– Manu Dibango, músico camaronês
Sereno, trabalhador, metódico e sempre bem disposto, é o mínimo desfile de adjectivos que podemos usar para caracterizar o “Leão de África” – o saxofonista camaronês Manu Dibango.
Conversamos com Papa Manu (como carinhosamente o tratam os mais próximos), em París- França, onde ele vive. Uma conversa faseada que foi sendo feita em sua casa, nos restaurantes por onde almoçamos ou jantamos com ele, assim como no Studios Ferber, onde ele e o músico Moreira Chonguiça privaram durante dias, gravando um disco.
Atencioso, fez questão de nos receber logo à chegada. E a primeira refeição, depois da saudação, foi em sua casa. Peixe com legumes. O peixe chama-se Sol of Cameron (um peixe muito popular nos Camarões). Aliás, em Dualá, terra onde Manu Dibango nasceu come-se mais peixe do que carne.
MÚSICO PARA TODAS AS CLASSES
Manu Dibango cultiva o hábito de trabalhar e praticar sempre. Pois segundo ele, só assim se consegue criar e alcançar o sucesso. Suas músicas alcançam vários públicos.
“Há uma parte de mim que não é conhecida em África, um lado musical diferente e calmo. Os africanos gostam de música para dançar e você não toca jazz para eles ouvirem, mas para os pés e não para a cabeça”, afirma Dibango.
Sempre disposto a trabalhar, Manu é apologista de uma cultura de trabalho e aproveitamento das oportunidades. “Se tiveres oportunidade de fazer, o melhor é fazer porque nunca sabemos do amanhã. Em 1983, gravei o disco de música mais calma, Soft And Sweete fiz também para Cartoon – desenhos animados”.
Dos ritmos de Camarões, Manu Dibango alcançou a universalidade. “ Eu sou um músico que vem de África. Não um músico africano porque toco para o mundo”.
África produz talentos, mas ainda há muito por fazer. “ É tempo de começar a pensar no continente africano. Temos muitos problemas por resolver. É preciso pensar para frente e sermos exemplares. Procurar soluções dos problemas africanos em África”.
Manu Dibango olha para África com esperança, embora tenha reticências, a avaliar pelo que já fez. “Sou Padrinho de muitos projectos em Camarões. Já investí muito e não tive resultados. Mas é o nosso país, nosso continente e a nossa responsabilidade é fazer o que deve ser feito”.
Segundo o “Leão de África”, a cultura é uma parte que pode fazer sobressair África.“Mas há muito mais para ser feito. É preciso pensarmos na maneira correcta de aproveitar os nossos recursos humanos e naturais. Temos que capitalizar a agricultura, criar indústrias fortes e capazes”.
MOÇAMBIQUE É UM PAÍS IMPRESSIONANTE
Manu Dibango escalou Moçambique pela primeira vez, no ano 2012, através da More Promotions. Veio participar na segunda edição do More Jazz Series.
Fazendo-se acompanhar pela sua banda Soul Makossa Gang, Manu actuou no Hotel Polana e fez encerramento da FACIM, em Ricatla-Marracuene. Aliás, nos dias 30 e 31 de Outubro corrente, Manu Dibango, estará em Maputo para participar na quinta edição do More Jazz Series, no Hotel Polana e na baixa da cidade, JAT5.
“Em Moçambique fiquei impressionado pelo facto de ser um país diferente. Rodeado de anglo-saxónicos, vocês são colónia portuguesa com um tique universal”, afirma Manu Dibango.
Questionado sobre a música moçambicana, Dibango afirma: “Conheço muito pouco a música moçambicana. Aqui em França, temos músicos cabo-verdianos e angolanos, em parte por causa da Total”.
Conheceu Moreira Chonguiça e a paixão de juntos trabalharem brotou com facilidade. “Conhecí este jovem e decidimos gravar juntos um álbum que se chama M&M. Um álbum universal mas com timbre africano. É maravilhoso trabalhar com ele”.
Manu afirma ainda sobre o M&M que : “Tocar com Moreira foi uma experiência ímpar. Eu nunca tinha tocado assim e acredito que ele também. Mas antes de tocar é preciso existir conectividade. Eu venho de Camarões e ele de Moçambique. Isto é que é União Africana”.
QUEM É MANU DIBANGO?
De nome Emmanuel N'Djoké Dibango, o simplesmente conhecido por Manu Dibango , nasceu em Duala, em Camarões, a 12 de Dezembro de 1933.
Manu é um saxofonista de jazz e afrobeat. Ao longo da sua carreira teve várias colaborações com músicos africanos e de outros continentes.
Soul Makossa é o nome da sua banda. Coincidentemente, Makossa é o título da sua música mais famosa. Makossa é um estilo musical de Camarões, cujo trecho foi utilizado para combinações em músicas de variados ritmos.
“Vim viver em Paris nos tempos complicados. Mas não vim como imigrante. Vim com passaporte porque meu pai pagou”.
A carreira de músico nem sempre foi coroada de coisas . “Tive problemas porque meus irmãos eram engenheiro e advogado. E meu pai sempre perguntava: e você, vai ficar na música? Mas fiquei famoso e meu pai ficou orgulhoso. E ser músico é um desafio. Todas as noites você gasta dinheiro e por vezes é obrigado a conviver com pessoas más. É a vida de artista”.
Centenas de concertos e prémios diversos marcam os 82 anos de vida de Manu, muitos dos quais passados na música, em estúdios e em tournés. “Marcou-me bastante a actuação que tive em 1999, quando toquei no Vaticano com a minha banda. Era semana católica”.
A música tem estado a ganhar outros contornos. Uns fazem-na em poucos segundos em estúdios electrónicos. Mas existem os perfeicionistas. Manu é um deles.“A música é funny mas é séria. Não se pode pensar fazer a música apenas por fazer. É preciso ouvir música de vários países e de outros artistas para ter a percepção. Também é preciso ensaiar e praticar muito, adverte Papa Manu”. Em termos de discografia, Manu Dibango já produziu dezenas