Os estudantes moçambicanos na Índia manifestaram preocupação em relação ao seu futuro após a formação. Na esteira disso, pediram que sejam garantidas colocações em áreas afins, de forma que não passem pela condição de desempregados com diplomas em mãos.
Esta preocupação foi apresentada aquando do encontro que o Presidente Nyusi manteve com um grupo de moçambicanos que frequentam cursos leccionados em universidades localizadas no Estado de Gujarat, na República da Índia, um programa enquadrado na visita de Estado que decorreu de 4 a 7 de Agosto corrente.
São, no total, quarenta e nove estudantes distribuídos por cursos de Engenharia Mecânica, Civil, Engenharia Informática, Química, Electrónica e Alimentar, e ainda pelo curso de pós-graduação em Ciências Forenses leccionados naquele país asiático. A maioria frequenta cursos ao nível da licenciatura e com grande concentração em Engenharia Química. Cinco estudantes cursam o grau de mestrado.
Na ocasião, o grupo agradeceu ao mais alto magistrado da nação pelo encontro e aproveitou a circunstância para louvar os esforços do governo de Moçambique na abertura de oportunidades para a formação académica dos cidadãos, no caso especial através da experiência de outro país.
Respondendo à colocação dos estudantes, Filipe Nyusi começou por dar um informe sobre o estado do país, tendo referido que a nação estava de boa saúde e que a preocupação do momento prendia-se ao desafio de manter a paz e unidade nacional.
Sendo necessária a contribuição de cada cidadão, convidou-os a darem o máximo de si, sem no entanto se apegarem em posições de destaque na sociedade. “Pensem em contribuir para o vosso país e não em ocupar cargos”. Esta observação foi feita, particularmente, em reposta à inquietação dos estudantes no que toca ao que o futuro os reserva, após a sua formação. De qualquer forma, foi destacada na ocasião a necessidade de serem empreendidos esforços de ambas as partes, Governo e todos os cidadãos, no sentido de criar postos de emprego, através de iniciativas empreendedoras.
Ainda durante o encontro, Filipe Nyusi chamou a atenção do país, em geral, e dos presentes em particular, para a importância de se focalizarem esforços na formação de quadros para o sector agrícola. É que, conforme foi observado na conversa com o grupo de estudantes moçambicanos na Índia, há uma grande concentração no curso de engenharia química, daí que“manifesto a minha vontade de ver mais pessoas optando pelo sector da agricultura, de forma a contribuir com conhecimentos importantes para alavancar o desenvolvimento do nosso país”, apelou o PR.
À margem da reunião, domingo conversou com dois estudantes que expuseram as suas experiências como estudantes fora de Moçambique e, num outro desenvolvimento, anunciaram de que forma pensam em contribuir para o desenvolvimento da sua pátria, após a formação.
Linda Mutheto, 19 anos, natural de Maputo, é estudante de Engenharia Alimentar, em uma das universidades de Gujarat. Orgulhosa, acredita que, de forma substancial, poderá responder aos anseios do país, uma vez que se encontra a frequentar um curso considerado uma ramificação da agronomia. “Nesta área em que me formo, o engenheiro faz a selecção da matéria-prima, que pode ser milho, arroz, entre outras, processa, avalia a percentagem de proteínas, gorduras e, inclusive, cuida da aplicação do produto para fins profiláticos, a título de exemplo, para os diabéticos”, explica-nos.
Conforme afirmou em seguida, a engenharia alimentar cuida, igualmente, da distribuição de forma segura dos alimentos. Com efeito, Linda apegou-se à ideia segundo a qual Moçambique é um país agrícola, “o que valoriza ainda mais a minha formação. Há mercado, e acredito que com o meu conhecimento poderei contribuir para o processamento da nossa própria produção e de olhos postos na capitalização dos nossos produtos. Só para exemplificar, podemos falar do uso da malamba e tindziva para a fabricação de sumos, yogurtes e gelo”, sustentou.
Entretanto, estudar na República da Índia está a ser interessante, pela descoberta do Outro e pelo cruzamento de culturas. De igual modo, está a ser produtivo pela existência de equipamentos importantíssimos para a formação do indivíduo, sob o ponto de vista prático, em diferentes áreas.
Segundo relatou, no princípio a convivência com o povo desconhecido foi muito difícil “até porque os meus colegas indianos achavam que em África só existiam macacos. Actualmente, está a ser interessante pelo cruzamento de hábitos e costumes e, acima de tudo, por podermos aliar a teoria à prática, uma vez que os laboratórios estão devidamente apetrechados”, disse Linda.
Outro estudante, Jairo Augusto, 18 anos, que frequenta o curso de Engenharia Electrónica, no primeiro ano, garantiu, no início da conversa, que não obstante os desafios urgentes que o país apresenta, uma vez formado, dará um contributo valioso no sentido de tornar Moçambique uma referência na área de informática que aliás, segundo explicou, pode ser acoplada a qualquer outro sector de actividades de forma a agilizar o seu funcionamento.
Louvando a importância destes conhecimentos, pediu ao Governo que se empenhe na introdução e materialização da disciplina de informática nas classes iniciais no processo de Ensino e Aprendizagem. “Essa é uma das grandes diferenças entre Moçambique e Índia, por exemplo. A área de informática é crucial para qualquer ramo, por isso lanço este apelo no sentido de se atribuir o valor que ela merece no processo de ensino”, disse Jair Augusto.