As zonas centrais da Cidade de Maputo – e de outras capitais – vão sendo “asfixiadas” pela invasão do cimento, cada vez mais desordenado, sendo que nesta altura a palavra de ordem das autoridades municipais é a da priorização da construção horizontal, para caber mais gente e mais serviços. Na prática, isso significa menos espaço para as pessoas respirarem e menor ainda para se movimentarem e se exercitarem.
Sobretudo os jovens, que saem mais penalizados.
Os planos urbanísticos outrora desenhados e que contemplavam jardins, recintos desportivos e espaços verdes para as caminhadas, vão desaparecendo para dar lugar aos arranha-céus, para muitos o grande sinal de progresso duma urbe.
FUTEBOL: O “ADEUS
AOS LABORATÓRIOS”
Esta invasão do cimento e do mercado informal a que vamos assistindo, é um dos fenómenos com cariz mundial a que dificilmente o nosso país poderia escapar. Ao negócio entre as grandes empresas e ao “frenesim” do lucro e das “mais-valias”, chama-se… progresso. Parar é morrer, diz-se!
Porém… em relação aos países desenvolvidos que conhecemos, o veneno existe, é verdade, mas há entidades preocupadas com o… contra-veneno.
Vejamos Lisboa. A força do desporto, no caso vertente em relação ao futebol, em circunstância alguma se permitiria retirar do centro da cidade capital de Portugal os estádios da Luz ou de Alvalade para zonas da periferia. Soubemos das disputas de terrenos nestes grandes clubes, da construção de novos estádios, imponentes, mas todos em zonas centrais e acessíveis aos moradores do centro daquela cidade europeia. O mesmo se poderá verificar no Porto, em Madrid ou mesmo em Paris.
No nosso caso e talvez porque o desporto é um parente pobre na nossa sociedade, os campos de futebol e os espaços livres nas zonas centrais da capital, vêm sendo negociados para grandes empreendimentos em Assembleias de sócios, em que só uma minoria o é de facto, legitimada pelas quotas em dia e participação regular. É desta forma que as AG,s votam e legitimam a venda dos espaços nobres, com a contrapartida da promessa da construção de estádios de qualidade duvidosa em zonas longínquas e de difícil acessibilidade.
Exemplos? Os desaparecimentos ou em vias disso, dos campos do Maxaquene, Desportivo e Estrela Vermelha.
O SEU A SEU DONO
Que possibilidade resta aos jovens – meninas e meninos – que vivem e estudam nas zonas centrais da capital, de se iniciarem e exercitarem no desporto-rei, na Baixa, Alto Maé, ou mesmo nos subúrbios, outrora “Universidades” de estrelas como Eusébio, Coluna, Matateu e tantos outros?
Depois da incómoda situação do “chapa” para irem à escola, resta a opção pelo “my love”, para se deslocarem à Matola ou a Marracuene onde poderão fazer o gosto ao pé.
Desporto é sacrifício na competição, que pode trazer benefícios e contrapartidas quando se chega ao estrelato, mas na recreação e iniciação, é prazer.
O campo para se jogar, em diversão com vizinhos e amigos, tem que estar no quarteirão, ou próximo dele.
Cumprir uma deslocação penosa, enfrentando um trânsito desordenado na ida e na volta, com acidentes e incidentes à mistura, não encoraja os mais temerários e decididos. Sobretudo quando os “games” ou os televisores estão “à mão de semear”.
Conclusão: face aos campos nada aliciantes que distam duas horas de viagem ou o engrossar a legião cada vez maior de adeptos que se “exercitam” e se emocionam com as proezas do Enzo Perez, Gaitán, Nani, Maicon, CR 7, Messi e outros pelo mundo fora, que opção?
A mais lógica. Assim, o país ganha estrelas capacitadas em comentar o que as TV,s proporcionam enquanto a juventude definha na saúde e os resultados competitivos vão batendo, cada vez mais, no fundo.
Daí a minha saudação antecipada a um eventual retorno do “velho” campo do Maxaquene aos seus legítimos proprietários que são, para além dos “tricolores”, os moradores da baixa da capital do país.
Renato Caldeira