O movimento literário “Charrua” lançou ontem, no quadro das comemorações dos 30 anos de existência, uma colectânea contendo as oito edições da revista, publicadas entre 1984-1986, num evento que teve lugar na Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).
A organização da colectânea
é da responsabilidade do escritor
moçambicano Jorge Oliveira,
do Secretariado da AEMO (autor
de “Pneus em Chama), em parceria
com a Alcance Editores.
Trata-se de uma reconstituição
exacta dos textos outrora
publicados na revista, que nas
palavras do escritor Juvenal
Bucuane, “vão servir de ensinamento
para as novas gerações
aprenderem algo”.
A revista simboliza a existência
de uma literatura moçambicana
pôs-independência, pois com ela pretende-se, como
esclarece Bucuane, explicar as
dinâmicas do movimento sobre
o qual diz respeito ao desenvolvimento
da literatura.
“Esses jovens eram anónimos,
mas estavam apaixonados
pela literatura. O trabalho
que tínhamos era reunirmos,
fazer circular escritos
entre nós e atribuir valores
aos escritos”, conta Juvenal,
quando se refere ao processo
histórico da criação da revista.
O movimento literário Charrua
constitui uma viragem na
literatura moçambicana. A literatura
produzida antes da independência
era de combate, mas
como explica Lucílio Manjate, escritor
e docente na Universidade
Eduardo Mondlane, “a geração
Charrua aparece mesmo contra
essa literatura panfletária
e busca se afirmar”.
Manjate sublinhou que era
a literatura panfletária, o ponto
de discórdia entre as duas
gerações. Bucuane é mais dramático:
“naquela altura não
tínhamos interacção com a
geração que antecedíamos.
Até os espaços não nos aceitavam,
alguns membros da
direcção não nos viam com
bons olhos”, desabafa.
Para Manjate, estes escritores
inauguraram uma nova forma
de apresentar a ideologia,
buscam a liberdade, a reformulação
da linguagem.
Segundo o escritor, houve
um bloqueio: “há uma vedação
à geração, há aqui um impedimento”.
Bucuane, sem receio,
aponta o dedo: “os escritores
daquela altura não aceitavam
que publicássemos em seus
instrumentos porque não tínhamos
nome, então decidimos
criar nossa revista”.
GAZTA DA “TEMPO”
A GAZETA de artes e letras,
da revista Tempo, foi um dos
meios que os então jovens escritores
usaram para se firmar
nos meandros literários. Jorge
Oliveira, na altura coordenador
da GAZETA, explicou que a mesma
teve uma importância significativa,
a partir do momento em
que a maioria da população tinha
acesso a ela.
“Foi um espaço de eleição
na altura, muitos iniciaram
a sua publicação lá de modo
privilegiado. A Charrua era de
circulação menor, a “Tempo”
era uma revista de circulação
maior. Foi na GAZETA onde
apareceram mais em termo
reais. Maior número deu a conhecer
grande parte dos seus
trabalhos”.
Oliveira lembra ainda que a
Gazeta teve o seu impacto pelo
facto de ter sido um espaço aberto
a todos, porque “não havia nenhum
critério para ter direito
de publicar, fora a qualidade
dos textos. Mas foi na Charrua
que tiveram mais empenho,
pois era o espaço deles”.
Pretilério Matsinhe