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Badjia domina ruas e avenidas da cidade

Por admin

Texto de Benjamim Wilson e Fotos de Jerónimo Muianga

Muitas famílias ao nível da cidade de Maputo, chefiadas por mulheres, ganham a vida vendendo badjia, um pastel preparado com base no feijão nhemba. A maioria vive na periferia, mas é no centro da cidade onde desenvolve o pequeno negócio. Para tal, algumas mulheres trazem do subúrbio fogão a carvão, alguidar, lenha, óleo, alho e sal para a sua preparação. Tudo se faz como se o subúrbio se transferiu para a cidade.  

Quando as pessoas começam à chegar cidade, a caminho dos respectivos postos de trabalho, as vendedeiras já se encontram nas esquinas, geralmente junto de paragens de autocarros ou próximo de padarias.

Na frente delas, pode se achar bacias com badjias e um saco de pão, sendo assediadas por clientes, geralmente trabalhadores e estudantes, que compram aquele pastel para o matabicho.

Trabalhadores operários, funcionários públicos e privados, incluindo estudantes de vários níveis de ensino, observam, em regra, uma pausa junto das vendedeiras para comprar pão com badjia. 

O grupo de mulheres que vende badjias “abre as portas” da cidade, uma vez que chega aos seus pontos de trabalho, enquanto muita gente ainda está a despertar para mais um dia de trabalho.

Elisa Lucas, moradora no bairro da Maxaquene, chega próximo da antiga fábrica de cerveja “Laurentina”, na Avenida Guerra Popular, por volta das 3.30 horas. Dedica-se à venda de pão, batata frita, polony, rachel e espetadas de galinha.

Conforme nos disse aquela vendedeira, vê-se obrigada a dormir cedo, todos os dias, para poder começar a preparar os pastéis de nhemba a partir da 1.00 hora da manhã.

Eu, praticamente, durmo de dia. Tenho que madrugar, porque as pessoas gostam de comprar os produtos ainda quentes. Vendo, habitualmente, para trabalhadores, disse.

Elisa Lucas dedica-se àquele negócio há nove anos, o que lhe permite assegurar o sustento dos quatro filhos e pagar a renda da casa onde reside, cujo custo mensal é de 1.500,00 meticais.

Percina Mainga, moradora no Bairro Central, é outra vendedeira que se dedica ao negócio de badjia há sensivelmente 24 anos. Disse que prepara por dia cinco latas de feijão nhemba, para confeccionar as badjias.

Percina começa a vender as 4.00 horas e termina as 9.00 horas, tempo mais do que suficiente para fazer a receita do dia e que lhe permite cobrir as suas necessidades domésticas.

Os meus filhos frequentaram a escola com base neste negócio. Eu vendo badjia, ovo frito e polony. As pessoas gostam mais de badjia, referiu.

Julieta José, outra vendedeira, residente no Bairro Maxaquene-A, arredores da cidade de Maputo, disse que faz aquele tipo de negócio há sensivelmente 26 anos,  num dos passeios da Avenida Guerra Popular.

Aqui, consigo produzir algum dinheiro que me permite sustentar os meus cinco filhos. Faço este negócio porque não é o mesmo que ficar em casa de braços cruzados, disse.

Em frente da Padaria Confiança, sita na Avenida Guerra Popular, costuma posicionar-se, para a venda da badjia, Vitória Magaia, mãe de três filhos, moradora no Bairro da Urbanização, a qual vive daquele tipo de negócio há sensivelmente cinco anos.

Vitória Magaia segue, de forma impressionante, uma rotina diária algo diferente da de muitas pessoas, como forma de poder manter o seu negócio em dia, evitando falhar em qualquer detalhe, para não colocar em causa a sua única fonte de subsistência.

O processo de preparação começa às 17.00 horas, pilando o feijão nhemba, para cerca das 22.00 horas colocar o feijão esmagado em molho. A partir das 2.00 horas da manhã começa a fase de preparação efectiva das badjias, atingindo em média 800 unidades diárias.

Segundo nos disse aquela vendedeira, já possui clientes da sua confiança, tendo a particularidade de existir pessoas que levam as suas badjias para pagarem no final do mês.

As badjias que vendo variam entre 1,00 e 1,50 metical. Tenho uma cliente que leva 150 badjias por dia e vai revender na sua empresa. Faço com piri-piri e sem piri-piri, afirmou.

Maria Nguenha, moradora no Bairrio Polana-Caniço/A, mãe de seis filhos, comercializa na baixa da cidade de Maputo por dia mais de 100 badjias e cerca de 30 pães. Cada badjia custa 1,00 metical, tendo, neste negócio que começou em 2003, preferencialmente trabalhadores como seus habituais clientes.

O que ganho dá para comprar sal e sabão para a minha casa. Começo a moer às 2.00 horas da manhã e saio da casa às 5.30 horas, de segunda à sexta, disse aquela vendedeira, cujo ponto de venda é nas imediações da seguradora nacional EMOSE.

Quando Maputo não é

uma cidade de atentados

A cidade de Maputo, definitivamente, está muito longe de ser uma urbe insegura quando comparada com cidades iraquianas, onde “xiitas” e “curdos” protagonizam constantes atentados, que chegam a ceifar milhares de vidas humanas inocentes. Por lá, seria difícil, mas aqui, no nosso seio, alguém pode a vontade acender carvão num fogão, em pleno passeio, sem causar admiração a muita gente. 

 

Em frente da Escola Industrial 1º de Maio, na esquina entre as avenidas “24 de Julho” e “Vladimir Lenine”, encontra-se Palmira Mafanela, a moer feijão nhemba e a fritar badjias no local, junto de uma acácia. Disse que vive no Vale do Infulene e, geralmente, começa a trabalhar a partir das 4.30 horas em cada dia útil da semana, vendendo cada badjia ao preço de 1,00 metical.

Tanta gente, entre estudantes e trabalhadores, faz uma pausa onde se encontra a trabalhar Palmira e compra badjias quentes, para depois retomarem o trajecto para os seus respectivos destinos. Os movimentos, quer da vendedeira, quer dos clientes, decorrem na maior descontracção, o que leva a crer que aquele negócio é rotineiro.

Em conversa com a nossa Reportagem, Palmira disse que prepara badjias sem piri-piri, porque os seus clientes assim gostam. O equipamento de trabalho, como fogão a carvão e alguidar, guarda nas traseiras de um dos prédios circunvizinhos.

Sou viúva e mãe de quatro filhos. Vivo deste negócio desde Novembro. A partir das 5.00 horas, já tenho clientes. Vendo badjias e 40 pães por dia, afirmou.

Hambúrguer moçambicano

Tem sido comum ouvir-se, nos meandros da venda de badjias, que aquele produto, quando consumido com pão, se assemelha a um “hambúrguer”, mas à moda moçambicana.

Embora não tenha o recheio que um hambúrguer convencional possui, pela maneira como muitas pessoas compram para comer no mata-bicho, nota-se que há fortes razões para que grande parte dos consumidores considere o pão com badjia como sendo um “hambúrguer moçambicano”.

Segundo explicações dadas ao domingo, para a preparação da badjia envolve-se, além do feijão nhemba, como principal matéria-prima, o alho. O feijão deve ser pilado para retirar a casa. Depois é colocado em molho numa bacia, para melhor ser moído numa mbenga.

Depois de moído na mbenga, envolvendo-se outros ingredientes indispensáveis, o produto é frito numa frigideira, em tamanhos que não ultrapassam uma colher de chá.

Foto de Jerónimo Muianga

 

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