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Mafikizolo: imponentes na noite dos “Bons Rapazes”

Por admin

O Festival MTN Bushfire 2016 comemorou o seu décimo ano apresentando sempre um incrível line-up de artistas regionais e internacionais e uma grande multiplicidade de actividades culturais e artísticas.

Esta edição, a paixão, dedicação e compromisso com a música, artes e cultura de África voltaram a ser a tónica de um evento que teima em primar pela excelência de organização e sobretudo pela perfomance dos executantes. Aclamado pela CNN como um dos sete melhores festivais de África e mais recentemente pela BBC, o Bushfire em Manzini alia a riqueza musical africana, o folclore e uma interessante experiência holística, que inclui as artes, a gastronomia, a cultura e actividades familiares. Sem dúvidas uma imersão cultural sem igual. Sublime pela celebração de África, do espírito humano e a alegria da expressão criativa.
 28 de Maio de 2016. 19 horas e 20 minutos. 5 graus estaladiços. 7 mil pessoas. O apresentador anuncia a banda moçambicana Ghorwane. Perto de mil moçambicanos  entram em dellirium tremens. Chitsondzo ensaia murmúrios líricos de um hit que rivaliza com a história da banda. Desiste e embarca num “Majurugenta” com uma perfomance fora do comum, com os irmãos Baza Baza a fazerem uma espécie de “subshow” ou um se quisermos ser menos “sintácticos” um “entreshow”. Tony Paco entendeu percursionar o público e convidou  Sheila Jesuita, Carlos Gove e Djivas para um eclético rouquejar de vozes e instrumentos. O resto foi uma autêntica encomenda de uma  dinastia ronga, vinda das margens de um lago algures no Chibuto. Ghorwane fez a festa na terra de sua majestade Mswati e teve o condão de elevar a estima dos moçambicanos, vindos de Moçambique e na diáspora, que orgulhosamente levantaram bandeiras e cachecóis enfatizando e sublinhando a sua moçambicanidade. Com compassos contagiantes e uma descrição lírica de encher o olho os “Bons Rapazes” destilaram em Nzolwilini sentimentos fortes com “Vana va Ndota” e elevaram os valores da paixão, emoção, entusiasmo e ardor com uma máquina de fazer música bem lubrificada e que se recusa a ir para a sucata. Um diplomata português ido de Moçambique, com uma bandeira moçambicana em punho e do alto de um sotaque luso-moçambicanizado foi cáustico na síntese da actuação da banda: “esses gajos são como o vinho….”   E quem esteve lá agradeceu tamanha disponibilidade lírico-etílica.

Mafikizola: majestade em terra de rei

Esta banda é de uma dinâmica incrível. Entrou logo depois dos “Bons Rapazes”. Ainda o público se refazia dos desacatos líricos da banda moçambicana e já os sul-africanos entravam em hostilidades. Nhlanhla Nciza, Theo Kgosinkwe, Tebogo Madingoanee Bez Robertsentraram de rompante com o aclamado “Khona” e o delírio não foi evitado. Definitivamente, a par dos Ghorwane, a banda sul-africana conquistou os corações da maioria espectadores que participaram do segundo dia do festival na noite de sábado. Nhlanhla Nciza e Theo Kgosinkwe não decepcionaram e deram um “show de música”. "Ndihamba Nawe ' foi o zénite de uma actuação soberba estimulada por uma qualidade de som ímpar.  O grupo não só cantou seus novos sucessos, mas também os antigos e que levaram a multidão  à loucura, num reportório que incluiu o emblemático 'Emlanjeni' e sucesso de rádio "Nisicoshelani '. Mais do que o rico reportório, a banda fez-se valer pela impressionante destreza nos movimentos de dança. “Six Mabone”, o novo álbum dos Mafikizolo, depois de uma pausa de dois anos, é o primeiro sem o eclético  Tebogo “Tebza” Madingoane, morto a tiro depois de uma briga de trânsito. O álbum é uma espécie de comida feita com restos de véspera e condimentada por salpicos de outra guardada no frio de sucessos anteriores. O resultado foi um pouco de afro pop ajustado a partir  de um “swing” e “kwela” mais tradicional. Aliás, o “remix” com um estrondo de Miriam Makeba mereceu especial ovação, sobretudo pela coragem.  Animou muito.

Blitz the Ambassador e Oliver Mtukudzi enigmáticos

Oliver Mtukuzi, do Zimbabwe e Blitz the Embassador, do Gana, tiveram a ingrata tarefa de voltar a aquecer as almas de pouco mais de cinco mil pessoas que teimavam em resistir os gélidos 5 graus. Um frio insuportável e com alguns episódios irritantes de chuviscos. Ainda assim, demonstraram muita qualidade e sobretudo competência profissional, pois espreitaram com mestria investidas importadas do hip hop e do folcórico. Mtukudzi não fugiu à regra e tratou de convocar a  inseparável guitarra para uma caminhada que o levou a revisitar sucessos como “Todii”, “Neria”, “Ndima Dzapedza”, um reportório popular do cancionero zimbabweano, sem dúvidas a convidar-nos implicitamente para uma introspecção sobre o valor cultural da música africana. Acompanhado por um naipe de executantes “fora de série”, Mtukudzi foi igual a si mesmo: frio, mas desconcertante pelo alcance, qualidade e objectividade das suas músicas. Blitz the Ambassador, o jovem ganês baseado em Brooklyn, nos Estados Unidos da América, foi mais efusivo e encheu o palco com performances aceitáveis. Blitz buscou não seu reportório abraçar o ritmos do oeste africano e sons populares com um estampido soul americano, uma combinação que resultou em elegantes  batidas afro-americanas, ou, se quisermos, um afrobeat saudável. Aliás, o álbum “Native Sun” é uma estória lírica de quem foi à busca de um sonho em terras americanas. Uma espécie de narrativa “Afropolitan Dreams” baseada no próprio Blitz the Ambassador. Entre o afrobeat de Fela Kuti e o old school hip hop de Public Enemy, Blitz construiu o seu próprio mundo sonoro, com um alinhamento “sui generis”.  E faz questão sempre de lembrar: “África é o berço e o futuro da humanidade.” Falou e disse.
Leonel Magaia
leonel.magaia@noticias.co.mz

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