O distrito de Angónia, província de Tete, tem uma temperatura que faz lembrar tudo menos África. É fresco e quando o assunto é chuva, a coisa fica mesmo séria. Chove dias a fio. Mas, com a mesma facilidade com que cai, pode parar e o sol tomar conta do espaço nem que seja por escassos minutos.
E foi lá onde o Ouro Negro encontrou a jovem Séria Malizane que, por cima dos seus 22 anos de idade, aceitou partilhar a sua história de vida. Séria é vendedora de hortícolas no Mercado do Bairro Wilson nas cercanias da vila Ulonguê.
Séria – muito séria que se diga em abono da verdade – vive sozinha numa modesta casa no Bairro Wilson e sonha em ser enfermeira. Por enquanto não pensa em formar família por sentir que ainda é muito nova.
“Sou praticamente uma criança e ainda tenho muitos planos. Quero estudar e ser enfermeira. Gosto de cuidar dos outros”, diz Séria Malizane para quem há muitos problemas entre os jovens e crianças por causa dos casamentos prematuros.
Por causa disso, diz Séria, há muitas crianças que cedo deixam de estudar porque estão nos lares: “é verdade que aqui na cidade (Ulongue) não é muito frequente mas no interior há muitas histórias desse género”.
Séria revela-se algo reservada quando questionada sobre o facto de viver sozinha apesar da idade. Nervosamente responde: “Gosto de viver sozinha… há coisas sobre as quais não quero falar que me obrigaram a escolher viver longe da minha família. Estou bem assim.”
Sobre o dia-a-dia que leva, a nossa entrevistada diz que, apesar das dificuldades impostas pela vida, consegue o seu sustento vendendo produtos da horta no mercado.
“As coisas não estão fáceis. No ano passado tivemos um período de seca que estragou muitas culturas. Felizmente, este ano começamos bem. Está a chover bem embora nalguns casos crie problemas porque as vezes a agua demora escoar e há culturas que não gostam de muita água. Para mim está muito bom porque as verduras precisam de muita água”, celebra.
Uma das grandes preocupações das autoridades sanitárias de Ulongue tem a ver com o fecalismo a céu aberto e a proliferação de casos de HIV-Sida. Séria está consciente do problema e lamenta que outras pessoas não percebam como é fundamental ter uma boa higiene ambiental e evitar o contágio por HIV.
“Tenho vizinhos que usam casas de banho com latrina e outros não. Eu tenho uma latrina. Também sei que há muitas pessoas doentes de Sida. Diz-se que a nossa proximidade com o Malawi contribui mas acho que as pessoas deviam ter um pouco mais de cuidado”, rematou Séria Malizane.
Belmiro Adamugy