Há mais de uma década que não se pode falar do teatro em Moçambique sem se fazer referência ao FITI (Festival Internacional de Teatro de Inverno). Concebido como uma plataforma de promoção dos grupos de teatro amador, o FITI desde a sua criação tem sido o maior, senão o único festival que agita o movimento teatral moçambicano e não só, através de actividades como espectáculos, workshop’s e debates – o tradicional Papu cultura.
Tendo estreado no dia 28 de Maio do ano em curso a 13ª edição do FITI, para além dos espectáculos de teatro que este ano estão a ser exibidos no Teatro Avenida e no CCFM (Centro Cultural Franco Moçambicano), estão a decorrer desde o dia 26 de Maio várias actividades ligadas ao festival como é o caso do PAPU KULTURA, que é um espaço onde os fazedores e amantes de teatro se juntam para reflectir sobre diversos assuntos relacionados com o teatro e com o FITI, em particular.
No âmbito do PAPU KULTURA na noite do passado dia 02 de Junho, no Moda Xikavalo (Teatro Avenida), representantes de diversos grupos de teatro que estão a participar do FITI, professores e estudantes universitários, jornalistas e público no geral, juntaram-se para discutir acerca de “Dramaturgia e Influencias” – um tema que teve como oradores Rogério Manjate, Felix Mabombo e Dadivo José.
Falar de dramaturgia é mesmo que falar da própria prática teatral, dado o nível de abrangência deste signo que não só diz respeito ao texto, mas também ao espectáculo e a sua recepção. E sendo o teatro uma forma de arte, está inevitavelmente sujeita a influências, uma vez que é fruto do dialogo que o artista estabelece consigo próprio e com o mundo que o rodeia. São estas, as palavras que constituem a súmula do discurso inicial do orador principal Rogério Manjate que para além de ser actor e encenador, é também professor no Curso de Licenciatura em Teatro na Escola de Comunicação e Artes da UEM.
Convidados para reagir pelo moderador do PAPU KULTURA Joaquim Matavel – membro da Associação de Teatro Girassol organizador do FITI – Dadivo e Mabombo (ambos actores e autores de várias peças teatrais) foram unânimes em afirmar que é uma experiência interessante se aventurar na escrita dramática, na medida que através dela procuram exprimir as suas impressões sobre o mundo que os rodeia, mas para que se tenha um produto de qualidade é importante conhecer a técnica, para melhor articular o discurso e todos signos que a dramaturgia evoca.
A intervenção destes três oradores foi, sem dúvidas, o atear do debate que a partir desse momento contou com intervenções de outras vozes como é o caso da Manuela Soeiro, fundadora e directora do grupo de teatro Mutumbela Gogo – a mais antiga companhia de teatro profissional moçambicano que este ano comemora 30 anos de existência – que afirmou ter uma atitude de olhar para o teatro como a expressão mais profunda da vida, e que apesar de não dominar a teoria teatral, ao longo dos seus trinta anos de experiência teve oportunidade de trabalhar com diversos homens do teatro entre eles moçambicanos e estrangeiros que lhe ensinaram a ser pragmática e a conceber o teatro como uma arte que exige liberdade de criação, não aceita formulas e muito menos verdades absolutas.
O público presente também não se fez de rogado e para aquecer mais o debate levantou uma serie de questões pertinentes, onde podemos destacar a seguinte: pela influência da oralidade que caracteriza o povo moçambicano ou africano, o nosso teatro tem a tendência de produzir espectáculos que partem da improvisação ou criação colectiva e não do texto escrito. Como é que neste tipo de processo de criação a dramaturgia acontece?
E para responder a essa questão, Jorge Vaz, actor do Mutumbela Gogo, afirmou que apesar de ser criação colectiva há sempre uma reflexão que o colectivo envolvido nesse processo faz sobre as escolhas feitas, de modo a avaliar a sua funcionalidade ou não. E para sustentar esse pensamento Rogério Manjate disse no seu último discurso que é necessário que se tenha uma consciência dramatúrgica no exercício da prática teatral, pois é através dela que se encontra o caminho que nos leva a um pensamento estruturante e coerente do espectáculo.
Na última semana, o debate sobre o tema “A Audiência e a relação com os Actores” foi orientado pela encenadora e professora universitária Maria Atália.