“Um novo mundo – leve-me até lá”. Este foi o lema adoptado pelos organizadores do Standard Bank Joy of Jazz festival, decorrido na cidade de Sandton, na África do Sul, entre os dias 24, 25 e 26 de Setembro último.
Era a décima oitava edição que juntou nos quatro palcos : Dinaledi, Diphala, Conga e Mbira, artistas provenientes de vários quadrantes do mundo. E para os assistir cantando e tocando, estava uma plateia diversificada que continha moçambicanos, sul-africanos, Swazis, Tswanas, Suthos, entre outros estrangeiros.
Como pratos aliciantes destacavam-se no cartaz : Peabo Bryson, Hugh Masekela e Oliver Mtukuzi, Ray Phire e Stimela, Marcus Miller, Yellow Jackets, Larry Carlton, Jimmy Dludlu, Vusi Mahlasela, entre outros.
As actuações decorreram normalmente, com o habitual vai e vem dos assistentes que no final de cada actuação movimentavam-se para outro palco, seguindo o programa e em função das suas apetências.
Duas nódoas mancharam o Standard bank Joy of Jazz. A primeira, relativa ao tempo prolongado, mais de quarenta minutos, no processo de mudança de uma banda para a entrada da outra. Outro marco negativo foi o atraso verificado no início dos espectáculos. Fora isso, em outros aspectos organizacionais, a oitava edição foi impecável. Segurança, limpeza, som e luz à altura permitiram que os cerca de quarenta músicos fossem assistidos com gosto. Das surpresas do festival destaca-se a brilhante ideia do trompetista sul-africano Hugh Masekela que para além de tocar com Oliver Mtukuzi, trouxe ao palco um grupo composto por quatro senhoras, Shai Shai, que tocam Mbira e cantam. Foi uma oportunidade soberba de ver desfilar no palco Conga, quatro mulheres que apostam na música tradicional. Claramente, por algumas pessoas da plateia não estarem familiarizadas com aquele género de música, e outros ainda, ávidos de ver seu ídolo, Hugh Masekela, a tocar trompete e a dançar, a dada altura assobiaram, pedindo a saída das senhoras Shai Shai. O que viria a acontecer depois da quarta música.
Não se pode fazer vista grossa à outra iniciativa acontecida no festival. No dia 24 de Setembro, dia primeiro do evento, o palco Dinaledi acolheu a actuação do aMaqhawekazi Big Band, um projecto apresentado por Prince Lengoasa.
O Joy of Jazz , para além da componente musical, cumpre a Responsabilidade Social através da inserção social das comunidades no mundo do jazz. Permite que as comunidades possam ter oportunidades de assistir os músicos do Jazz. “O festival é mais do que a actuação dos músicos. É uma combinação de várias coisas. Uma delas é o facto de estarmos a criar oportunidades para as nossas comunidades verem o Jazz”, afirma Peter Tladi, produtor do festival.
A área da educação também é contemplada no evento. “ Sendo o mês de Julho, dedicado a Nelson Mandela, defensor do culto do saber, hospedamos um projecto de aprendizagem que se materializa através de workshops. E no mesmo contexto, contribuímos para a fortificação da indústria criativa ao formar jovens através de workshops, masterclass”, afirma Tladi.
JIMMY DLUDLU IGUAL A SI MESMO
Sandton esteve repleto de moçambicanos que aos casais ou em grupos de amigos se fizeram presentes naquela cidade para de perto testemunharem a actuação dos músicos que faziam parte do line Up do Standard Bank Joy of Jazz 2015.
Houve quem dissesse que em Sandton só se falava Português. E realmente a língua portuguesa era a que mais se destacava nos restaurantes, nos palcos do festival, nas discotecas como Tabu e no Meat Lounge. Isto porque os moçambicanos estavam em peso em Sandton para assistir ao festival.
A presença dos moçambicanos no festival foi de alguma forma, motivada pela actuação de seus compatriotas. Jimmy Dludlu, Mingas, Jaco Maria, Wanda Balói e o percussionista John Hassan.
Jimmy Dludlu e amigos, era como se intitulava o momento dedicado ao guitarrista moçambicano. Ele tinha como convidados: Sara Tavares (Cabo Verde), Mingas (Moçambique), Manou Gallo (Costa do Marfim) e Nono Nkoane(África do Sul).
Igual a si, Jimmy Dludlu apresentou-se no palco Conga enérgico para tocar perante uma plateia repleta de moçambicanos. Rebuscando músicas de seus álbuns conhecidos pelos moçambicanos, Jimmy tocava a guitarra, acompanhado por um coro bem educado e conhecedor de suas composições.
Sara Tavares, de guitarra na mão, apareceu no palco e disse: “Boa noite. Estou a ver que há muitos moçambicanos aqui. Vamos cantar juntos”.
Balacêeeeefoi o tema inicial e que logo contagiou a plateia. Seguiram depois, Bom feeling, Kaya Kaya. “Somos livres para celebrar, como disse Nelson Mandela. Vamos fazer a festa”, assim falava Sara Tavares.
O palco de Jimmy foi invadido por uma mulher de voz suave, Nono Nkoane, e juntos continuaram a festa. Minutos depois, ecoava de longe outra voz, segura, inconfundível que despertou a plateia. Mingas. Usando da sua experiência, a cantora moçambicana convidou a plateia para uma viagem conjunta. E assim aconteceu a festa, em Sandton, ao ritmo da Marrabenta, através da composição Xikongolotana.
Man who lost His shadow; Puza wyse; Saudades; Peaceful moments (Nono nkoane); Village/Tonota; Balance (Sara Tavares); Bom feeling (Sara Tavares); Xikongolotana (Mingas); Linda; Skokiaan; ABJ-BXL (Manou Gallo); Walk of life (Manou Gallo); Point of view; Motherland (todos), foram as composições através das quais Jimmy Dludlu animou a plateia do palco Conga.
Depois do concerto, Mingas disse: “Foi um espectáculo muito forte. Jimmy estava com energia. A minha participação foi boa, embora não fácil por não ter tido muito tempo para ensaiar. Mas daquilo que conseguiram tocar foi para além das minhas expectativas. Fez-se um trabalho bonito. Sentiu-se outro toque, pois eles tocam jazz, era um outro pimento. Algo bom é que não tinha coristas, mas a presença dos moçambicanos foi boa porque fizeram o coro. Foi demais. Adorei a prestação da plateia moçambicana. Acho que o Joy of Jazz devia fazer uma vénia aos moçambicanos que não só assistiram, mas deram apoio aos músicos. Agradeço o convite do Jimmy para a ele me juntar no palco”.
Da Costa do Marfim veio a baixista Manou Gallo para fazer dueto com o dono do palco. Uma combinação fenomenal para gáudio dos espectadores.
No final da actuação, Jimmy Dludlu disse:
“A minha actuação, feita com amigos, centrou-se muito mais naquilo que chamo de show dos meus convidados. De Moçambique veio a Mingas que é uma cantora com longa estrada. A Nono e Mano Gallo. Portanto, foi uma actuação de demonstração das qualidades dos que por este palco passaram”.
Relativamente à situação que se vive no país, Jimmy Dludlu disse: “Pedimos aos nossos líderes africanos e religiosos para que sentem e discutam para que haja Paz. Assim não temos como pensar no futuro da geração pois sem paz não pode haver desenvolvimento. É complicado viver no meio da guerra”.
Camilo Lombard (Piano), Lucas Khumalo (Baixo), John Hassan (Percursão), Sisonke Xonxi (Saxofone), Siya Charles (Trombone), Bradon Ruters (Trombone) Tomasito (bateria), são os instrumentistas que acompanharam Jimmy dludlu.