquele distrito está habituado a ter os seus celeiros repletos de produtos agrícolas que apodrecem, ano após ano, por falta de escoamento dos seus excedentes para os mercados consumidores daquilo que sai das mãos laboriosas daquela população.
Não tinha a dimensão da mensagem governamental, até que no dia 4 deste mês fiz-me ao posto administrativo de Méti, o tal que reclama o estatuto de distrito por entender que a penúria a que está votado, deve-se essencialmente ao facto de pertencer ao distrito de Lalaua, que lhe fica mais afastado da capital provincial, do que se tivesse um contacto directo.
Os residentes explicam que é mais fácil ir a cidade de Nampula evitando passar pela sede do distrito, escolhendo por isso a via de Namecuna (Malema) ou ainda mais recentemente, por Mecutuni, na região de prospecção de ferro.
Tudo porque a estrada que liga Lalaúa a Méti, é um verdadeiro atraso, comparada com aquelas que levam directamente à estrada nacional que liga Nampula e Lichinga, daqui, só deslizar até à capital provincial. O atraso, quando se passa pela sede distrital é de mais 90 quilometros de terra batida, que é o troço Lalaúa-Ribaue, ao encontro da estrada “civilizada”.
Parte daqui a reclamação, ainda que em surdina, através de inquietações entre as lideranças comunitárias e tradicionais que, com alguma razão, dizem que esse atraso repercute-se em todos os aspectos da vida social e económica do posto administrativo, entretanto, um tema ja com barbas brancas.
Da campanha que terminou, ficaram as picadas impedidas pelas plantas de ervilhas que em tempo de frio intolerante quedaram para os acessos, no muito milho ainda a ser colhido, ainda que os celeiros estejam abarrotados desse cereal. As margens dos rios Neoce, Múri, Muricari, Namathia, etc, com um verde sem-fim, de aboboreiras e outras hortícolas. A pouco e pouco, já se come “capim verde” em Méti, casos de couve, repolho que num tempo recente nao fazia parte dos hábitos dos residentes em Méti.
Alguns adiantaram-se a dizer que se trata do sucesso de educação nutricional que as autoridades sanitárias levam a cabo, entre outros factores, incluindo frequentes contactos com outras paragens.
Velhos dizem que na véspera, entretanto, experimentou-se aquilo que ali se considera fome, referência à diminuição exagerada dos produtos nos celeiros. De repente tudo mudou: o gergelim numa semana passou de 50 para 60,00 MT o quilo; o milho estava 25, passou para 40,00 MT a mesma quantidade. Era uma azáfama de comerciantes que até semana passada, improvisaram uma ponte sobre o rio Neoce, ao encontro das grandes machambas situadas ao longo da margem direita do rio Lúrio.
O medo é que os produtores fiquem sem comida. Há que monitorar a euforia entre aqueles a quem foi dificil fazer entender que cá no sul, as pessoas viveram ou vivem de doações governamentais e de caridade; que até animais domésticos de grande porte foram dizimados…
Não passou despercebida a justificação de um ancião, que associa a opulência à diminuição do conflito com a fauna bravia porque “antes de diminuirmos de diferentes formas os elefantes não era possível produzir e atingir estas cifras”. Assim mesmo!
Que há muita comida em Méti, isso lá é verdade!
Pedro Nacuo