Início » EDM “aprende a lição”

EDM “aprende a lição”

Por admin

Texto de Jorge Rungo e Fotos de Jerónimo Muianga

A queda das torres de transporte de energia no distrito de Mocuba, na Zambézia, serviu de lição para a Electricidade de Moçambique (EDM), que agora se movimenta de forma completamente diferente. Mandou fazer outras torres metálicas e planeia erguer protecções em betão armado e implantar “torres de força” nas margens dos rios. Também está a “alfinetar” o Eximbank, da China, para libertar fundos para a construção da segunda linha entre Caia e Nacala, e investir em fontes alternativas de geração de energia para o país não depender somente da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).

Não basta aprender com os erros. É preciso aperfeiçoar os acertos, reza um dito popular que se encaixa como uma luva no caso da EDM, empresa pública que iniciou o presente ano com uma das piores tragédias da sua história, nomeadamente a queda de 10 torres metálicas de transporte de energia eléctrica em alta tensão, e que deu origem a um apagão de 27 dias nas províncias da Zambézia, Niassa, Nampula e Cabo Delgado. 

Enquanto preparávamos o fecho da presente edição, a EDM comunicou que desde as 00.05 hora de ontem, dia 21 de Fevereiro, a parte Norte da província da Zambézia e as províncias de Niassa, Nampula e Cabo Delgado estavam novamente desprovidas de energia eléctrica devido a uma avaria na linha Centro-Norte, provocada pelas fortes chuvas e descargas atmosféricas que se registaram no distrito de Mocuba.

Pelo que a nossa Reportagem apurou, desta vez a chuva “e seus parceiros atmosféricos” não deitou a baixo nenhuma torre e nem rompeu os cabos. Apenas fez com que um pórtico vergasse, pelo que a expectativa dos técnicos que para lá foram destacados era de que o sistema poderia ser reposto “num estalar de dedos”.

Gildo Sibumbe, Presidente do Conselho de Administração (PCA) da EDM, disse repetidas vezes que este tipo de acidente serve de lição para a empresa e, quiçá, para o país, uma vez que faz vislumbrar algumas das maiores necessidades da empresa, com particular destaque para o quesito investimento na manutenção e também na prevenção.

Apesar da queda das dez torres ocorrida a 12 de Janeiro ter sido fruto de um acidente natural, está claro que a adopção de medidas preventivas poderia ter evitado as trevas que se sucederam nas quatro províncias e, pior, por 27 dias.

Conforme constatamos no terreno, no ponto onde a linha atravessa o rio Licungo só existe uma “torre de força” na margem Norte. No lado Sul, nicles. Sem esta “peça”, as torres deste lado sempre estiveram condenadas a tombar em grupo, como, aliás, viria a acontecer quando o rio Licungo, carregado de fúria, quis bater o seu recorde “olímpico” de destruição.

Se tivéssemos uma “torre de força” deste lado, o máximo que poderia acontecer seria a queda da torre que estivesse a ser pressionada pelos destroços arrastados pelas águas e as restantes permaneceriam em pé, ainda que sofressem algumas deformações”, confirmou Isaías Rabeca, um dos administradores da EDM que dirigiu as operações de reposição de emergência daquela linha.

Enquanto decorria a construção da linha alternativa, a EDM mandou produzir novas torres metálicas na África do Sul, que deverão ser erguidas em substituição dos 45 pórticos de madeira improvisados nesta fase de emergência. Na mesma encomenda está incluída uma “torre de força” destinada à margem Sul. A construção da linha definitiva deverá iniciar no final da presente época chuvosa.

Tendo em conta o estrago a que o país assistiu, o departamento de Estudos e Projectos da EDM é agora obrigado a ir “beber” da experiência da HCB que, no começo do ano passado, viu cair algumas torres na região de Pafúri, no interior da província de Gaza, por uma causa parecida, nomeadamente a fúria das águas do rio Limpopo.

Aliás, a HCB é uma espécie de veterana no que se refere à queda de torres. Em 1978, no ano 2000 e em 2014 caíram torres no vale do Limpopo. “A água arrastou alguns troncos de árvores que se encaixaram na torre e, devido à pressão, as torres cederam”, disse Moisés Machava, há cerca de um ano quando era director de Engenharia de Manutenção da HCB (hoje é um dos administradores da HCB).

Naquela época, Moisés Machava enfatizou que aquela empresa estava a desenhar uma solução definitiva que passaria pela construção de um sistema de protecção das linhas e torres através de um ligeiro desvio do traçado e também da construção de pilares especiais para que as torres possam suportar eventos naturais severos.

Gildo Sibumbe, que foi igualmente administrador da HCB, conhece muito bem o projecto e assegurou ao nosso jornal que parte da solução do problema da travessia da linha sobre o rio Licungo passa pela adopção deste tipo de medidas, com maior pendor para a construção de pilares mais robustos, e em forma de triângulo, que ajudem os destroços a seguirem o curso do rio e não ficarem presos nas cantoneiras a forçar a queda das torres.

NEGÓCIO DA CHINA

SUÉCIA E COMPANHIA

Ao longo dos últimos três anos, a EDM fez saber que a linha Centro-Norte, que parte do Songo até Nampula, e ainda bifurca para Cabo Delgado e Niassa, é uma das mais longas do mundo, facto que concorre para o fornecimento de energia sem o mínimo de qualidade por toda a região abrangida.

Com efeito, aquela linha percorre 1200 quilómetros (km) de Songo, em Tete, até Nampula, faz 1100 km de Songo até Lichinga, no Niassa, e percorre um total de 1500 km de Songo até Pemba. Para agravar, esta linha está despida de um conjunto de equipamentos de protecção e de estabilidade que só comprometem o fornecimento com qualidade e segurança.

O que impressiona é que esta linha nasce bem gordinha no Songo e vai emagrecendo até ao destino. Até Chimuarra, no Sul da Zambézia, são duas linhas duplas, com direito a cabo de guarda e tudo. Porém, de Chimuarra até Mocuba, as coisas mudam de figura. Passa a ser uma única linha com cabo duplo, o que mesmo assim remove em 50 por cento a fiabilidade, tendo em conta que se há uma avaria, todas as províncias que estão mais a Norte ficam às escuras.

De Mocuba, na Zambézia, até aos locais onde a linha termina vai uma linha única, sem cabo de guarda, o que quer dizer que qualquer relâmpago pode criar problemas. Para tornar as coisas mais complexas, estas linhas operam no seu limite e, como se vê, não há redundância, nem mesmo “para inglês ver”.

Para suprir estas dificuldades, a EDM anunciou recentemente que o governo da República Popular da China se colocou na disposição de conceder 600 milhões de dólares necessários para construir uma segunda linha de Chimuarra até Nampula, enquanto, por outro lado, são instalados “bancos capacitores”, que são equipamentos que vão servir de amortecedores para a corrente eléctrica se manter minimamente fiável entre uma subestação e outra.

A nossa Reportagem apurou que o Eximbank já tinha avançado muito com os procedimentos burocráticos atinentes à identificação da empresa que deve executar a obra mas, para azar da EDM, aquele banco descobriu um conjunto de irregularidades na tal empresa e recuou com o dinheiro e com o expediente.

Por estas alturas, e segundo fontes do Conselho de Administração da EDM, o Eximbank está à procura de outra empresa lá na China para concretizar a tão desejada obra no nosso país. A escolha de uma empresa chinesa para vir construir a segunda linha de Chimuarra a Nampula é uma exigência do governo chinês mas, também se trata de uma prática que os restantes financiadores deste sector obedecem. Se o financiador é a Suécia, a obra é feita por suecos. Se é a Finlândia, idem. Noruega, ibidem. E por aí em diante.

FONTES DE GERAÇÃO

PRECISAM-SE

Moçambique continua a ser um dos países com a maior taxa de novas ligações na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e, consequentemente com maior pressão na rede eléctrica” indica um documento a que tivemos acesso com o título “Caracterização do fornecimento da energia eléctrica em Moçambique”.

Entre outros, este documento revela que nos últimos cinco anos houve uma duplicação da taxa de acesso à electricidade, o que em parte é bom porque significa que mais moçambicanos passaram a ter acesso à energia. Porém, o cenário muda de figura quando se observa que a HCB contribui com 90 por cento do balanço energético do país.

Aquele documento, que tem a forma de um estudo, dada a sua estrutura e fertilidade de dados, indica ainda que se o país quer se precaver do risco da dependência de uma única fonte, no caso a HCB, deve investir pelo menos 150 milhões de dólares por ano em novas fontes de produção.

Aliás, apesar de a HCB “ser nossa”, só fornece 300 megawatt de energia ao nosso país pois, por força de contractos comerciais rubricados com a África do Sul, que só expiram em 2029, deve produzir e fornecer 1100 megawatt à África do Sul.

Conforme referimos antes, a região Norte depende de uma única linha e, por isso, conta em 100 por cento com a HCB, a região Centro depende da HCB e das centrais de Mavuzi e Chicamba (que operam assim-assim), e a região Sul é alimentada pela HCB, via África do Sul. Para o caso da região Sul, que até parece favorecida, as linhas que entram para esta área operam no limite e não podem ser interrompidas em nenhuma circunstância, o que é de todo mau.

Aliás, o país tem cerca de 610 megawatt de energia disponível mas, o consumo é estimado em cerca de 745 megawatt, o que significa que há um défice de 135 megawatt que devem ser adquiridos em algum ponto. “Por isso, urge acelerar a construção de novas fontes de produção de energia bem como aprimorar as políticas de eficiência energética como forma de utilização racional de energia disponível”, refere o documento em nosso poder.

CONSTRUÇÕES EM ÁREAS DE SERVIDÃO

EDM leva famílias ao tribunal

A Electricidade de Moçambique está em pé de guerra contra algumas famílias dos bairros da cidade e província de Maputo que entenderam edificar as suas habitações ao longo do traçado da segunda linha de transporte de energia em Alta Tensão que parte da subestação de Infulene e desemboca na sede do distrito da Manhiça.

Dados em nosso poder indicam que o litígio já se encontra em poder do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e abarca famílias residentes nos bairros d Zimpeto, Magoanine, Guava, Matendene, Abel Jafar, Congolote, na Cidade de Maputo, e Agostinho Neto, Marracuene, Macaneta e Manhiça na Província de Maputo.

Conforme apurámos, a presença destas famílias, em número que não nos foi revelado, está a comprometer a conclusão das obras de construção daquela linha, aprazadas para o final do primeiro trimestre deste ano, que visam melhorar e reforçar a qualidade do fornecimento de energia eléctrica aos clientes daqueles bairros e outros circunvizinhos.

Fontes da empresa apontam que várias tentativas para persuadir os ocupantes ilegais a abandonarem os espaços foram infrutíferas, tendo a empresa optado por indemnizar os visados. Terá sido no processo de indemnizações que surgiram conflitos que tiveram intervenção das instâncias judiciais.

Neste momento, a continuidade e consequente conclusão das obras de construção da referida linha, que contribuirá para melhorar sobremaneira a qualidade de energia fornecida aos bairros e locais acima mencionados, estão dependentes do curso do processo judicial.

Fotos de Jerónimo Muianga

Jorge Rungo
jrungo@gmail.com

Você pode também gostar de: