Participava eu na cerimónia de homenagem às figuras de basquetebol que se distinguiram ao longo dos 40 anos da Independência Nacional quando tomei conhecimento do desaparecimento físico de Joaquim João, o JJ.
Na mesma sala estava a Vice-ministra da Juventude e Desporto e antiga atleta de basquetebol, Ana Flávia Azinheira, que, sem surpresa, antes de pronunciar qualquer palavra de ocasião aos presentes, tratou de registar com dor e tristeza a morte de Joaquim João, dizendo que se apagara uma referência do desporto nacional.
Noite adentro e dias seguintes multiplicaram-se manifestações de pesar pela perda daquele que também foi apelidado de “Homem Elástico”, “Grande Capitão”, “Disciplinado”, “Medalha de Nachingueya” e outros títulos honoríficos.
O que notei em toda família desportiva do país foi um reconhecimento consensual das virtudes de JJ.
Ora, perante as manifestações públicas subsequentes à morte de JJ até ao seu funeral, estranhei a posição assumida pela liderança do Ministério da Juventude e Desporto (pode-se ler ministro Alberto Nkutumula e a Vice-ministra Ana Flávia Azinheira) no tratamento a Joaquim João.
Em Fevereiro de 2014, aquando da morte de Mário Coluna, o “Monstro Sagrado”, foi aquele ministério que liderou o processo que culminou com a atribuição de um funeral oficial ao antigo capitão do Benfica e da selecção portuguesa. Mário Coluna foi sepultado com honras do Estado.
Sim, é verdade que os ministros eram outros e o Presidente da República idem, mas porra, lá no ministério há memória institucional e essa memória devia ser chamada também desta vez, se essa fosse a vontade dos decisores.
Na altura, o Governo moçambicano decretou “luto nacional de um dia para que as exéquias fúnebres de Mário Coluna tivessem lugar com a merecida dignidade e à altura da sua dimensão humana, a nível nacional e internacional”.
O Conselho de Ministros determinou que durante a vigência do luto, a bandeira nacional devia ser içada a meia haste em todo o território nacional e nas missões diplomáticas e consulares da República de Moçambique. Os moçambicanos foram exortados a prestar a merecida homenagem a Mário Coluna e a continuar a preservar e a valorizar o seu legado.
JJ não teve direito a funeral oficial. Foi capitão do Ferroviário e de Moçambique. Mário Coluna foi capitão do Benfica e de Portugal. Ambos eram moçambicanos que se destacaram pelas suas qualidades no desporto.
Mas se JJ não mereceu um funeral oficial e com decreto de luto nacional, que outro desportista moçambicano voltará a ter essa homenagem depois de Mário Coluna?
Provavelmente Lurdes Mutola.
Ou serão contemplados Nuro Americano, Chiquinho Conde, Tico-Tico, Rui Évora, Calton, Chababe ou outros?
Daqui certamente vai emergir uma discussão que gostaria de participar se Deus me der vida. Os dirigentes moçambicanos continuam a propalar a necessidade de exaltar e imortalizar os seus melhores filhos e quando tem oportunidade para tal não o fazem.
Lamentável…
Texto de Custódio Mugabe