Casos inéditos ou invulgares, se não insólitos, não acontecem só lá fora, aqui também são protagonizados. O mais recente aconteceu no boxe, no torneio internacional havido no Estádio do Zimpeto de 10 a 12 de Julho, envolvendo pugilistas moçambicanos, zambianos e suázis.
António Watche, 32 anos, pugilista que vinha acumulando as funções de atleta e de chefe do departamento de boxe no Matchedje, medalha de bronze dos Jogos X Jogos Africanos, realizados em 2011, aqui em Moçambique, já era dado como inválido aos trabalhos da Selecção Nacional, de que é seleccionador Elísio Manhiça, treinador do Ferroviário de Maputo. As últimas derrotas que sofreu diante de “miúdos” que se evidenciam no pugilismo da capital não o deixaram diminuído nem desistido.
Já tido como farrapo, ninguém se lembrou dele para o torneio internacional a que já nos referimos. Só que, à última hora o nosso combinado se ressentiu da falta de um pugilista com peso de 56kg. Isso nada preocupou ao seleccionador nacional nem a própria federação. Mas para Watche, Moçambique tinha que competir nos 56k, porque não era órfão desse peso, ele ainda se encontrava vivo e no activo.
Quando a notícia de falta de 56kg na selecção de Moçambique lhe chegou aos ouvidos, não se fez demorar, foi a correr apresentar-se à pesagem, o que lhe foi aceite, mesmo duma forma céptica. Ao invés de pesar 56kg, Watche pesou 60kg, peso com que teve que subir ao ringue, tendo no primeiro combate esmagado um suazi, que ficou inapto para o resto da prova. No seu segundo combate bateu de forma espectacular um zambiano, tendo contribuído para Moçambique conquistar a medalha de ouro.
Numa altura em que na selecção moçambicana de de boxe há pugilistas que só perdem, é bom que se aproveite esta oportunidade de ter Watche já em forma e com capacidade de voltar a glorificar o país nos Jogos Africanos, cuja próxima edição realiza-se em Brazavville, no mês de Setembro.
PROVEI COMO SOU CAPAZ
“Em 2014 parei de me treinar. Estava atarefado com os estudos, na conclusão do meu curso de Contabilidade e Gestão, apesar de os treinadores, Vanda e Jamal, me chamassem sempre para combater. Andei a perder, algumas vezes de forma desastrosa. Fiquei fora da selecção em 2014. Até agora estou fora da selecção”, explica-se Watche António, pugilista do Matchedje de Maputo.
“Se estou aqui é porque vim me oferecer porque ouvi dizer que o meu país não tinha o peso de 56kg. Vim perguntar: como é que Moçambique não tem 56kg, enquanto eu peso 56kg? Pesei 57kg, o que me permitiu passar para 60kg. O que tinha sido seleccionado para nos representar nos 60kg perdeu e eu ganhei. Amachuquei um suazi. Dei-lhe um KO que jamais esquecerá. E na final derrotei de forma convincente um zambiano. E acabei provando que ainda tenho lugar na selecção de Moçambique. Se apenas tivesse falado, ninguém acreditaria em mim”, esclarece o pugilista que foi invencível em Moçambique.
“Já não estou a estudar. Já conclui o meu curso de contabilidade e gestão. Agora vou-me entregar no máximo aos treinos, porque a minha meta continua a ser a de chegar aos Jogos Olímpicos e trazer medalha para Moçambique. Não volto para a chefia do departamento de boxe do Matchedje. Quando era atleta e chefe, sempre que não fosse aos treinos, por ocupação escolar, os meus colegas diziam que era por ser dirigente. Agora é só trabalhar, treinar e jogar” – explica.
Quando questionado como é que avalia o estágio actual do boxe em Moçambique, Watche prefere dizer “mal não está.”
Para ele “se ganhamos este torneio é porque não estamos tão mal como se imagina. Houve tempo em que levávamos porrada com os suazis, agora é o contrário.”
No que toca ao seu clube, Matchedje, julga que “as coisas não vão muito bem. Não temos onde treinar. Esperamos que as obras de modernização do nosso ginásio da Base Aérea terminem. Em breve Matchedje vai retomar o seu lugar de líder no boxe Moçambique”.
Manuel Meque