O presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, de visita à província de Maputo, instou a liderança da Renamo a especificar o modelo e papel dos facilitadores ou mediadores internacionais no diálogo político tendo em vista ao alcance da paz duradoira no país.
Na ocasião, o Chefe do Estado mostrou-se receptivo à presença de observadores no diálogo para, segundo suas palavras, falar para terminar a guerra e desenvolver Moçambique.Nós queremos perceber quem são essas pessoas e como é que vão trabalhar. Se o problema for a questão dos intermediários, nos aceitamos para que não morram mais crianças.
Adiantou que a pressão vem de ambos os lados, mesmo na Gorongosa, a situação não é das melhores, porque não sabemos o que está acontecer lá, sabemos apenas dos ataques nas estradas na região centro em geral.
Na ocasião, o presidente da República ressalvou que o Estado podia muito bem fazer o que bem entendesse para resolver o problema, mas que o recurso a força não era sua intenção, privilegiando um diálogo frutífero.
O nosso objectivo é vivermos juntos e falarmos para desenvolver o país. Por essa razão, não vamos permitir que Moçambique seja bloqueado. Eu estou disponível. Para evitar que haja pessoas a morrer, vamos aceitar que haja os mediadores para podermos falar, mas o importante é falarmos para terminar com a guerra e desenvolver Moçambique.
Filipe Nyusi falou da criação da comissão mista integrando três elementos do Governo e igual número da Renamo, encarregue de preparar o seu encontro com o líder da Renamo, que de acordo com as suas palavrasé seu desejo que houvesse poucas reuniões para que não se repita a canseira das rondas das conversações que tiveram lugar do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano.
Na ocasião, o presidente referiu que as duas equipas estão a falar e já produziram uma proposta da agenda em que a Renamo vem com as suas propostas, designadamente, a governação das seis províncias onde reclama vitória nas eleições de 2014 e a situação das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Do lado do governo explicou que colocou na agenda a questão do cessar-fogo ou seja, a cessação imediata e completa dos ataques protagonizados pelos homens da Renamo e seu desarmamento, no âmbito do respeito à Constituição da República.
Um partido político não pode ficar armado e esses pontos estão na agenda na filosofia de que estão para ser discutidos. Portanto, dissemos que já chegou o tempo de dialogar e depois perguntei o que é que falta e eles disseram que precisam de mediadores e caso não sejam aceites não se pode falar, mas o povo está a morrer.Aspessoas não podem viajar à vontade, de noite dormem em cima das árvores. Nãose pode hipotecar a vida da população com exigência dos mediadores internacionais no diálogo.
CUSTO DE VIDA E CRIMINALIDADE
A par da tensão militar, a onda de criminalidade, o custo de vida, bem como o desenvolvimento socioeconómicoconstituíram a principal tónica dos discursos do Chefe do Estado na sua interacção com a população durante os três dias de visita efectuada à província de Maputo terminada ontem no distrito da Manhiça.
Tratou-se de um momento Ímpar em que por um lado a população apresentou as suas inquietações, mormente à necessidade de paz efectiva e duradoira, infra-estruturas sociais, melhoramento dos sistemas de abastecimento de água, rede de energia, entre outros aspectos.
Tal aconteceu na cidade da Matola e nos distritos de Matutuíne, Moamba e Manhiça, onde a população manifestou o desejo do restabelecimento da paz, o mais breve possível para se engajar na produção de comida.
Por outro lado, o presidente convidou insistentemente o povo a engajar-se no trabalho para a produção da riqueza, para quem o problema dos moçambicanos não se resolve apenas falando, mas com entrega ao trabalho árduo para a superação das necessidades básicas, na saúde, educação, habitação, entre outros.
Relativamente a questão da criminalidade, o Chefe do Estado prometeu endurecer as medidas do seu combate, ao mesmo tempo que instou as comunidades a serem cada vez mais vigilantes, identificando quem sai e entra como novo residenteem determinado bairro.
Segundo afirmou o crime muitas vezes é agudizado pela falta de algumas necessidades básicas para certas camadas sociais que nada fazem para ter algum sustento, limitando-se a roubar àqueles que fazem esforço para ganhar a vida.
Este fenómeno em parte é causado pelo elevado custo de vida o que traz ao de cima a pobreza extrema e a pessoa chega a pensar que a solução é roubar. Portanto, quem não tem comida, água, luz e como viajar facilmente de um ponto para o outro, pode ser tentado a enveredar pelo crime, ou seja, a pobreza é a maior responsável, é que cria a criminalidade,disse Nyusi sublinhando que ela em muitos casos é igualmenteresponsável pelas guerras que surgem pelo mundo.
TRABALHAR MAIS PARA VENCER OBSTACULOS
No segundo dia de trabalho o Chefe do Estado fez uma visita-relâmpago ao Hospital provincial em funcionamento há dois anos, que segundo afirmou,visava compreender o trabalho e o dia-a-dia dos profissionais de saúde, bem como os utentes com que dialogou a ponto de se terem esquecido entrementes de que estavam à procura de cuidados sanitários, devido à interaccao com o presidente da República.
Em Matuituíne, FilipeNyusi instou a população a investir mais tempo na cultura do trabalho de modo a produzir riqueza para resolver os problemas da pobreza, justificando que osproblemas que temos de subdesenvolvimento não se resolvem com palavras mas com trabalho árduo para a produção da riqueza.
Muitas das vezes os conflitos surgem por falta de alimentos nas famílias, pelo que há que trabalhar para combater a pobreza e a falta de comida nas famílias, disse Nyusi apelando a população de Matutuíne a explorar as potencialidades agrícolas através da aposta nas culturas de curto ciclo de produção e aproveitamento da água do rio Maputo.
No seu entender é preciso identificar e localizar os problemas do povo e procurar resolvê-los para acabar com as discordâncias que acontecem em algumas regiões. Para acabar com a fome não basta rezar para que chova ou que alguém saia àrua para se manifestar. Se a pessoa não tem nada para comer terá comida sentado em casa ou tem que procurar trabalho? Vai ter dinheiro para estudar ou ir ao hospital ou é necessário ir se empregar para ganhar algum valor para pagar as despesas correntes?
O chefe do Estado foi ainda mais esclarecedor ao afirmar que se alguém tiver boa roupa, electricidade e um sistema regular de transportes e de fornecimento de água, emprego seguro, com os filhos na escola,não terá tempo de pensar em coisas negativas.
Vamos trabalhar e nós como governo prometemos ajudar na criação de mais postos de emprego através da promoção de pequenas e médias empresas, bem como de infra-estruturas sociais básicas. Portanto, temos que falar do trabalho porque não se pode combater a pobreza com guerra, ou seja, a violência não vai resolver os nossos problemas,
PAZ ACIMA DE TUDO
Ainda no segundo dia de vista a esta província, Filipe Nyusi escalou a vila fronteiriça de Ressano Garcia onde foi recebido em apoteose com danças e cânticos exaltando a necessidade da preservação da paz e unidade nacional.
Por exemplo, um grupo cultural de crianças intitulado Sirene da Paz demonstrou através de uma coreografia as realizações do governo que na sua óptica só podem ser consolidadas com a paz. Estas crianças também falaram das potencialidades do distrito da Moamba, entre elas, a central térmica para a produção de energia a partir do gás natural.
Mas o que chamou atenção naquele momento cultural que antecedeu as danças foram poemas declamados por aquelas crianças com idades compreendidas entre os sete a catorze anos a incentivar o Chefe do Estado a prosseguir com diálogo tendo como objectivo a paz duradoira.
“O nosso maior desejo é viver em paz papá Nyusi pelo que pedimos para que continue com o diálogo para estudarmos no sentido de desenvolver o nosso país. Não queremos a guerra que para além de nos matar e tornar-nos órfãos, destrói as infra-estruturas sociais, retardando o desenvolvimento” ouviu-se do “Sirene da Paz”.
A mensagem da população deste distrito fronteiriço apresentada por Zacarias Nhantave, falouda paragem única para a migração, a alocação dos transportes públicos de passageiros para a vila sede, Moamba, bem como para Ressano Garcia, como realizações de realce.
Mas queixou-se da falta de iluminação pública, fraca qualidade de energia, problemática das vias de acesso que estão bastante esburacadas ou cheias de pedregulhos, tendo pedido uma escola técnica e ampliação da rede sanitária, entre outras necessidades primárias.
Para responder a esta e outras preocupações, Filipe Nyusi reiterou que tudo se resolve com a entrega abnegada ao trabalho de modo a produzir mais comida para o consumo interno para reduzir as importações dos alimentos da vizinha República da África do Sul.
Aliais, sobre as importações disse não fazer sentido que as pessoas continuem a importar frango daquele país vizinho, quando Moçambique produz em larga escala e com melhor qualidade, pois, não fica muito tempo congelado.
Para ele, só o trabalho pode resolver muitas das preocupações dos moçambicanos, mormente a habitação, alimentação, saúde, entre outros, reiterando a necessidade de se potenciar cada vez mais a produção nacional.
Na ocasião, Filipe Nyusi recordou que o custo de vida subiu para todos, incluindo a África do Sul, principal fornecedor dos produtos alimentares a Moçambique. Voltou a sugerir a aposta na produção nacional da nossa batata, tomate e outras hortícolas para reduzir as importações que tornam os produtos mais caros.
LUZ NO FUNDO DO TUNEL NA PRODUCAO NACIONAL
Entretanto, prevê-se que nos próximos tempos haja incremento na produção nacional com a inauguração de algumas unidades fabris que vão incrementar os rendimentos dos moçambicanos, como por exemplo, a nova fábrica da Coca-Cola Moçambique, na Matola Gare e o Matadouro, na Manhiça, para a produção de carne.
Ainda nesta província, o presidente da República visitou algumas associações de camponeses, bem como a machamba da empresa Horta Boa, onde foi falar da necessidade do incremento da produção através do uso das novas técnicas e de sementes de curto ciclo, e que podem produzir três vezes durante o ano.
O Chefe do Estado inteirou-se igualmente das obras da construção da barragem de Moamba -Major cuja finalidade é incrementar os níveis de produção de água para irrigação dos campos agrícolas, bem como energia eléctrica, entre outros aspectos.
Domingos Nhaúle
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