O município de Marrupa, capital do distrito com o mesmo nome, há cerca de 300 quilómetros a norte de Lichinga, a erosão, energia eléctrica e água insuficientes, preocupam a edilidade que, mesmo assim, entende que as outras frentes estão a ser suficientemente satisfeitas.
Fazendo fronteira com o mais setentrional distrito de Niassa, Mecula, Marrupa tem Mavago a Este, no Sudoeste o distrito de Majune, a Sul o de Maúa e a Sudeste o distrito de Nipepe. Limita-se, igualmente com a província de Cabo Delgado, a Este, através do distrito de Balama.
Marrupa sofre dos efeitos de uma intolerante e severa erosão, consequência directa da constituição litológica da área ocupada pela sua sede, e não só, entre montanhas, a partir das quais nascem vários fios de água que vão ter ao município.
A terra está a ceder incessantemente sem nenhum controlo eficaz, sendo que de cada vez que a chuva cai novas crateras subtis se abrem, num movimento endógeno que ameaça implodir a vila. A edilidade diz-se incapaz de travar o fenómeno, conforme confessa Marta Romeu, presidente da autarquia.
Da entrevista com a edil, o domingo ficou a saber que a falta de água canalizada e energia para todos também preocupa aos residentes de Marrupa.
“No município de Marrupa vai tudo bem. Os munícipes tentam e contribuem para o seu desenvolvimento. Porém, a erosão, que vai ganhando terreno, mais a água e energia que não chegam para todos, preocupa-nos deveras” diz a presidente do município, que acrescenta:
Temos o problema da erosão e falta de água para os cerca de 23.500 habitantes, dispersos pelos 12 bairros, maioritariamente rurais. Essa dispersão, dificulta a resolução de certos problemas.
A outra necessidade premente, de acordo com a fonte, é a energia eléctrica, que embora seja recebida de Cahora Bassa, ainda não é suficiente e a qualidade não é a mais desejável, razão pela qual Marta Romeu, afirma que “ o ideal era que fosse abrangente, em primeiro lugar.”
Entretanto o município considera-se autossuficiente em termos alimentares, sendo verdade que “não há quem necessite de água e energia sem precisar de comida, pelo que com alguma folga dissemos que a nossa segurança alimentar é razoável, principalmente porque nesta safra agrícola registou-se muita produção de milho.”
Apesar de a base tributária do município não ser muito alargada, Marta Romeu considera que a receita do seu município é satisfatória. Diz ela que depende fortemente do mercado, mas têm o desafio de alargá-la, por via de aquisições de terrenos e pagamento de impostos, embora haja, infelizmente, pessoas que não pagam, apesar de estarem na idade de o fazer.
Como ponto positivo, fomos informados que o município de Marrupa não se debate com o mal da criminalidade. A edil informou-nos que quase não a temos. Educamos os munícipes para a diminuição de poluição sonora, que é um dos principais motivos de provocação de actos criminais.
Erosão impiedosa…
A nossa reportagem que esteve em Marrupa e deparou com alguns edifícios que escondem nos seus quintais enormes buracos, resultantes da erosão disfarçada que vem de determinadas ruas. Nem o lixo depositado em algumas crateras caseiras consegue parar o fenómeno de destruição das residências e infraestruturas públicas.
Trata-se de verdadeiros túneis desprotegidos que a natureza vai abrindo pela vila, que servem de caminho das águas das chuvas que consigo carregam a terra para as zonas mais baixas.
Na verdade, se medidas de precaução não forem tomadas, a vila e os seus habitantes poderão, um dia, acordar soterradas em algum ponto daquela pequena urbe, já que a erosão está transformando a superfície por onde se estende Marrupa numa autêntica armadilha.
Porém, passando pela vila de Marrupa o perigo acaba sendo imperceptível se bem que a vila mantem a sua beleza e limpeza, fruto do trabalho consequente da edilidade, algo reconhecido pelos respectivos munícipes.
Apesar dos residentes saberem do perigo que correm as suas vidas e bens, a vida na vila de Marrupa não pára. Cedo as pessoas se dirigem aos seus locais de labuta, a maioria para o negócio informal nas bermas das ruas e nos mercados formais.
As noites são menos agitadas, embora até ao amanhecer se possa ver uma e outra pessoa à procura doutras para diferentes tipos de diversão e restauração.
Os primeiros anos de municipalização de Marrupa foram caracterizados por enormes desafios, desde a falta de água canalizada, passando por inexistência de transportes públicos municipais, até à ausência de um plano de estrutura municipal.
A pacata vila cresce à mercê das paupérrimas contribuições fiscais dos munícipes, da agricultura de subsistência e do comércio informal, consolidando-se como uma autarquia.
Urbanização
O município de Marrupa ocupa uma área de 360km² e os 12 bairros debatem-se com problemas de diversa ordem, desde o acesso limitado a água, passando pela precariedade das vias públicas até às construções desordenadas.
Entretanto, a questão de urbanização ainda é um desafio, uma vez que o município não dispõe de um plano de estrutura. Porém, os locais ainda não povoados foram divididos pela edilidade em áreas, nomeadamente comerciais e para as infraestruturas do Estado, além da reserva de talhões para os jovens desenvolverem as suas actividades e projectos.
Não se pode falar de urbanização da vila de Marrupa, visto que esta ainda é um município com construções desordenadas, colocando grandes desafios à edilidade na delimitação dos terrenos e abertura de vias de acesso. Segundo o Conselho Municipal, a guerra civil provocou uma perturbação enorme no que tange ao ordenamento territorial.
Os residentes dizem que antes da municipalização a situação era preocupante, uma vez que quase todas as estradas estavam intransitáveis, ou seja, não existiam vias de acesso.
A vila contava apenas com uma única estrada principal. Presentemente, Marrupa dispõe de estradas que permitem o acesso entre a zona de cimento da autarquia e os bairros periféricos. Em algumas zonas residenciais, houve diversas intervenções, nomeadamente a abertura e alargamento das vias públicas, ainda de terra batida.
“A nossa promessa era permitir o acesso aos bairros que compõem o município e não incluía a colocação do asfalto. No entanto, estamos satisfeitos por termos conseguido fazer isso ao longo do mandato”, justificou Marta Romeu.
Para que tal empreitada fosse efectivada, de acordo com a nossa interlocutora, o município gastou mais do que disponha com indemnizações.
Os dois mandatos
da professora Marta
Marta Romeu está a cumprir o seu segundo mandato. O que mais a deixa satisfeita até aqui é o arruamento e pavimentação de algumas estradas. Esse será o legado que vou deixar, diz com indisfarçável alegria.
Todavia, algo faz com que a satisfação da Marta fique incompleta, nomeadamente, a falta de água canalizada para todos os munícipes, por justificada falta de fundos.
Para vidas sãs, os residentes de Marrupa dispõem de infra-estruturas para a prática de desporto. Marta Romeu explicou que foi sua prioridade quando passou a ser presidente do Conselho Municipal de Marrupa.
“ No primeiro mandato lancei o desafio de criação de boas condições em todos os campos desportivos. Reabilitamos o nosso campo das modalidades de salão. Este ano, em alusivo ao dia da vila, 2 de Maio, organizamos um torneio de futebol onze. Continuaremos a fazer para que o desporto esteja sempre junto dos munícipes de Marrupa”, disse.
Marta Romeu é professora de carreira; fez licenciatura em gestão, administração e educação. É mãe de quatro filhos. Acabou aprendendo a dirigir, mas disse que quando deixar a presidência da edilidade de Marrupa, sua terra natal, vai regressar à sala de aulas para continuar de giz em punho ante um quadro-preto.
Manuel Meque
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