O governo moçambicano aprovou na semana finda um conjunto de projectos e resoluções atinentes à concessão do porto, corredores e linhas férreas de Nacala para a Vale-Moçambique, cuja necessidade de financiamento é estimada em 4,6 biliões de dólares.
Na mesma altura, a petrolífera Anadarko anunciou que está interessada em definir um conjunto de acordos com o governo para a venda de gás natural líquido e construção de uma central.
Estas duas notícias ecoam na contramão de todo o contexto económico prevalecente e oferecem uma lufada de ar fresco ao tecido empresarial nacional que conta com a possibilidade de explorar potenciais oportunidades de negócio que se vão gerar em torno dos mega-projectos.
A expectativa dos empresários em torno da exploração de hidrocarbonetos na bacia do Rovuma também está associada ao facto e haver estimativas que indicam que a Anadarko, a Ente Nazionale Idrocarburi (ENI), empresa petrolífera italiana, entre outras, poderão investir no país mais de 100 biliões de dólares e fazer com que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 24 por cento ao ano, isto nos anos que se vão seguir ao arranque da exploração.
Estudos recentes publicados pelo Standard Bank indicam que Moçambique poderá receber receitas estimadas em 212 biliões de dólares durante o período do projeto, só em receitas provenientes da Área 1 que foi concessionada à Anadarko, o que fará a economia nacional crescer nove vezes até 2035.
No caso da Anadarko, esta empresa não pretende bater com a porta e rumar para outros destinos. Quem deu essa garantia foi o seu vice-presidente para o pelouro da comunicação petrolífera, John Christiansen, o qual deixou claro que aquela empresa vai continuar em Moçambique, mesmo estando o país a atravessar um período de “vacas magras” fruto da questão da dívida pública e da difícil situação financeira que atravessa.
Para John Christiansen, que falava para a Bloomberg, uma agência norte-americana de informação financeira, esta intricada situação económica que Moçambique vive não vai impedir que a Anadarko tome decisões sobre o investimento que pretende fazer na exploração de hidrocarbonetos na bacia do Rovuma, no norte da província de Cabo Delgado.
O vice-presidente da Anadarko é citado a dizer que “estamos cientes dos problemas de dívida de Moçambique e, enquanto o governo trabalha sobre isso, nós estamos a trabalhar arduamente para definir um conjunto de acordos que vão lançar as bases para as vendas de gás natural líquido aos nossos clientes”.
Em relação à continuidade do projecto de exploração de gás na bacia do Rovuma, a Anadarko refere que logo que chegar a um entendimento com o governo e tiver os financiamentos definidos, estará em posição de tomar uma decisão final de investimento sobre a construção de uma central de gás natural líquido.
A petrolífera sul-africana Sasol também anunciou que esta companhia espera aumentar significativamente a oferta de eletricidade em Moçambique, através do processamento de novas reservas de gás na província de Inhambane, num investimento inicial de 1,4 bilião de dólares.
“VALE” AUTORIZADA A AVANÇAR
Com a situação nos caris no sector de petróleo e gás, onde as empresas demonstram total disponibilidade de prosseguir com os investimentos, no campo do carvão e respectiva logística, o governo deu o seu aval à pretensão da Vale-Moçambique de realizar mais investimentos.
Dados divulgados pelo Conselho de Ministros indicam que aquela empresa de capitais brasileiros pretende investir 4,6 biliões de dólares, numa primeira fase, para viabilizar o transporte 18 milhões de toneladas métricas anuais de carvão por Nacala.
A Vale-Moçambique apontou ao governo que quer usar aquele dinheiro para reabilitar e construir 912 quilómetros de Moatize, na província de Tete, até Nacala-a-Velha, na província de Nampula, construir um novo terminal de exportação de carvão em Nacala-a-Velha.
Apuramos que este novo terminal deverá estar dotado de um sistema de descarga mecânica de vagões, tapetes rolantes, pátios de armazenagem, empilhadeiras, recuperadoras e carregadores de navios, e toda a infra-estrutura associada.
Esta empresa pretende ainda aplicar o montante solicitado na capacitação da mina de carvão de Moatize para passar da actual produção que é estimada em 4,9 milhões de toneladas métricas por ano para 22 milhões de toneladas métricas a partir do próximo ano, 2017.
Para concretizar estes objectivos, a Vale-Moçambique precisou de autorização do governo para ir à busca de cerca de três biliões de dólares (dos 4,6 biliões de dólares necessários) para depois pegar em 1.9 bilião de dólares e colocar nas mãos de empresas concessionárias estabelecidas em território nacional para executarem as obras.
Assim, o governo apreciou de forma favorável sete propostas de decretos e resoluções sobre as concessões dos portos, corredores e linhas ferroviárias de Nacala, o que vai permitir a realização efectiva deste projecto proposto pela Vale e viabilizar os empréstimos solicitados pelas concessionárias do corredor.