Espectadores hipnotizados, prestam atenção a cada detalhe do que vai acontecendo no palco. Dadivo José, influenciado pelo seu curso de formação (História) veste a capa de um “grande general” da guerra e pretende levar o público a embarcar numa viagem de volta ao passado.
Em “O culpado? Combati um bom combate”, o grupo teatral Mahamba revisita a história recente de um país que ainda não se refez das feridas da guerra.
A peça foi apresentada no primeiro dia do 12˚ festival internacional do teatro de inverno organizado pela associação girassol e que vem decorrendo no Teatro Mapiko da Casa Velha na Cidade de Maputo.
Dadivo José, que interpreta o ex-general, personifica a lucidez e a loucura de um homem ferido pelo destino e grandemente amargurado com o país que ajudou a defender. A guerra terminou há anos mas ele mantém vivas as lembranças da guerra. Ele entoa canções de guerra para o filho, interpretado pelo actor Horácio Bernardo, a quem procura explicar o assassinato da sua ex-esposa e o padrasto do seu filho.
“Foi uma satisfação enorme ser um dos primeiros grupos a apresentar sua peça. Foi um momento de muito nervosismo, muita tensão. Foi muito bom e foi um desafio e tanto apresentar essa peça ao lado do professor Dadivo”, expressa seu sentimento Horácio.
Mas a data não foi simplesmente reservada ao grupo teatral Mahamba. No palco subiu um grupo de amadores vindos de Quelimane. “Os Retratistas”, apresentaram uma que conta a história de um conflito religioso entre duas famílias.
FESTIVAL “QUENTE”
Joaquim Matavele, director do festival de inverno explicou que o foco do festival, apesar de ser internacional, não mudou: “O objectivo é a divulgação de grupos amadores, e outros que não tem espaço para apresentar as suas peças”, explica.
Matavele disse que a pretensão do festival é continuar a consolidar e promover o teatro na cidade de Maputo e Moçambique. “Ao longo desses anos todos fomos ajudando grupos a se projectar, a saírem do anonimato para o profissionalismo. Eles já nos representam lá fora e estes foram surgindo ao longo do tempo revelando-se mais talentosos”.
Para Albertina Guilaze, da produção do Festival, cada edição constitui um desafio e, portanto, uma inovação. No seu entender, o foco está no estabelecer contactos com outros grupos para criar um intercâmbio cultural entre países. “É uma simples troca de experiência”, explica-se.
INIMIGOS DO FESTIVAL
A falta de condições materiais faz com que os organizadores do evento diminuam os grupos que participam no Festival. Para além das condições, a falta de qualidade nas peças apresentadas desanima a organização que prefere excluir logo a partida os grupos: “no ano passado foram 36, este ano são 24”, conta Albertina.
Mas isso não proíbe os grupos amadores de continuarem a sonhar em levar seus projectos além fronteira. “O que acontece é que os grupos que vem aqui participar também sentem a necessidade de levar a sua cultura para fora e o nosso teatro por acaso é conhecido ao nível internacional, mas era necessário termos uma sala para espectáculos”.
Para Joaquim, as condições logísticas nunca chegam ser satisfatórios: “não atingem os 100 porcento, mas baseamo-nos na vontade própria. Fazemos esse trabalho como se fosse hobby e o ganho é espiritual e o contacto com os outros, fazendo uma promoção do teatro nacional”.
Matavele, sem medo aponta o dedo a causa dos insucessos nas associações: “O problema é que não te podes juntar a uma associação a pensar nos problemas financeiros. Há casos em que tenho que tirar dinheiro do meu bolso para fazer alguma coisa, mas faço-o.”
Acrescenta que “a bilheteira de todo o festival que não ultrapassa os 2000 espectadores e depois temos que pagar a sala, pagar a electricidade” .
DESAFIOS E SURPRESAS
Este festival estará repleto de grandes novidades. O teatro de inverno contará com a participação de alguns grupos angolano, um grupo chamado Anamavenxiwa entre outros
“Queremos crescer; cada ano colhemos novas experiências. Começamos a gatinhar com nossos próprios pés. São 12 anos em termos de legado, já lançamos muitos grupos”, diz Albertina.
Outra surpresa é a participação do grupo teatral Lambda. O grupo irá se estrear no festival com a peça “Onde estavas”. “A lambda vai apresentar-se e é a primeira peça do homossexualismo. Nós também agora queremos olhar para isso, pois toda novela tem isso e não foi um tema imposto por serem nossos parceiros”, justifica-se Matavele. De referir que haverá também debates sobre critica de teatro e associativismo teatral.
Texto de Pretilério Matsinhe