Há ou não casas assombradas?domingo percorreu algumas casas antigas e quase abandonadas pelos proprietários há anos. Os relatos populares sobre esses lugares são simplesmente arrepiantes. Fala-se de presença de vultos; vozes; passos e ruídos estranhos, de almas que habitam aqueles espaços.
Coragem para esta intrigante viagem é o que se recomenda. Na casa localizada na Rua de Sofala, no Município da Matola, “existem almas à busca de sossego”. Tamanha imaginação é produto de relatos populares captados pela nossa reportagem junto da vizinhança. A primeira proprietária daquela residência anda por ali a fazer das suas. Haja fígado para permanecer naquele local.
Dona Elisa, marido e os dois filhos menores conseguem-no sabe-se lá como. Na verdade, precisam garantir o pão de cada dia. Trabalham para o actual proprietário e vivem naquela casa há pouco tempo.
“Há noites em que não conseguimos dormir. Ouvimos passos de gente dentro da casa e o portão da grade a bater”, conta Elisa.
“Algumas vezes testemunhamos presença de vultos pela casa, mas quando acendemos a lâmpada, não vemos lá ninguém. Outra noite, surpreendi o meu marido a soluçar e murmurar durante o sono. Acordei-o, mas quando o questionei sobre o que dizia, afirmou que não se lembrava de nada. O que acontece aqui é muito estranho”, revela.
O aspecto degradado da casa desperta a atenção de qualquer transeunte. O quintal não tem mais portões, parte considerável do muroestá caído. No interior, as paredes encontram-se esburacadas e cinzentas. Nas janelas sobram apenas alguns casquilhos de madeira pálida. As grades enferrujadas são outro sinal que denuncia a ausência de manutenção do imóvel. Aliás, de acordo com a vizinhança é provável que aquele cenário se mantenha por mais tempo.
“As pessoas que compraram esta casa também não conseguiram fazer nenhuma reabilitação. Quando aumentam o muro, no dia seguinte encontram no chão”.
O patrão de Elisa é a sexta pessoa a comprar o imóvel, tudo por culpa dos fenómenos paranormais que ali ocorrem.
A vizinha desta residência, dona A., também experimentou episódios inexplicáveis. “Houve um momento em que a casa estava sem ninguém e isso fazia com que os ladrões se escondessem ali. Para a nossa protecção decidimos aumentar a altura do muro lateral direito, que faz a fronteira com a minha residência. A verdade é que no dia seguinte encontramos todas as fiadas dos blocos no chão”.
Trata-se de uma residência que no passado era habitada por um casal e filhos. Diz-se que a vontade da dona é que a mesma nunca fosse vendida. Após a sua morte ela foi contrariada. Seu marido decidiu vendê-la. Desde então, a casa passa de mão em mão. Entretanto, há rumores de que a família está à procura do actual proprietário para comprar a casa de volta.
Famosa por albergar
um caixão no tecto
No município de Manhiça, uma casa em ruína mesmo ao longo da Estrada Nacional Número Um leva uma estória insólita.
Segundo populares, o tecto da casa alberga o caixão do falecido dono, Manuel Ribeiro. Esta estória ganhou uma fama tal que hoje a ruína é uma referência na localidade.
Rodeada por capim, as manchas negras pelas paredes revelam quão antiga e inabitada está a residência. Na entrada frontal da casa, os portões de grade foram amarrados com arame para impedir que gente de conduta duvidosa tome o lugar para fins ilícitos. No interior, as paredes encontram-se fustigadas pela infiltração da água de chuva.
A escassos metros, mesmo em paralelo com a ruína, localiza-se uma pequena residência, recentemente construída, pertencente a Graciete Ribeiro, filha do falecido proprietário da casa.
Graciete conhece a fama que a casa possui. Contudo, refuta-a. “Meu pai separou-se da minha mãe e passamos a viver para Maputo. Desde então a casa ficava trancada. A família apenas abria para fazer limpeza”.
Na década de 80, com a guerra dos 16 anos, aquela residência serviu de base militar. “Quando a guerra acabou retirou-se a base. Nessa altura, meu irmão quis reabilitar a vivenda. Colocou areia incomáti na placa da casa para iniciar o trabalho”, explica Graciete Ribeiro.
Uma vez que precisava de um grande investimento pela gravidade do problema, interrompeu a obra, mas não foi retirada a areia. E assim, nascia uma lenda.
“Com tempo, plantas foram germinando naquela areia e rebentaram flores (beijo da mulata,) muito usadas para enfeitar campas. Por esta razão as flores despertavam atenção das pessoas, foi por isso que se concebeu que lá em cima estava a campa do meu pai”,contou Graciete.
Quando esta estória foi propagada, Manuel Ribeiro ainda era vivo. Faleceu em 2005. Os seus restos mortais descansam no cemitério de Lhanguene.
Em ruína
há mais de 50 anos
domingo descobriu uma casa de zinco com cerca de 100 anos de existência no bairro de Maxaquene.Abandonada há mais de 50 anos, a casa pertencia a P. D., um assimilado muito conhecido pela veia empreendedora que tinha na época colonial.
Ainda nessa época, P. D. foi viver para Alemanha, onde perdeu a vida em 1936. Seu corpo foi transladado para Moçambique e enterrado no histórico cemitério de São Francisco Xavier. Com a sua morte, T. M., seu sobrinho, herdou a casa e passou a cuidar das suas propriedades. Após a morte de T. M.,a casa ficou sem ninguém até à actualidade.
Erguer algo novo ali é ainda impensável. Nem os familiares conseguem explicar o motivo pelo qual ninguém quer ocupar o espaço ou reabilitar a casa. Este facto fez ganhar asas à ideia de que a casa é assombrada.
Hoje, no fim da sua existência, aquela estrutura serve apenas de recanto de diversão das crianças do bairro e parte do quintal é ocupada por uma pequena oficina mecânica.
De pedaço em pedaço
alimenta-se uma fantasia
Junto à ponte da travessia da praia de Ka Tembe está uma gigante infra-estrutura abandonada a sua sorte. É o antigo restaurante 4 de Março. Segundo se diz, foi um empreendimento de referência no distrito de Ka Tembe e não havia quem não o conhecesse. Para além do restaurante, tinha uma esplanada sobre a área da praia.
Após a independência, os colonos que exploravam o local abandonaram o empreendimento. Segundo relatos populares, vários investidores tentaram reerguê-lo, mas nunca deu certo. Os motivos todos desconhecem. Apenas predominam rumores de que aquela infra-estrutura é assustadora e desperta sensação de desânimo.
Texto de Luísa Jorge
luisa.jorge@snoticicas.co.mz