Início » Não vender toda a produção

Não vender toda a produção

Por admin

Maua e Nipepe, sul de Niassa, vivem momentos de fartura. A produção e tanta de tal forma que há comida por todos os lados. Na onda de euforia, os camponeses não tomam precauções para eventuais momentos de fome, vendendo toda a produção ao desbarato. Arlindo Chilundo avisa: “não vamos vender tudo. Amanha pode haver fome”.

O governador de Niassa, Arlindo Chilundo, esteve recentemente nos distritos de Maua e Nipepe, no sul da província. No final da visita, não escondeu a sua satisfação pelo facto de produtores locais estarem a acatar às orientações dadas pelo Governo no concernente ao aumento das áreas de produção.

Ao longo das estradas por onde passou, Chilundo viu celeiros abarrotados de milho e outros cereais, assistindo, entretanto, camponeses vendendo, de forma descoordenada, os alimentos acabados de sair das machambas, sem se importarem com os próximos meses, que se pensa venham a ser muito difíceis e de insegurança alimentar devido à procura dos cereais por pessoas oriundas de outras partes de Moçambique, e não só.

Aliás, sobre o assunto, Marques Abdala, líder comunitário de Mugoma, em Maúa, disse à nossa Reportagem que a abundância de alimentos provoca outros problemas, pelo que, segundo ele, o Governo deve, nesta fase inicial em que o fenómeno começa a ocorrer, travar rapidamente a venda descontrolada de produtos agrícolas sob o risco de assistirmos nos próximos tempos bolsas de fome em algumas zonas da província.

Chilundo ficou impressionado com o que viu e ouviu, principalmente na área de produção, sobretudo no primeiro distrito, onde os cerca de 64 mil habitantes, que constituem a população de Maúa, conseguiram produzir mais de 70 mil toneladas de produtos alimentares, cifra considerada suficiente para garantir a auto-suficiência do distrito.

Enquanto isso, com pouco mais de 35 mil habitantes, Nipepe parece não ter-se ressentido dos efeitos da chuva. O informe apresentado ao governador de Niassa aponta para cerca de 59 mil toneladas a quantidade de produtos alimentares produzidos na última campanha agrícola, superando em 30,3 por cento a produção da época anterior.

Este número agradou a Chilundo e deixou um repto: “O governo distrital deve desenvolver um grande esforço no sentido de sensibilizar as comunidades a não venderem os seus alimentos de uma única vez”, disse, acrescentando que normalmente, entre finais de Dezembro e princípios de Janeiro, a província de Niassa ressente-se de falta de alimentos e, nessa altura, os preços disparam, deixando as pessoas sem capacidade de compra.

Em algumas zonas da província mais extensa de Moçambique, onde se destacam os centros urbanos, o preço de milho já começou a disparar, estando em Lichinga, por exemplo, a ser comercializado ao preço de 350 meticais/lata de 20 litros contra os 150 meticais que custavam há um mês.

POTENCIAR AS COMUNIDADES

EM ÁGUE E ENERGIA ELÉCTRICA

Durante os encontros interactivos que manteve com as populações dos dois distritos, Chilundo foi confrontado com o problema da falta de água e energia nas comunidades próximas das sedes distritais. Em Mugoma, as populações pediram a electrificação das suas residências. Inquietação idêntica foi apresentada também nos povoados de Muluco, em Nipepe.

Aqui, para além dos habituais problemas de falta de água, energia, salas de aulas e centros de saúde, a população juntou estas preocupações a necessidade da construção da ponte sobre o rio Naurenge, que liga Nipepe às suas congéneres de Balama e Namuno.

Sobre as preocupações apresentadas nos comícios interactivos com as populações daqueles dois distritos, o governador de Niassa foi cauteloso nas suas respostas, garantindo, entretanto, que o seu governo está a trabalhar afincadamente com vista a responder às inquietações apresentadas. Anunciou que este ano os dois distritos vão ter mais água, com a abertura de mais furos e reparação de mais outros, avariados.

Sublinhou que um grande esforço está a ser feito no sentido de prover mais energia de qualidade às comunidades que ainda não dispõem desta importante fonte para o desenvolvimento da província de Niassa, lembrando que o Governo não tem dinheiro suficiente para satisfazer todas as necessidades de uma única vez.

“Temos que ter um pouco de paciência e grande capacidade de saber esperar. O Governo está consciente das necessidades do povo. No devido tempo, vamos responder”,aconselhou Chilundo, pedindo aos governantes locais a colocarem a energia e água no topo das prioridades da sua governação.

Tanto em Maúa como em Nipepe, o chefe do Executivo de Niassa reconheceu que a ausência da água e energia, principalmente, limitam a capacidade de as populações produzirem alimentos em grande quantidade e qualidade, salientando que, hoje, as populações sabem que a energia é muito importante para produzir alimentos em quantidade e qualidade.

À margem dos encontros oficiais, e em conversa com a nossa Reportagem, António Fazenda, produtor de Nipepe, anotou que a água é, igualmente, tão importante como a energia eléctrica, pedindo aos governantes para concentrarem os seus esforços nesta área prioritária.

Fazenda enalteceu a importância da energia eléctrica, justificando que faz sentido que muitas comunidades sejam electrificadas, uma vez que, segundo suas palavras, crianças com idades compreendidas entre 10 e 15 anos ocupam-se, durante o dia, de trabalhos de afugentamento de macacos e de outros animais que se fazem às machambas, pelo que é justo que, essas crianças, compensem o tempo perdido estudando no período nocturno e em salas devidamente iluminadas.

Sobre o assunto, Arlindo Chilundo reconheceu que o Governo tem de fazer esforço no sentido de criar condições para que todos os distritos sejam electrificados num futuro muito próximo. Referiu-se à inclusão da taxa de lixo nas facturas da energia eléctrica, revelando que este procedimento lesa os interesses das comunidades, que afirmam não se beneficiar dos efeitos da medida.

“Vamos contactar a EDM para informá-la da impraticabilidade da decisão”,garantiu Chilundo, ao mesmo tempo que prometia a substituição do actual sistema de electrificação por "credelec", para evitar, segundo disse, desconfianças entre o utente e o pessoal da Electricidade de Moçambique e, por outro lado, permitir que sejam os próprios clientes a fazer a gestão das suas contas de energia eléctrica.

André Jonas
andre.jonas@snoticicas.co.mz

Você pode também gostar de: