O Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) entende que o presente cenário de crise económica que o país enfrenta pode ser superado com a reorientação dos investimentos para o sector produtivo, com ênfase para agricultura, com toda a sua cadeia de valor, pesca e turismo.
Claire Zimba, director-geral do Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), afirma que a resposta à crise parece complicada, mas as oportunidades residem nos sectores de produção que podem ajudar a substituir as importações, adicionar valor aos potenciais recursos e, sobretudo, assegurar a inclusão dos produtores e empreendedores que se encontram no meio rural.
É que, o momento que o país vive obriga a um redimensionamento das perspectivas empresariais, uma vez que o Banco de Moçambique (BM) aponta que a curto e médio prazo as projecções indicam que haverá um abrandamento da actividade económica.
Aliás, o BM fala ainda que o país continuará a ter uma persistente pressão inflacionária num ambiente de contínua pressão cambial, decorrente, entre outros factores, da suspensão da ajuda externa pelos parceiros de cooperação, a que se junta a prevalência da tensão político-militar em algumas zonas do país.
Para fazer face a este quadro, o IPEME defende que é preciso assegurar que os produtores do sector familiar e de pequena escala comecem a fazer os seus negócios de forma estruturada para que os resultados daí obtidos comecem a ser captados pela economia.
Claire Zimba afirma que para além da agricultura, pesca e turismo, o sector de serviços, sobretudo no contexto das ligações com as grandes empresas, pode ser aproveitado pelas Micro, Pequenas e Médias Empresas no presente contexto de crise.
“Os empreendedores podem ter orientação para estes sectores através das ferramentas que o IPEME oferece porque, por muito boa que seja a intenção de querer produzir no sector agrário, se não tiver uma assistência que permita produzir de forma eficiente e empresarial, os resultados podem não aparecer”, disse.
Segundo Zimba, as referidas ferramentas podem ser aplicadas por empreendedores das zonas rurais, que são chamados a apostar mais nos sectores produtivos, enquanto os das cidades lidam com desafios ligados a forma como devem fazer uma provisão estruturada, qualitativa de bens e serviços para a economia.
Para que isso aconteça, Zimba afirma que o governo aprovou, recentemente, o Decreto Procurement que prevê que, na aquisição de bens e serviços, o Estado passe a dar preferência às Micro, Pequenas e Médias Empresas nacionais desde que estejam estruturadas e com melhores processos de eficiência.
“Aqui entra uma solução orientada para a economia urbana e rural que é um Programa de Gestão de Tecnologias de Gestão que permite reduzir o custo de produção no sector industrial”, disse, para depois acrescentar que com este programa é possível determinar onde estão as perdas na gestão de tecnologia e reduzir até 50 por cento dos custos de produção.
Os programas de formação para pequenos empresários ministrados pelo IPEME estão voltados para a melhoria dos processos produtivos, marketing corporativo, liderança estratégica, diversificação da actividade, entre outros, e permitem descortinar oportunidades em momentos de crise.
“Este momento de crise é uma oportunidade e o Decreto sobre Procurement, que entra em vigor no segundo semestre, abre mais espaço. A ideia é fazer com que o Estado compre bens e serviços nas PMEs e o nosso papel é criar essa capacidade”, sublinhou.
Para mostrar que é possível empreender em tempos de crise, Claire Zimba, tomou como exemplo o programa que está a ser desenvolvido no Vale de Limpopo, em Chókwè, na província de Gaza, que deu algumas respostas em relação ao que fazer nesta época de crise.
O projecto, sob os auspícios do IPEME em parceria com a empresa Hidráulica de Chóckwe (HICEP) e a Companhia Agro – Industrial de Chókwè (CAIC) legalizou as actividades dos empreendedores informais locais com vista a torna-los formais, envolve 60 beneficiários, dos quais 21 são jovens e o remanescente é composto por antigos combatentes
No quadro desta iniciativa, a CAIC foi responsável pela distribuição e lavra da terra para os beneficiários, enquanto o IPEME formou os beneficiários em contabilidade, acesso ao mercado e legalizou as suas actividades.
Na mesma esteira foi realizado o estudo de mercado de modo a que a produção tenha mercado predestinado e seja transaccionada em condições mais estruturadas. Numa primeira fase os camponeses estão a trabalhar em campos de arroz, no entanto, na próxima campanha vão estender para a produção de hortícolas.
Deste grupo, 19 jovens concluíram a sua formação nas instituições de ensino técnico e agrárias de Chókwè onde concluíram os cursos e se aproximaram do IPEME para obter instrumentos para serem empreendedores.
CONTABILIDADE ORGANIZADA
A nossa fonte apontou ainda que um dos factores que concorre para o fraco desempenho e desenvolvimento das PMEs é a falta de uma contabilidade organizada, o que resulta na má gestão, pois os gestores não conseguem distinguir as receitas dos lucros, não tem registo de actividades diárias, planos de negócios, entre outros. Tudo isto faz com que desenvolvam o seu negócio de forma precária.
Segundo Zimba, estes problemas são antigos e levantam outros que, aparentemente são mais difíceis de resolver, como são os casos de dificuldades para o acesso a financiamento, porque nenhum banco empresta dinheiro a uma empresa que não consegue interpretar correctamente as soluções de financiamento adequadas à sua actividade.
“O financiamento bancário só vai deixar de ser problema se as empresas estiverem estruturadas, dai que a nossa abordagem é trabalhar na estruturação empresarial. Nenhum banco vai dar financiamento a uma empresa que não tem contabilidade organizada, pois o risco é muito elevado”, disse Claire Zimba.
Perante esta realidade, o IPEME apoia na estruturação dos dossiers de financiamento das PMEs para, por essa via, perceber as reais necessidades das empresas, o que depois ajuda na compreensão, pela banca, sobre a viabilidade ou não do projecto em causa.
“Muitos pedidos que recebemos estão ligados ao acesso ao financiamento, mas quando a equipa técnica trabalha no diagnóstico descobrimos que esse não é o real problema, mas sim a má gestão”, sublinhou.
Disponíveis soluções
para o financiamento
Com vista a oferecer soluções às PMEs, o nosso entrevistado revelou que estão abertas e em promoção linhas de financiamento, parte das quais bastante divulgadas e outras que ainda desconhecidas pelos potenciais beneficiários.
A título de exemplo, Zimba disse que no ano passado foi lançado o Fundo Empresarial da Cooperação Portuguesa, especialmente para este grupo de empresas e está disponível nos quatro maiores bancos comerciais que operam no país.
Trata-se de um fundo no valor de cerca de 11 milhões de dólares americanos, com taxas de juro bonificadas, que está voltado para o sector produtivo, nomeadamente cadeia de valores do agro-negócio, indústria, turismo. Este fundo serve igualmente para apoiar empresas interessadas em estabelecer vínculos de negócios com grandes empresas.
O mesmo fundo pode ser usado como garantia de crédito e este pode cobrir o risco para o caso de uma Micro Empresa até 80 por cento e para o caso de uma Pequena e Média Empresa pode cobrir até 55 por cento.
“O empresário que for a um dos bancos para concorrer à linha das PME’s precisa ter um Plano de Negócios e nós ajudamos a elaborar. Também criamos uma Bolsa de Consultores, composta por especialistas, para ajudar o empresário a construir o dossier de financiamento para submeter à banca e depois fazemos o acompanhamos por dois anos”, sublinhou Zimba.
IPEME formaliza informais
Claire Zimba revelou ao nosso jornal que aquela instituição está a desenvolver um programa piloto em quatro mercados das cidades de Maputo e Matola que está voltado para a formalização do comércio desenvolvido por 65 mulheres.
Segundo referiu, as beneficiárias estão a ser dotadas de ferramentas de contabilidade, gestão e de conhecimentos sobre técnicas de abordagem e estabelecimento de ligações de mercado.
Na mesma perspectiva, está em curso um programa denominado “Quero ser Formal”, que conta com a participação de cerca de 100 jovens praticantes do comércio informal. Consta que até ao momento foram licenciados 60 beneficiários estabelecidos nos distritos de Manhiça, Matola, Marracuene e Moamba, na província de Maputo. “A ideia é começar a trabalhar com eles na componente de gestão, contabilidade, melhoria de processos produtivos e marketing básico”, sublinhou.
Apuramos ainda que existe e está a ser operada uma linha de financiamento criada pelo governo moçambicano e americano que está orientada para o apoio ao agro-negócio, com destaque para a aquisição de maquinaria. Esta linha, que não opera através de bancos comerciais, faz a subvenção a título de Fundo Perdido. Claire Zimba disse que um dos requisitos exigidos é que a empresa em causa comparticipe com 30 por cento do valor total do investimento.
Angelina Mahumane
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