A população residente nos bairros Bunhiça, Matola-Gare, Nkobe, localizados no município da Matola, e do bairro Jonasse, no distrito de Boane, todos da província de Maputo, está a ser assolada por uma vaga de criminalidade violenta caracterizada por assaltos à mão armada, violações sexuais, roubos, catanadas e intensa violência psicológica que é protagonizada por grupos ainda não identificados de meliantes.
Os residentes destes
bairros afirmam que
vivem um autêntico
pesadelo nas noites
devido ao recrudescimento
da criminalidade cujos
autores actuam em grupos compostos
por oito ou mais homens
que empunham armas de fogo
do tipo AKM e pistolas, catanas,
facas e outros instrumentos contundentes.
Há três semanas, por exemplo,
um grupo de oito homens
assaltou com recurso a duas
armas de fogo e instrumentos
contundentes como facas, catanas,
cerca de oito casas do bairro
Bunhiça levando consigo electrodomésticos,
celulares, alianças,
dinheiro, entre outras coisas.
Numa das residências amarram
e torturaram os donos da
casa, fizeram cortes profundos
na zona do pescoço à dona da
casa e também cortaram o braço
de um visitante que se encontrava
naquela residência. Antes de
se colocarem em fuga recolheram
as alianças do casal,celulares e dinheiro.
Cenário similar foi vivido na
casa de E. Matusse, residente
no bairro Bunhiça. Os meliantes
transpuseram a vedação e arrombaram
as portas enquanto os
proprietários dormiam. Quando
o casal se deu conta da presença
de estranhos estes já se encontravam
no interior do seu quarto.
“Ficámos alarmados. Eram
muitos e estavam mascarados,
com a excepção de um dos que
trazia arma de fogo”, conta.
Ao dono da casa foram dadas
duas facadas na nuca e a mulher
foi espancada durante cerca de
10 minutos. “Bateram-me com
catana enquanto exigiam dinheiro.
Foi horrível. Para que
fossem embora, o meu marido
acabou lhes dando o dinheiro
que tinha, que não era grande
coisa, mas ficou claro que se
não lhes déssemos não teríamos
sobrevivido”, descreve E.
Matusse.
Traumatizada com o sucedisucedido,
a nossa interlocutora revela
que após aquele episódio macabro
as noites da sua família nunca
mais voltaram a ser as mesmas,
pois qualquer ruído gera pânico.
“Já não nos sentimos à vontade
porque apresentámos o
caso à Polícia, mas os meliantes
continuam a circular por
aí”, frisou.
Por sua vez, Gilda Sutho,
igualmente residente em Bunhiça,
disse que apenas sossega quando
amanhece, pois, apesar de não
ter sido vítima, “não tenho como
ficar aliviada sabendo que um
vizinho foi assaltado. Nunca se
sabe quem será o próximo. Por
isso esta luta é de todos nós e
pedimos ajuda”, disse.
VIOLAÇÕES CAUSAM SEPARAÇÕES
Nos quarteirões 12, 13 e 14, do
bairro Nkobe, próximos da Estrada
Circular de Maputo, os bandidos violam mulheres e crianças. Segundo
as vítimas, estes grupos actuam
de forma tão metódica que as famílias
por si visadas só se apercebem
da sua presença quando estes já se
encontram no interior das casas.
“Devem usar alguma droga que
nos faz dormir”.
Residentes daquele bairro relatam
que em todos os assaltos
até aqui registados houve um
denominador comum: os ladrões
exigem sempre dinheiro e quando
não lhes é satisfeito esse desejo
espancam a família inteira e violam
as mulheres e crianças.
“Por exemplo, violaram
uma menina de 16 anos em
frente dos seus pais. A família
está muito abalada e sem nenhum
apoio. Na mesma noite,
invadiram a casa de uma jovem
de 30 anos que só tinha
duas semanas após dar à luz.
Exigiram-na dinheiro e, como
ela não tinha, violaram-na. Por
causa destes actos macabros
assistimos à separação de
quatro casais aqui no bairro”,
afirmou.
Ainda no bairro Nkobe, meliantes
assaltaram a residência
de um ancião, de 80 anos, criador
de gado. Mais uma vez, exigiram
dinheiro conseguido na venda de
duas cabeças. Como este mostrou
indisponibilidade, foi espancado
com tamanha gravidade a
ponto de ficar hospitalizado durante
várias semanas.
As nossas fontes apontam
que as esquadras locais estão
informadas destes casos, mas
parece haver uma certa indiferença
porque em alguns casos os
assaltantes aparecem em grupos
de 10 a 12 indivíduos com AKMs
e pistolas.
Perante estes factos, as famílias
começam a alterar a sua
rotina para passar a dormir
mais cedo, de modo a que, até à
meia-noite, estejam acordados e
patrulhem as ruas dos seus quarteirões
que geralmente não possuem
iluminação pública e tem celulaterrenos
desabitados. Naquela
zona, muitos começam a recear
receber xitique, pois na mesma
noite os meliantes aparecem e
exigem o dinheiro.
“Nas ruas os ladrões arrancam
telemóveis. Nas cercanias
das escolas, idem. Nas
residências recolhem viaturas,
televisores, computadores,
dinheiro e, para humilhar e
destroçar as famílias, violam”,
descrevem os residentes de Nkobe.
Por seu turno, Pricinalda Zandamela,
secretária de célula, que
também foi vítima de uma tentativa
de furto em plena via pública,
acredita que a falta de iluminação
nas ruas contribui para a
actuação dos malfeitores. “Numa
reunião que tivemos com o
secretário do bairro pedimos
que providenciassem iluminação
para evitar que sejamos
vítimas de pessoas que não
querem trabalhar. Mas ainda
não obtive resposta. Enquanto
isso vamos vivendo no medo”,
frisou.
TERRENOS QUE
ALBERGAM BANDIDOS
O caso mais gritante de espaços
abandonados verifica-se no
bairro Bunhiça, próximo da fábrica
Socimol, onde uma área que
antes pertenceu à União Geral
das Cooperativas está abandonada
há anos e nela apenas cresce
capim, multiplicam-se cobras,
mosquitos, entre outros seres.
Aquele recinto possui várias
vivendas e pavilhões de aviários
abandonados e árvores de
grande porte, não tem iluminação,
ninguém conhece o rosto
do proprietário, entretanto, circunvagam
por ali uns supostos
guardas que impedem que a área
seja usada para a agricultura, por
exemplo.
No lugar da produção, preferem
que aquele espaço seja
transformado em depósito de lixo e albergue de ladrões. A população
das cercanias tem solicitado
a atribuição daquela área para
fins produtivos ou, no mínimo,
residenciais, debalde. Aliás, num
ponto conhecido por Baião, ainda
em Bunhiça, existe um segundo
espaço igualmente à sua sorte.
“O aviário e aquele terreno que
dizem que é de um tal Cassamo
são pontos estratégicos para
bandidos. Por isso pedimos
aos proprietários dos mesmos
para ocupá-los ou cedê-los aos
que realmente precisam”, assim
o diz Rita Machava, residente
daquele bairro problemático em
termos de segurança.
Segundo Carolina Nhankele,
igualmente residente do bairro
Bunhiça, o espaço conhecido
como aviário chegou a ser usado
como machamba e na época o
índice de assaltos na rua reduziu
bastante. No entanto, “as camponesas
que ali produziam
receberam ordens para abandonar
o espaço, supostamente
porque ali devia ser construído
um condomínio. A seguir
foi construída uma vedação de
meia altura e tudo parou por
aí”, afirmou
Ciente da situação que apoquenta
o bairro, Virgínia Alberto,
secretaria do bairro de Bunhica,
disse à nossa equipa de Redacção
que tem estado a sensibilizar a
comunidade para ajudar a combater
a criminalidade que assola
o seu bairro através da denúncia
e da vigilância.
Adiante disse que só na semana
finda receberam mais 10
casos de assaltos e agressões e,
por conta disso, estão a intensificar
a vigilância interna de cada
quarteirão de forma a evitar os
desmandos meliantes.
DOIS POLÍCIAS PARA
TODO BAIRRO
O bairro Bunhiça tem um posto
policial que funciona num edifício
degradadíssimo, onde só existem
dois agentes para os turnos
diurno e nocturno. Quando lhes
é solicitada alguma intervenção,
sempre mostram indisponibilidade
porque não dispõem de viatura
e não podem abandonar o posto.
Ladrões “semeiam”
terror em Jonasse
Os moradores do bairro Jonasse,
no posto administrativo
da Matola-Rio, também não dormem
por causa da ladroagem
que actua à luz do dia e na calada
da noite. Estes grupos arrombam
residências, saqueiam
bens, exigem cartões bancários
e no fim sinalizam as vítimas
com uma cruz nas costas.
Nas noites de quinta e sexta-
-feira passada foram assaltadas
mais de dez residências sendo que
uma delas foi escalada duas vezes
pelo mesmo grupo de meliantes
que para além de espancar o casal
apoderou-se das chaves de uma
viatura de marca Marc II e os cartões
de débito e crédito.
Em seguida, o grupo assaltou
uma outra residência desta feita
do dono de uma mercearia onde
apoderou-se do dinheiro da receita
do dia, jóias e outros bens
valiosos antes de esfaquear o casal
deixando-lhe com uma marca
de cruz nas costas.
A situação alastra-se há cerca
de um mês e nos últimos dias
tende a piorar com assaltos à
luz do dia em que os “bandidos”
fazendo-se transportar em viaturas
introduzem-se numa residência
como se de visitantes se
tratassem.
Cansados desta situação,
até porque uma das casas assaltadas
situa-se a escassos
200 metros do posto policial, os
moradores têm agendado para
esta tarde (domingo) uma reunião
para a concertação de estratégias
de defesa ou caça aos
larápios.
Texto de Maria de Lurdes Cossa
malu.cossa@sn.co.mz