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Revolta e consternação no adeus ao “mister” Fred

Por admin

Desportistas de várias modalidades despediram-se quinta-feira, 25 de Fevereiro, de Frederico dos Santos, Seleccionador Nacional de Natação, vítima mortal da queda do muro na Piscina Olímpica do Zimpeto, sábado, dia 20 de Fevereiro. 

O cortejo fúnebre começou da Piscina Raimundo Franisse, local onde decorreu o velório em sua memória, diante de centenas de desportistas, dentre atletas, treinadores, dirigentes desportivos de as todas as modalidades praticadas no país, governantes e figuras politicas nacionais e estrangeiras, estas na sua maioria ligadas ao corpo diplomático acreditado no país.

A família, na voz do seu filho Ricardo dos Santos, apontou o malogrado como tendo sido seu “professor, pois nos ensinou a ser aquilo que hoje somos e o que um dia os nossos filhos se tornarão. Mostrou-nos a vida e era um extraordinário conselheiro.”

Ricardo dos Santos acrescentou que “era justo, humilde, amigo, conselheiro e adeptos de cada um de nós. Ralhava e muito, mas era para o nosso melhor.”

O ministro da Juventude e Desporto, Alberto Nkutumula, disse que a morte de Frederico dos Santos “deixou todos profundamente consternados” por se tratar de um desporto que granjeou muita simpatia “não apenas na natação, como também no desporto em geral.”

“Chora a natação, o futebol, o atletismo, o basquetebol, enfim, o desporto moçambicano no seu todo que vê se apagar uma referência que deixou marcas profundas por todos nós reconhecidas nas piscinas nacionais e além-fronteiras”, referiu Ntukumula.

O presidente da Federação Moçambicana de Natação, Fernando Miguel, o considerou de “uma pessoa humilde, empenhada e determinada a elevar o nome de Moçambique ao mais alto nível, preparando os atletas de diferentes escalões.”

Miguel fez questão de afirmar que os nadadores por si chamados aos trabalhos da selecção saberão dignificar seu nome nas provas em que participarão.

Por sua vez, a presidente da Associação de Natação da cidade de Maputo, Páscoa Themba, fez questão de sublinhar que “a sua grandeza vai para além da cidade de Maputo. Foi sempre um homem de convicções e empenhado na promoção de natação e criação de condições para o surgimento de novos talentos.”

Frederico dos Santos nasceu em 1972 na província de Nampula. Iniciou-se na natação no Clube Ferroviário de Nampula. Frequentou curso de natação em Portugal, com estágio no Estrela de Amadora. Foi treinador no Ferroviário de Maputo, nos Golfinhos de Maputo e, finalmente, nos Tubarões, clube que ajudou a nascer e a crescer. E morreu quando exercia as funções de Seleccionador nacional de Natação. Deixa viúva e sete filhos.

A suspensão de todas as actividades de natação, decretada pela Federação Moçambicana de Natação, é levantada amanhã, 28 de Fevereiro, terminado o período de luto pela morte de Frederico dos Santos, a única vítima mortal do desabamento do muro da Piscina Olímpica do Zimpeto.

Empreiteiro, fiscal

e COJA possíveis culpados

Manuel Meque

O Homem pode por inocência ou negligência preparar um crime e dele resultar danos. Terá sido por uma destas razões, acrescidas doutros males que ainda respiram em algumas esferas da nossa sociedade que, em apenas cinco anos de vida, o muro da Piscina Olímpica do Zimpeto quedou na noite do dia 20 de Fevereiro, sábado, matando uma pessoa, Frederico dos Santos, Seleccionador Nacional de Natação, treinador dos Tubarões de Maputo, mais nove feridos, para além de ter provocado danos em carros.

A queda em si não foi provocada pela força humana, mas é do homem que originou. Terá havido incumprimento de certos “mandamentos” de empreitada pública, associada a uma fiscalização desleixada, perante um dono da obra que só queria vê-la erguida para se orgulhar diante dos hóspedes de ter feito tudo a tempo e horas, antes data do início do torneio de natação dos X jogos Africanos de 2011, realizados aqui no nosso país.

Regem os princípios de arquitectura que o muro de três ou mais metros tem de ter vigas, referem os conhecedores do sector de construção com quem temos conversado para melhor perceber e fazer perceber ao público porque em apenas cinco anos de existência o muro da Piscina Olímpica do Zimpeto desabou. Aquele muro devia ter três vigas. Por não tê-las se pode apontar o empreiteiro, como o primeiro culpado pela queda.

Se o muro daquela dimensão ia sendo construído sem vigas, o fiscal da obra devia ter reportado ao dono da mesma que o empreiteiro não estava a cumprir com o regulamentado para aquele tipo de muro, então é o segundo culpado.

O terceiro culpado da queda do muro na Piscina Olímpica do Zimpeto é quem assinou o contrato em nome do Governo, porque devia ter a certeza de que nada faltava à obra. Nesse caso, o COJA (Comité de Organização dos Jogos Africanos) é o terceiro culpado.

No auto da recepção da obra não terá feito vistoria para saber se podia ser recebida ou não. Não tinha que ser necessariamente ela a fazer vistoria, podia contratar uma empresa específica para o efeito. Aliás, o COJA devia ter fiscais que a assessorasse na parte técnica para que se precavesse da segurança das obras. E uma obra tem de ser recebida com manual de operações, um guião, de como o usuário tem de lidar com essa infra-estrutura entregue.

O manual de operações é igual ao manual de manutenção que permite de seis em seis meses verificar as ligações e depois de um ano fazer-se a reciclagem das fendas e juntas. E pode ser necessário voltar a pintar a obra construída. Será que tudo isto se observou no período da construção e pós construção do muro da Piscina Olímpica do Zimpeto?

E fica, também, por responder a pergunta se depois de um ano se fez auto de entrega definitiva. Se houve, será que a estrutura do muro nessa altura não apresentava nenhum defeito?

 Aquele tipo de obras é de carácter excepcional em termos de segurança por visar albergar público em massa. O nível de cautela na construção publica é três vezes mais (100+200) ao de uma casa pessoal, que é de uma vez (100+50). Portanto, no caso da construção do muro da Piscina Olímpica do Zimpeto devia ter sido acautelada segurança maior para que pudesse suportar qualquer vendaval.

E pode-se admitir ter havido alguma pressão excessiva de ar sobre a parede por esta ter sido feita sem vigas nem pilares, dai tenha colapsado. Não terá sido problema de fundações, porque se assim fosse o muro teria desabado de baixo acima; partiu-se.

Conclusão possível: Houve erro na construção do muro. Terá havido muita negligência do empreiteiro, porque este pode recusar a proposta do dono da obra se a mesma não for exequível em termos de segurança. Para uma obra pública deve-se obedecer técnicas de construção certas e orçamento adequado. Sem esses requisitos assistimos o que acabamos de assistir no Zimpeto. 

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