A campanha que visa retirar os sacos de plástico nocivos à saúde pública e ao ambiente, lançada em 2015, através do Regulamento sobre gestão e controlo dos sacos de plástico sob orientação do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, está a surtir os efeitos desejáveis.
Tanto o comércio formal, bem como o informal, na sua maioria, usa sacos com unidades a partir de trinta micrómetros, ou seja, com uma espessura aceitável e isenta de substâncias prejudiciais.
domingo percorreu nas últimas semanas alguns estabelecimentos e bancas de venda de diversos géneros de consumo e serviços: farmácias, talhos, padarias e mercados de produtos frescos e constatou que a razão do triunfo deve ser repartido entre o comerciante e cliente. Ambos os segmentos atinam a necessidade de zelar pela saúde pública e pelo meio ambiente. “Nós acatamos as ordens. Como podem ver, trabalhamos com sacos de plástico a partir de trinta microns”, afirma Jorge Macaringue, agente de farmácia.
Entretanto, não só os serviços farmacêuticos acolhem a medida com satisfação. Colaborar para a boa saúde do cidadão passou a ser, igualmente, um princípio de quem labuta em estabelecimentos de fabrico e comercialização de pão. “Comecei há um mês e entendo a importância de pôr à disposição do cliente sacos de plásticos que não prejudiquem”, garante-nos Daúde Gulamo, gerente de padaria.
Os louvores estendem-se a alguns mercados de venda de produtos frescos tais como legumes e hortícolas. Aqui, a nossa reportagem conversou com Elisa Tembe, vendedora, que assegurou que os sacos antigos ficaram, mesmo, no passado. “Já não se usa, e os nossos clientes também engrenaram na nova medida. Aceitam comprar sacos melhorados, que custam dois meticais, para introduzirem as suas compras”.
E pagar por esses sacos não tem levantado nenhum burburinho. Afinal, há necessidade de compensar o esforço e desembolso da parte do comerciante. As embalagens são adquiridas ou em Tchumene: “compramos embalagens de quinhentos plásticos por quinhentos e cinquenta meticais, e aqui na padaria vendemos cada saco por dois meticais”, palavras de Gulamo Daúde, ou em Zimpeto: “eu compro embalagens de sessenta meticais…”, afirma Elisa Tembe.
Entretanto, há quem dá de borla o apreciado saco ao seu estimado cliente. “Não vendemos!”, dispara Macaringue, e, na esteira disso, considera “um erro o que acontece nos outros locais de comércio: vendem os sacos ou entregam o produto na mão do comprador”.
Mas, conforme referiu, os sacos utilizados para embalar as vendas em farmácias são trazidos da farmácia sede. E, “nota-se uma grande diferença entre os antigos e os actuais”. Os últimos, garante-nos o agente farmacêutico, são mais resistentes.
Por falar em resistência, assumimos que não existe bela sem senão. Nas voltas feitas pela nossa reportagem, lá se teveum tropeço, ao nos depararmos com um cidadão de plástico vetado em mão. Tratava-se de Luís Aspirante. Preocupado, revelou que desenterrou o frágil e desinteressante saco lá pelas bandas da Bic, na Matola. “Comprei uma camisola no mercado e eles deram-me este saco. Não sabia da sua proibição”, justificou-se.
BUTCHER BAGPARA TALHO
Assumindo que cada ponto deve estar no seu i, foi nos passada a necessidade de certos produtos comercializados serem embalados de maneira apropriada para evitar complicações a vários níveis.
Licínia Melo, gerente de talho, deu o seu show, primeiro, ao garantir que as medidas preventivas adoptadas no seu estabelecimento partiram“de nós mesmos. Nunca recebemos nenhuma recomendação”. Segundo, por seguirem a boa conduta dos comerciantes de carnes, usando embalagens apropriadas. “Sempre foi desta forma. Temos sacos próprios para talhos. O Butcher Bag. Fazemo-lo pela higiene, isto é, pela saúde dos nossos clientes”, até porque “sempre fui contra o uso daqueles sacos pretos levezinhos e muito antes sairem de circulação, levava o meu próprio saco às compras”.
SÃO REAPROVEITÁVEIS
Mudanças vêm ocorrendo. O bolso do comprador está a ser afectado, mesmo assim o facto é encarado de bom grado, principalmente porque “se evita doenças; os sacos antigos soltavam uma tinta esquisita e chegavam a ficar desbotados quando se metia lá alguma coisa”, anota René Ordem, funcionário público. E, uma vez que é pelo bem-estar das pessoas, ao nível da saúde e do meio ambiente “nós aceitamos sim”, afirma, por seu turno, Larice Branquinho, estudante.
Entretanto, se o cidadão agradece, o meio ambiente fá-lo na mesma medida ou… um pouco mais, pois é preciso ter em conta que “a nossa cidade anda entupida de vários resíduos, incluindo os sacos de plástico”; “acredito que esta medida faz e fará diferença, no que diz respeito à protecção do meio ambiente”, observam René Ordem e Larice Branquinho.
Sacos de plástico abaixo
de 30 micrómetros são nocivos
-Afirma Inácio Bucuane, Inspector ambiental
A medida que visa retirar os sacos de plástico nocivos à sua saúde e/ou ao meio ambiente foi iniciada ao nível do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER).
Trata-se de um trabalho feito em coordenação com a Inspecção Nacional de Actividades Económicas (INAE), e com município, sendo que, nesse processo, a inspecção ambiental divulgou o decreto de gestão e controlo, ao mesmo tempo que efectuava a apreensão, nas unidades de fabrico, dos sacos que continham medidas abaixo de trinta micrómetros, uma vez que na sua composição continham substâncias químicas (furanos e toxinas) nocivas à saúde.
Estes dados foram avançados por Inácio Bucuane, Inspector ambiental do MITADER, que destacou que, actualmente, a continuidade destes trabalhos está a ser garantida pela Agência Nacional da Qualidade Ambiental daquele ministério.
Conforme referiu, cerca de cinquenta e oito toneladas de sacos de plástico com medidas abaixo do recomendável foram recolhidos ao nível nacional e perto de quatro toneladas recicladas para a fabricação de tubos de rega, distribuídos por Maputo e Gaza em instituições de ensino agrário.
Paralelamente a isto, foram feitos trabalhos de educação e consciencialização do cidadão em relação aos malefícios para a saúde pública.
A este leque de medidas é adicionado a necessidade de o consumidor desembolsar valores pecuniários para a compra de sacos de plásticos para embalar as suas compras. Inácio Bucuane considera que, esta acção, “visa fazer com que as pessoas utilizem o mesmo saco por várias vezes, portanto, que não o descartem”, de qualquer modo “a interdição da fabricação constitui maior factor para o sucesso que se verifica”, conclui.
Texto de Carol Banze
carolbanze@snoticias.co.mz
Fotos de Jerónimo Muianga