Se contei bem, foram 40 professores premiados, por ocasião do seu Dia Nacional, na semana que ontem terminou. Respirei de alívio não pela importância material que disso possa eventualmente resultar, mas pelo simbolismo que representa o reconhecimento duma classe que sem ter sido marginalizada durante anos, pelo menos nunca ficou elevada ao lugar que é seu.
Tenho visto essa tendência importantizadora desde os tempos do professor Aires Ali, à frente do exército de educadores em Moçambique, altura em que pela primeira vez encorajei-me e publiquei a palavra errada que repito nesta coluna: importantizacao! E, era sobre o professor!
A lista que saiu no domingo do domingo passado, longa embora, li-a íntegra: província por província, distrito por distrito e nome por nome. Colidi com nomes que me dizem muito, cuja cumplicidade com a história da educação nestes últimos anos está marcada na minha retina e, para ter sido muito justa, embora não cabal, na posição 13, localizei o professor Ibraimo Binamo Ibraimo.
Este nome, ouvi-o pela primeira vez no dia 21 de Fevereiro de 2008, na aldeia Imbada, Localidade de Iba, Posto Administrativo de Muaguide, distrito de Meluco, durante um comício dirigido pelo então governador de Cabo Delgado, Eliseu Machava. Alguns elementos da população levantaram-se a solicitar, em termos instrutivos, ao governante, a devolução do professor Binamo, que acabava de ser transferido para uma outra aldeia. Queriam vê-lo de volta!
Ficamos curiosos, os aldeões nem queriam saber que a transferência tinha sido benéfica para ele, pois subira de grau na função, visto que passara a coordenador duma Zona de Influência Pedagógica (ZIP).
Ele assumia as funções de adjunto-pedagógico, num grupo de mais oito colegas, da Escola Completa local, que no ano lectivo de 2007, teve ao fim, 362 alunos de ambas as classes, discriminadamente, 231 da primeira à Quinta classes e 82 da Sexta à Sétima Classes.
O grupo de Binamo recebeu alunos provenientes de Nangororo, Iba (a sede da Localidade), Roma, Koko e Ntapuala, numa escola sem internato e organizou que fossem viver em casas de conhecidos ou fizessem as suas próprias cabanas e aos fins-de-semana fossem às suas aldeias para o necessário reabastecimento em víveres.
Ao fim do ano, o quadro de aproveitamento pedagógico dizia: da primeira à quinta classe, 97%, da sexta à sétima, 78,7 porcento. Desistências, abaixo de 2 porcento. Um servente me disse que Binamo era um professor que sabia coordenar muito bem e a sua saída era de facto uma perca.
Binamo, provavelmente soubesse disso e à sua saída, despediu-se através de um escrito, em papel A4, que fotocopiou para colar em todos os lugares públicos da aldeia, entre barracas, posto sanitário, sedes de partidos e no caminho do poço da aldeia.
“Adeus a todos” foi o título da despedida e, explicava: Por necessidade de serviço e segundo despacho do senhor director dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, o vosso amigo, colega, irmão e filho foi transferido desta escola, onde exercia a função de director Adjunto Pedagógico, para a EPC de Sitate, onde vai assumir o cargo de Director da Escola e Coordenador da ZIP.
Binamo, parecendo sentido, disse no documento que ia, mas um dia ali voltaria, tanto em viagens de serviço, como privadas, na perspectiva de que poderiam de novo acolhe-lo, tal como o haviam feito durante o longo/curto tempo que ali vivera e convivera.
Gostei de vê-lo reconhecido, o professor que diz ser meio de Nangade (por isso maconde) e meio de Montepuez (por isso macua), pois a sua mãe era dum e o pai do outro lado, respectivamente. Nasci dum feliz casamento entre maconde e macua. Estudei na Escola Secundária de Nangade e depois em Pemba, onde fiz a 12-classe. Fiquei um ano sem fazer nada e em 2003 comecei a trabalhar como professor contratado, directamente colocado no distrito de Meluco e muito precisamente na aldeia Imbada.