O gás que se espera explorar da parte moçambicana da Bacia do Rovuma, no distrito setentrional de Palma, em Cabo Delgado, pode abastecer em pelo menos 25 anos, todo o continente europeu.
A consequência da importância de um minúsculo território de um país economicamente atrasado, preocupa os donos da terra e não só, que esta semana reuniram-se, em conferência de desenvolvimento, para se preparar para o que vier e der.
Fala-se em 200 TcF só de jazigos de hidrocarbonetos, cerca de um bilião de toneladas de grafite/vanádio, para além de importantes ocorrências de platina, areias pesadas, calcário, rubi, ouro, mármore, metais básicos, água mineral e terras raras.
A I Conferência Internacional de cadeias de valor das indústrias de gás natural, grafite e sector agrário, realizada esta semana na capital daquela província foi na verdade a manifestação da anunciada preocupação, também avaliada pela sua adesão, sobretudo por sectores poderosos do mundo na área de exploração de hidrocarbonetos, que já traduz o carácter universal que assume a próxima exploração do subsolo moçambicano, a partir de Palma.
O percurso que há pela frente, para o almejado desenvolvimento sustentável de Cabo Delgado e de todo o país, em geral, ainda vai precisar de aprendizagem incessante, como reconhecem as autoridades moçambicanas.
Diria Celmira da Silva, governadora provincial, de quem partiu a iniciativa, que há que buscar a visão e soluções integradas nos processos de materialização das políticas e estratégias do governo, plasmadas no Plano Quinquenal 2015-2019 e demais instrumentos de planificação, no que a cadeias de valor diz respeito, mormente para o gás, grafite e o sector agrário, sectores mais que confirmados como potenciais naquela província
Na verdade, está dentro dum contexto de descobertas de quantidades consideráveis de gás natural, grafite, bem como, a existência de potencialidades de outros recursos, como sejam: agrícolas, florestais e faunísticos, hídricos, marinhos e turísticos na Província de Cabo Delgado.
“Este facto nos remete a desafios de grande dimensão a nível deinvestimento, financiamento, infraestruturas e capital humano capaz de operacionalizar de forma estruturante as cadeias de valor de vários produtos”, disse a governadora de Cabo Delgado, em jeito de justificação da conferência, cuja qualidade de debates terá ultrapassado as expectativas mesmo dos organizadores.
É verdade que população tem suas principais actividades económicas, na agricultura familiar, na pecuária, na pesca artesanal, no comércio e na exploração florestal, mas as atenções viram-se para o futuro do que ouvem falar a partir do gás no norte e grafite no sul da província.
Entretanto, espera-se que num futuro próximo o sector de hidrocarbonetos e de minas assumam um papel importante para o desenvolvimento da província, ocasionando a melhoria da produção, produtividade e industrialização da Província.
O que quis o governo com a conferência?
A governadora provincial diz que os objectivos foram largamente conseguidos, nomeadamente, a análise e discussão das cadeias de valor das indústrias de gás natural, grafite, produtos agrários (castanha de caju, cereais, feijões, soja, hortícolas, frutas, avicultura); madeira, pesca e turismo.
As infraestruturas de apoio à produção e serviços (via rodoviária, marítima, aérea, férrea, portuária e energia, água e saneamento e regadios), tiveram distinção em todas as discussões, bem assim, as formas e mecanismos de estímulo ao financiamento e investimento público e/ou privado;
“Era nossodesejo que saíssemos do encontro com a certeza de que houve um diálogo aberto, consensual para uma melhor eficiência e eficácia na resposta às necessidades que os desafios actuais nos impõem e alcançássemos uma visão conjunta quanto à identificação de potenciais investidores e mercados para diversos produtos das cadeias de valor, duma forma integrada de operacionalização de infraestruturas de apoio e de serviços para as Cadeias de valor” disse a governadora.
Por outro lado, foi possível identificar formas, mecanismos, instituições de financiamento e investimento de várias actividades das cadeias de valor, o aumento do número de projectos, volume de investimento privado e mais emprego.
Neste contexto e mesmo depois de terminada a conferência, o governo da província, reiterou total abertura e apoio a iniciativas de investimento, quer privadas ou público-privadas das cadeias de valor propostas para a discussão, através das quais, pretende que a aquele território produza a níveis competitivos, o gás natural, grafite, cereais, leguminosas, fruta, hortícolas, castanha de caju, aves de corte, madeira e pescado, tanto no País, na região, e no mundo.
O governo central, representado pelo Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Pedro Couto, que por sua vez representava o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, disse que o evento engrandecia o nosso país.
“(…) Dá provas, pelo mundo fora, de que os moçambicanos estão empenhados na busca de sinergias para alterar o cenário de baixa produção e produtividade, fraca competitividade e, sobretudo, fraco aproveitamento das potencialidades e oportunidades existentes”, disse Pedro Couto.
Clarificou que podem ser abertos oportunidades de investimento em áreas desde a produção, embalagem, transporte, armazenamento, transformação e entrega de produto final ao consumidor, facto que pode gerar mais empregos e renda para as famílias.
Couto disse-se convicto de que as descobertas de quantidades comerciais de gás, grafite e potencial agrário existente, abrem também uma oportunidade para colocar Moçambique numa posição cimeira no mercado internacional.
Facilita ao país o facto de gozar de uma localização geográfica estratégica e privilegiada para o comércio internacional, com cerca de 2 mil quilómetros de costa, 36 milhões de terra arável dos quais apenas 15% em uso e clima subtropical com solos férteis e precipitação abundante.
As condições são, de cordo com Pedro Couto, propícias para prática da agricultura, 50% do território é coberto por florestas, produzindo madeira de variadas espécies de alto valor comercial e em posição de destaque a nível mundial.
Atenção para o gás
mas produzindo comida
A área agrícola da província é de 8.3 milhões hectares, com 5.6 milhões de terra arável, cifra da qual apenas se explora 1.8 milhões hectares para uma produção actual de 2.8 milhões de toneladas, de milho, arroz, mapira, feijões, mandioca, hortícolas, algodão, gergelim e banana.
Há uma floresta produtiva de 3.3 milhões de hectares que fornece umbila, jampire e metonha, para além da fauna abundante. A terra disponível para o investimento é 569.848 hectares, com destaque para os distritos de Namuno (119.084 ha), Montepuez (106.883 há), Ancuabe (70.546 ha) e Balama (58.704 ha).
A costa é outra vertente, com 430 quilómetros e uma cintura de cerca de 32 ilhas, incluindo o arquipélago das Quirimbas, onde se pode desenvolver a aquacultura de camarão, algas marinhas, peixe e outras espécies de moluscos e crustáceos. Na verdade, há registo de 36.367 hectares com potencialidade em aquacultura e nas águas interiores, fala-se em 1. 648.033 hectares.
Porém, é praticamente de forma artesanal que se realiza a pesca, nos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga e cidade de Pemba, com uma capacidade média anual de 27 mil toneladas.
A província, até 2017, com os empreendimentos em curso, necessitará de 30 MW de energia eléctrica, sendo que na actualidade queda-se nos 21 MW. Daí resulta a necessidade de operacionalização dos projectos em carteira existentes, que podem produzir ate 250 MW, designadamente, a barragem do rio Lúrio, com 120 MW, a do rio Messalo, com 50 MW e as centrais fotovoltaicas em Metoro, Macomia, Oasse, ambas com a capacidade de 80 MW.
É preciso que a rede viária de Cabo Delgado, actualmente de 3.665 quilómetros, dos quais 738 não classificados e 79 porcento não revestidas seja tida em conta, do mesmo modo que se afigura urgente a reabilitação do porto de Mocímboa da Praia e a reactivação da cabotagem marítima.
Outros desafios
Prevê-se um corredor, Mtwara-Pemba, servido por uma ponte sobre o rio Rovuma, em Namoto e um ramal, Negomano-Oasse, que depois entra para Mucojo, Quissanga até Ibo e depois seguem-se os ramais terciários em direcção a costa.
O outro corredor será Metangula-Pemba, com ramal Montepuez/Mueda, como parte de entrada e saída de Pemba e depois pode escoar para os restantes corredores, que também farão comunicação com a província de Nampula
A reabilitação de dois Regadios Ngúri e Chipembe, construção duma indústria de processamento de grafite em Balama e de infraestruturas de acostagem em Quissanga, Ibo e Palma.
Pedro Nacuo