Hoje é Dia Mundial do Ambiente. “domingo” convida o leitor à uma reflexão sobre problemas ambientais de Moçambique, expondo seus principais focos e observando até onde as políticas são capazes de dar cobro à problemas que ameaçam vilas e cidades moçambicanas.
Soluções associam-se, muitas vezes, à necessidade de renaturalização do meio ambiente, em si devastado pela acção humana. Perante este quadro, é necessária, quanto às nós, uma avaliação de grande pormenor das políticas por adoptar, conjugando o risco, a legalidade e a ponderação social.
Estamos a falar da erosão, da ameaça do mar passar por cima dos telhados de habitações em zonas costeiras e das queimadas descontroladas que ocorrem com frequência nas zonas do interior das províncias muitas vezes para extracção de mel, preparação de campos agrícolas, queima de carvão e caça de ratazanas.
Há três anos (2013), as queimadas afectavam aproximadamente 10.9 milhões de hectares de terras moçambicanas, número que naturalmente evoluiu.
No mesmo ano os satélites MODIS (Aqua & Terra) registaram mais de 90.000focos de queimadas (também conhecidos como Active Fires) em todo o país.
O Plano de Acção para a Prevenção e Controlo às Queimadas Descontroladas em Moçambique tem um horizonte temporal de 11 anos, de 2008 a 2018.
A floresta sofre bastante. Estudos estimmam entre 6 a 15 milhões de
hectares (ha) de florestas sao queimados anualmente em Moçambique e entre 9 a15 milhões de ha de outras áreas. Geralmente cerca de 90% de queimadas são resultados das actividades humanas e restantes 10% são geradas por causas naturais e desconhecidas.
Ou seja: em média, cerca de 40% do território nacional é queimado anualmente, o que ilustra a gravidade desta prática.
Por outro lado, em Moçambique, grande parte do território enfrenta problemas ambientais de erosão, que se fazem sentir com maior ênfase nas zonas costeiras e ribeirinhas, comprometendo assim o desenvolvimento sócio-económico do país.
Segundo o Ministério da Terra, Ambiente e Desnvolvimento Rural, este problema está associado a diversos factores, tais como:
· Disposição do relevo em forma de escadaria do interior para a costa;
· Actividades humanas no uso e aproveitamento da terra em áreas inadequadas;
· Ocupação desordenada do espaço devido ao aumento da concentração populacional;
· Localização geográfica que torna o país susceptível aos eventos extremos.
Entretanto, experiências de combate ou mitigação dos efeitos de erosão, mostram que as acções implementadas são maioritariamente de carácter correctivo e não preventivo, sendo que as medidas correctivas, são geralmente implementadas em estado catastrófico.
Para reverter a situação, o Governo de Moçambique aprovou o Plano de Acção para a Prevenção e Controlo de Erosão de Solos (2008 – 2018), que define acções com vista ao controlo efectivo do problema da erosão, adequadas à saúde dos ecossistemas e à realidade sócio-económica do país.
Face ao insucesso de políticas testadas o MITADER considera a revisão, a meio termo, do Plano de Acção para a Prevenção e Controlo de Erosão de Solos.
De notar que no país foram identificadas 26 areas críticas de erosao, nomeadamente : Magude, Mocuba, Marracuene (província de Maputo); Chibuto, Chigubo e Guijá(província de Gaza); Zavala, Maxixe, Vilankulo (província de Inhambane); cidade da Beira, Gorongosa, Machanga (província de Sofala); Morrurize e Guro (província de Manica); Changara, Mutarara, Moatize (província de Tete); Alto Molócuè, Nicoadala, Milange, Mocuba e Morrumbala(província da Zambezia); Mogovolas e Nacala (província de Nampula); Mueda e Muidumbe (Cabo Delgado) e Marrupa (Niassa).
A invasão do mar é outro ponto preocupante. As vilas e cidades mais afectadas são: Pemba, Quelimane, Pebane,Beira, Nacala e Inharrime.
Destacamos, a seguir os principais problemas que as nossas províncias apresentam em termos ambientais.
MANICA
Rios Lucite e Mussapa livres
de poluição por garimpo
A poluição dos rios Lucite e Mussapa, devido ao garimpo
no distrito de Sussundenga, na província de Manica, tende a reduzir
nos últimos tempos graças ao trabalho levando a cabo pelo governo que
continua a envidar esforços para pôr termo ao problema.
Nos anos passados o garimpo na região de Sussundenga
deixava as águas dos dois rios poluídos, tornando-a imprópria para o
consumo humano e mesmo para animais.
O problema também afectava a produção
agrícola. As culturas não desenvolviam devido a poluição das águas, o
que afectava também o pasto.
A população, principalmente residente nas zonas ribeirinhas, estava
votada à desgraça em troca de alguns gramas de ouro extraído sem
observância das técnicas apropriadas.
A administradora do distrito de Sussundenga, Joana Guinda, explicou
que nos últimos tempos, o problema de poluição dos rios naquele
distrito melhorou bastante porque o governo local assumiu o compromisso em trabalhar com os exploradores e congregá-los em associações.
TETE
Erosão desaloja cerca
mil familias em Luenha
CERCA de mil famílias residentes na vila de Luenha, sede distrital de Changara, foram retiradaspara zona segura mais para o interior da margem esquerda do rio Luenha devido a evolução progressiva da erosão que cada vez mais engole áreas residenciais e de serviços naquela região sul da província de Tete.
A administradora distrital de Changara, Elsa da Barca, disse ao domingo recentemente que cerca de 1000 talhões destinadas a novas construções para atendimento à população retirada nas áreas afectadas pelo fenómeno já se encontram devidamente parcelados e uma grande parte já foi atribuída aos deslocados.
Estamos a realizar algum trabalho de plantio de árvores e algas ao longo da margem esquerda do rio Luenha tendente a minimizar os efeitos da erosãodisse Elsa da Barca.
Aquela dirigente apontou, por outro lado, a circulação constante de pessoas e gado bovino e caprino ao rio à procura de água tem sido um dos contribuintes para a degradação dos solos que protegem as árvores e capim para reduzir os embates e tornar consistente a terra face à evolução do caudal do rio Luenha durante a estação chuvosa.
Em termos de medidas de combate ao fenómeno, Elsa da Barca afirmou que devido a magnitude o governo local não possui recursos materiais e financeiros para travar a progressão da erosão que já está a atingir zonas mais para o interior onde caso não se tomem medidas mais consistentes e douradoiras a Estrada Naciobnal N7 corre sérios riscos para desabamento.
A situação não é menos mal, porque a erosão está paulatinamente aproximando a Estrada Nacional N7 que liga à província com às regiões, Norte, Centro e Sul do país,indicou a nossa fonte.
SOFALA
O crónico problema
da cidade da Beira
A fúria das águas do mar invadiu recentemente a cidade da Beira, como resultado dos problemas ambientais que afectam o planeta. Frequentemente a zona costeira daquela urbe tem sido abalada e as pessoas que vivem nelas muitas vezes obrigadas a se refugiarem para outros pontos.
Apesar das autoridades municipais da Beira afirmarem que os problemas de protecção costeira estão a passo de serem minimizados, que para tal se precisam 500 milhões de dólares norte-americanos, o terror de se conviver com a informação de que a urbe está abaixo dos níveis da água do mar redobrou-se.
As ondas gigantes impulsionadas pelo vento que ciclicamente afecta aquela urbe invadiram a terra firme e deitaram abaixo a vedação costeira, um empreendimento erguido há 10 anos e que custou milhares de meticais à edilidade.
Para além das barreiras de construção que ficaram destruídas, centenas de famílias que residiam na pacata zona da Praia Nova, ficaram desabrigadas, estando neste momento a viverem em tendas num centro improvisado, e os estragos se estendem com a destruição do pavimento da avenida Sanção Muthemba.
Os problemas da invasão de água do mar atrelam-se aos velhos dilemas da erosão costeira que se agudizaram depois de se ter abatido os mangais.
A edilidade da capital provincial de Sofala afirma estar apreensiva devido a recentes episódios de invasão da água do mar. Fala das dificuldades que se estão a assistir para resolver os problemas.
O presidente do município da Beira, Daviz Simango, que recentemente esteve a dirigir uma equipa que está edificar um outro murro de vedação costeira, referiu que o trabalho mais consistente está refém dos fundos.
Por exemplo, a resposta da recente invasão custou 25 milhões de meticais, valores tidos como irrisórios para aquele tipo de empreitada.
O murro derrubado pelas águas constituiu o primeiro plano no combate à erosão costeira. O choque foi violento que deitou abaixo milhares de meticais investidos na edificação de cinco quilómetros.
NIASSA
Vila de Marrupa
poderá desaparecer do mapa
A erosão de solos continua a preocupar as autoridades do sector na província do Niassa. Dados em nosso poder indicam que este fenómeno, que é comum em quase todos os distritos da província, afecta mais os municípios de Metangula, Lichinga e Marrupa, com maior impacto negativo neste último.
Quando se assinala o Dia Internacional do Ambiente, Alice Mapondo, chefe do Departamento de Gestão Ambiental na Direcção Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, revelou que se não forem tomadas medidas urgentes, a vila de Marrupa vai desaparecer do mapa nos próximos tempos, uma vez que, segundo ela, a situação é tão grave que começou a “engolir” residências e vias de acesso.
Disse ainda que esforços estão sendo feitos visando minorar o impacto negativo da erosão de solos na vila e explicou que, para o efeito, o governo de Niassa contratou três consultores, em períodos diferentes, para determinar os valores necessários para eliminar o problema.
Os resultados saídos dos três estudos, segundo a nossa fonte, indicaram que para se debelar a situação por que passa Marrupa, o governo provincial de Niassa deve procurar um financiamento na ordem dos 95.472.253 meticais, nomeadamente 71.523.953 meticais para a vila de Marrupa, 23.189.767 para a capital provincial (Lichinga) e outros 7.558.533 meticais para a vila de Metangula, dinheiro considerado bastante alto para os cofres do governo de Arlindo Chilundo.
Inhambane procura formas
de travar a erosão na zona costeira
Mais de cinco mil árvores de sombra e de fruta, serão plantadas esta manhã na vila do distrito de Govuro, norte da província de Inhambane, no âmbito das celebrações do Dia Mundial do Ambiente.
O plantio de árvores tem em vista o reflorestamento e combate à erosão progressiva que além de Govuro, afecta tantas outras vilas e cidades da província de Inhambane.
A Directora Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural em Inhambane, Felizarda Manguele, disse que um pouco por toda província serão plantadas árvores de sombra e de fruta em particular na zona costeira onde o fenómeno erosão é descrito como deveras preocupante.
Trata-se de um problema que ameaça “engolir” algumas infra-estruturas designadamente edifícios nas vilas de Inhassoro, Vilankulo, Morrumbene, Zavala e cidades de Inhambane e Maxixe.
E, tendo em conta a gravidade da situação, a Directora Provincial de Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural em Inhambane apela à necessidade de conservação do mangal e criação de condições para a contenção de solos.
Manguele acrescentou ser imperioso combater o fenómeno da exploração desregrada de saibro em algumas zonas da província uma pratica que contribui para a erosão progressiva.
Outro combate é contra as queimadas descontroladas outro mal que preocupa as autoridades do ambiente em Inhambane.
As queimadas descontroladas ocorrem com frequência nas zonas do interior da província sendo a extracção de mel, preparação de campos agrícolas, queima de carvão e caça de ratazanas como principais causas.
A Directora Felizarda Manguele diz estar em marcha um projecto de construção de colmeias melhoradas para evitar a extracção do mel usando métodos tradicionais.
População de Salamanga
sai às ruas para fazer limpeza
. Jornadas de limpeza tiveram lugar em todo o país
Idnórcio Muchanga
Idnorcio.muchanga@snoticias.co.mz
Cidadãos da localidade de Salamanga, distrito de Matutuíne, província de Maputo, saíram às ruas para uma jornada de limpeza, alusivo ao Dia Mundial de Meio Ambiente, assinalado hoje, domingo, em todo o mundo. Em Moçambique, o evento decorre sob o lema “Não sejas cúmplice, usa a tua voz contra a caça furtiva!”.
A população saiu às ruas equipada de camisetes com os seguintes dizeres: “Não sejas cúmplice, usa a tua voz contra a caça furtiva!E empenhou-se na limpeza e depósito dos resíduos sólidos em locais apropriados. Trata-se de acções que tiveram réplica em todo o país.
Segundo a Directora Nacional do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Iveth Maibaze, a escolha da localidade de Salamanga para se efectuar a limpeza, deve-se ao facto da chamada de atenção a população daquele local sobre o combate cerrado à caça furtiva e devastação de espécies florestais.
Recorde-se que foi recentemente aprovado o novo Regulamento do Combate Internacional de Espécies de Flora e Fauna Silvestre, ameaçadas de extinção. Adicionalmente, reforçou-se a fiscalização nas áreas de conservação em todo o país e conseguiu-se apreender, pelo menos, mais de duzentos e noventa e cinco armas de fogo, vinte e cinco mil armadilhas e mais de dois mil e quatrocentos e sessenta caçadores furtivos.
Registou-se igualmente uma redução de número de incursões ao longo do Parque Nacional do Kruger do lado moçambicano de 75 para 35 por cento, fruto da coordenação entre operadores, polícias e autoridades sul-africanas.
“As celebrações de hoje, não estão apenas viradas para a questão da caça furtiva, mas também para o âmbito ambiental através da demonstração de boas práticas da conservação do ambiente, com a realização de jornadas de limpezas ao nível nacional, disse Ivete Maibaze.
Raimundo Diomba, Governador da Província de Maputo, disse que o dia de hoje é para lembrar-nos sobre a responsabilidade que os habitantes do planeta Terra têm de cuidar do ambiente no que toca à necessidade de aproveitamento de seus recursos de forma sustentável.