A manifestação popular que havia sido programada para ontem e hoje, na cidade de Maputo, supostamente organizada por 14 partidos políticos extraparlamentares não foi autorizada pelo Conselho Municipal que no ofício tornado público refere que o documento dos requerentes enferma de irregularidades sanáveis, entre eles, a falta da identificação dos promotores, bem como a sua morada.
A cidade de Maputo acordou calma e sem sobressaltos, com o comércio a decorrer normalmente e os cidadãos a desenvolverem as suas actividades que haviam programado para ontem.
Na avenida Eduardo Mondlane, local previsto como ponto de concentração para o início da marcha não registamos nenhum movimento de pessoas a não ser aquelas que normalmente exercem a sua actividade comercial, naquela via, a exemplo de ardinas e vendedores ambulantes.
Entretanto, às primeiras horas, algumas vias conheceram a presença de duas unidades da Polícia da República de Moçambique, nomeadamente, de Protecção e as Forças de Intervenção Rápida que foram patrulhando aqueles pontos tidos como propensos à agitação.
PARTIDOS DESAVINDOS
Semana finda, a cidade de Maputo conheceu um azedar dos ânimos dos partidos extra- parlamentares, tudo por causa de desentendimentos no concernente à convocação de uma manifestação popular, alegadamente para protestar contra o recrudescimento da tensão militar, custo de vida, dívida pública, entre outros aspectos que preocupam a sociedade.
Só que antes mesmo da resposta do Conselho Municipal a manifestação veria a provocar barulho no seio dos líderes dos partidos políticos, principalmente, entre João Massango, do Partido Ecologista e Yacub Sibindy, do Bloco da oposição Construtiva, tidos como as caras mais visíveis dos extra- parlamentares.
As desavenças entre estes dois líderes giraram em torno da pertinência da tal manifestação numa altura destas em que parece haver uma luz no fundo do túnel para o reatamento do diálogo entre o Governo e a Renamo.
A outra questão que os adversos à manifestação defendem é que depois de o Executivo ter estado no Parlamento a explicar os contornos do endividamento do país há que dar tempo para os passos subsequentes, pelo que no seu entender ainda é cedo para se sair à rua e reivindicar sobre os aspectos referidos acima.
Aliás, João Massango é apontando como tendo violado o regulamento da oposição construtiva, o que lhe valeu uma expulsão verbal por parte de Yacub Sibindy que afirmou: “Massango é um aventureiro político que quer apanhar peixe na rede dos outros que planificaram as manifestações para os dias 28 e 29 de Abril último, portanto, ele auto excluiu-se do bloco ao desacatar as decisões do conselho e ir à imprensa convocar uma manifestação.” disse Sibindy.
Num contacto telefónico com a nossa Redacção, Yacub Sibindy disse não perceber as motivações do líder dos ecologistas tendo afirmado que “Massango era um político infantil que não tinha em mente as consequências em caso da perturbação da ordem e tranquilidades públicas”.
Para Sibindy ainda há espaço para negociar, pelo que é preciso paciência, tanto é que o bloco ainda aguarda o expediente dirigido à Presidência da República, propondo a criação do Governo da Unidade Nacional.
Acrescentou que o promotor da manifestação estaria a soldo de uma agenda oculta que só ele podia esclarecer e que nos últimos dias foi visto em reuniões secretas com as lideranças de algumas organizações não-governamentais que não tendo conseguido se manifestar nos dias 28 e 29 do mês passado usaram Massango para lograr os seus intentos.
PREMATURO CONVOCAR MANIFESTAÇÃO
Alguns líderes dos chamados partidos extra parlamentares consideram não haver espaço neste momento para o povo sair à rua em virtude de se terem dado passos significativos para a retomada do diálogo e esclarecimentos em torno da dívida pública.
Matias Banze, do Partido Movimento Patriótico para a Democracia (MPD) disse não compreender as motivações de João Massango ao convocar uma marcha popular pelas artérias da cidade de Maputo.
“Distanciamo-nos de tais manifestações porque entendemos não serem oportunas uma vez que o governo está a trabalhar no sentido de esclarecer a questão do endividamento do país, assim como a retomada do diálogo com a Renamo. Se sairmos à rua estaremos a injectar petróleo para os furiosos destruírem as infra estruturas públicas e pilhar as lojas. Temos que dar tempo para o Executivo”,disse Matias Banze.
Por seu turno, André Balate, do Partido PARENA afirmou que os membros do seu partido não se mostraram receptivos à realização da manifestação porquanto ainda há espaço para diálogo e solução dos problemas.
“Acusamos a recepção do convite, mas não encontramos motivos suficientes para apoiar ou aderir a iniciativa do Massango que a consideramos estar dentro do exercício do direito consagrado constitucionalmente”,disse Balate.
ALEGAÇÔES DO MUNICÌPIO
Num comunicado tornado público na última quinta-feira, o Conselho Municipal da cidade de Maputo diz que não deu provimento à manifestação por diversas irregularidades, entre elas, a não identificação dos seus promotores e as suas moradas.
“Não constando neste expediente, que me foi concluso a título de aviso, qualquer símbolo de partido político, dificilmente se pode aceitar estar-se em presença de uma manifestação organizada por partidos políticos,refere o documento assinado por David Simango.
O mesmo documento refere ainda que das catorze formações políticas indicadas no pedido da manifestação, apenas duas é que têm precisão, sendo as restantes genéricas.
“ Não há indicação do número do domicílio. Mais ainda, não se sabe se estas alegadas moradas são dos partidos políticos mencionados ou dos seus alegados representantes. Esta dúvida subsiste e não encontra resposta no expediente que me foi concluso”,refere a missiva da edilidade aconselhando os promotores da manifestação a sanarem as irregularidades detectadas que conduziram à negação do exercício da marcha.
Massango sofre agressão
Porém, às primeiras horas da sexta-feira, João Massango, líder dos ecologistas e testa saliente da manifestação não realizada, sofreu uma agressão, quando segundo suas palavras saia da sua residência no bairro de Kongolote, na Matola, em direcção a cidade de Maputo para dar mais detalhes sobre a manifestação.
Segundo conta, quando ia a conduzir a sua viatura foi interceptado por um grupo de homens que se faziam transportar num Prado, tendo barrado o seu carro e o obrigado a entrar para o automóvel dos malfeitores.
Porque mostrou resistência, segundo ele próprio testemunha, foi espancado e só não aconteceu o pior uma vez que nesse instante usou o seu sexto sentido e refugiou-se para uma barraca nos proximidades e com a presença dos populares os alegados bandidos desistiram do espancamento tendo-se retirado do local.
João Massango está fora do perigo, depois de ter recebido tratamento no Hospital Central de Maputo, onde se deslocara para ser assistido. Consta que ele teria sofrido escoriações num dos braços.