Os adeptos do Costa do Sol podem esfregar as mãos de satisfação. Não é para menos, a direcção do clube tem calculado para os próximos dois anos o resgate do estatuto de ganhador de títulos. Para o ano 2015, por coincidência da celebração do 60º aniversário da colectividade, esforço está sendo feito para a renovação e apetrechamento da equipa principal de futebol, com vista a participar no “Moçambola” sem sobressaltos.
O presidente de direcção do clube “canarinho”, Amosse Paulo Chicualacuala, assegura que as glórias das décadas de oitenta e noventa estão de volta, mesmo reconhecendo que em Moçambique não basta ter uma boa equipa de futebol para ganhar títulos, porque quem decide os resultados de jogos são os árbitros, o que vem tirando pureza ao futebol nacional.
E promete para breve uma nova imagem às infra-estruturas desportivas do clube na zona de Matchiki Tchiki, para além da construção a médio prazo de um campo de futebol e Centro de Estágio na Catembe. Nada será construído em Marracuane.
Senhor presidente, vamos começar assim: quanto tempo ainda o país vai esperar para voltar a ter Costa do Sol campeão de futebol?
Eu penso que precisamos de um ou dois anos para que o Clube dos Desportos da Costa do Sol volte a ser o que foi nas décadas de oitenta e noventa, com títulos consecutivos. Mas temos que observar que a realidade do futebol dos anos passados é diferente da realidade do futebol actual. Isto porque no passado havia futebol puro. Os verdadeiros artistas eram os jogadores e os seus treinadores. Hoje a situação fica um pouco perturbada porque se tem notado que nos últimos anos há muita interferência das equipas das arbitragens e, consequentemente, há reclamações de quase todos os clubes, atletas, técnicos e dirigentes pela forma como a arbitragem decide os resultados.
Face a isso que reacção esperar do Costa do Sol?
O Costa do Sol será sempre o Costa do Sol. Nós, seus dirigentes, vamos procurar fazer a nossa parte que é criar todas as condições aos técnicos e atletas para que desempenhem perfeitamente a sua missão. Quando assumimos a liderança do clube, em Março deste ano, dissemos claramente que precisamos de organizar a parte administrativa para conquistarmos bons resultados. E essa organização passa por criar condições de treinamento adequados, refiro-me ter campo condigno, equipamento para treinamento, ter um preparador físico, uma equipa médica que permita que as lesões não durem muito tempo e que o técnico tenha sempre os jogadores disponíveis e com salários condignos pagos a tempo e hora, assim como os prémios de jogos. Não só, também somos pelo acompanhamento permanente da direcção, com encontros regulares com a equipa técnica e atletas para que possamos viver o dia-a-dia da equipa.
Isso já está acontecer?
Já! Já está acontecer.
Quais são os sinais?
No Costa do Sol não há, por exemplo, sinais nem ruído de falta de salários e prémios de jogos. Criamos condições de união do grupo de trabalho (direcção, atletas e equipa técnica).
Já agora, que se espera da equipa no próximo ano?
Nós precisamos de reforçar a equipa e rejuvenesce-la, porque alguns jogadores já estão ligeiramente cansados. Precisamos de sangue novo ascendente da juventude interna.
Não vão precisar de comprar jogadores?
O termo comprar pode não ser adequado. Temos que reforçar a equipa com jogadores que julgarmos bons, sejam eles moçambicanos ou estrangeiros. Não podemos basearmo – nos apenas nos jogadores de formação para a estrutura central. Temos que juntar a experiência e a juventude.
Equipa técnica entre
continuidade e renovação
Precisarão de nova equipa técnica?
Se se apercebeu, tivemos mudança de treinador (saiu Salvado) em Junho. Indicamos técnicos que eram seus adjuntos, nomeadamente Nelson Santos e Artur Comboio. O Nelson Santos, embora tenha uma formação de nível "A" da UEFA, nunca havia sido treinador principal no Moçambola ou de um outro campeonato. Então, estamos a falar de alguém que ainda não tem experiência e astúcia que se exige. Artur Comboio treinava a equipa B e de juniores, pelo que ainda é inexperiente.
Perante essa situação vão ter que contratar novo treinador principal e respectivo adjunto. Estarei a perceber mal?
E face a esta situação, a direcção do clube no fim do campeonato vai-se reunir para analisar e tomar a melhor decisão. Os dois (Nelson Santos e Artur Comboio) podem continuar, assim como podem não continuar. Vai depender da direcção e não somente do presidente.
A direcção gostou do trabalho deles?
Da avaliação que fizemos concluímos que prestaram bom trabalho. Quando tomaram conta da equipa o campeonato estava na décima jornada, e o Costa do Sol estava a um ponto da linha da água. Tinha 11 pontos dos 30 possíveis. Com eles a equipa conseguiu garantir a manutenção e na Taça de Moçambique o Costa do Sol foi até as meias-finais. Para mim, entanto presidente do clube, estes resultados foram bastante positivos, porque serviram de motivação para a equipa, embora não se tenha ganho a Taça de Moçambique, o que serviria de salvação da época.
Campo e Centro
de Estágio na Catembe
O Costa do Sol respira bem financeiramente?
Dizer que respira bem, não é bem isso. Tem um orçamento anual patrocinado pela empresa Electricidade De Moçambique (EDM) e recebe reforços das empresas mCel e BCI, mas no seu todo não satisfazem as exigências do clube. É preciso compreender que não movimentamos apenas a modalidade rainha, o futebol. Movimentamos também o basquetebol, andebol e atletismo de formação, para além do futebol feminino. Nestas modalidades desfilam todos escalões, que no total juntam cerca de quinhentos e sessenta (560) atletas. Ora, esse número tem custos bastante elevados, mas é nossa obrigação engrandecer desportivamente o país. Não ganhamos nada por isso.
O clube tem recintos para a prática dessas modalidades em todos esses escalões?
Sentimos muita falta de pavilhão para as modalidades de salão. Os nossos atletas treinam e jogam em campos emprestados e ou em forma de aluguer. É isto que acarreta custos elevados ao clube.
A propósito de infra-estruturas, como vai o projecto do novo campo que sempre se falou?
Esse projecto que era para Marracuane? O Costa do Sol recebeu um terreno de cinquenta (50) hectares no distrito de Marracuene, onde seriam erguidas novas infra-estruturas desportivas do clube.
Onde seriam ou onde serão…?
Vou explicar. Passado algum tempo, o Conselho Municipal de Maputo nos solicitou esse espaço para a construção do Cemitério de Michafutene. Sendo uma causa nobre, o Costa do Sol aceitou essa cedência e em troca nos foi prometido outro terreno com as mesmas dimensões na Catembe. Neste momento há demarches no sentido de obtermos a titularidade desse terreno.
Há dificuldades para que isso não continue a demorar?
Não há. Já fomos ver o terreno. Depois houve requalificação da Catembe, ora porque há pessoas por reassentar por causa da construção da ponte…
É o Clube dos Desportos da Costa do Sol que se transferirá para a Catembe ou somente passa a ter suas infra-estruturas naquela margem da Baía de Maputo?
O que vai acontecer na verdade é que o Clube dos Desportos da Costa do Sol vai-se manter na zona de Matchiki Tchiki. Na Catembe se prevê a construção de um campo de futebol e um Centro de Estágio dos nossos atletas. Isso a médio prazo. Posteriormente, outros espaços do terreno poderão ser aproveitados para outras coisas.
O actual campo da zona de Matchiki Tchiki desaparece?
O actual campo vai permanecer. Estamos a prever a remodelação do campo arena (construído para futebol de praia) de modo a transforma-lo em um pavilhão multi-uso para as modalidades de salão.
Isso vai ser agora?
Já temos o projecto. Agora estamos à procura de fundos para a construção do pavilhão.
Custa dizer a EDM que precisam tanto de dinheiro para a construção de um pavilhão?
A Actividade da EDM é produzir energia de qualidade e proceder a sua distribuição. O desporto é uma actividade social da empresa. Não pode drenar muito dinheiro para o desporto. Precisamos de mais apoios.
O actual campo vai continuar a degradar-se?
O actual campo será reabilitado. A relva sintética vai ser remodelada. Vamos ter novos balneários. O que está caído vai ser reposto. O Centro de Estágio da Catembe vai-nos permitir deixar de gastar muito dinheiro no alojamento dos jogadores em hotéis para estágio. Poderá ser alugado por outros clubes nacionais e estrangeiros para a pré-época ou estágios que antecedem jogos.
Diga uma coisa, senhor presidente: vão ou não vender terrenos da zona da Matchiki Tchiki para obter dinheiro que permita celeridade na construção do novo campo e Centro de Estágio na Catembe?
O actual terreno não será vendido. Aliás, a vocação do Costa do Sol não é vender terrenos, mas, isso sim, promover o desporto. Há uma parte que está sendo usada no projecto Matchiki Tchiki Village, que visa alguma sustentabilidade ao clube. Até próximo ano a bancada do campo será reposta e serão construídos novos balneários. O trabalho de drenagem para parar com a fúria das águas da chuva já começou. E vamos ter um parque de estacionamento para 150 carros, um espaço para espectáculos ao vivo promovidos pelo clube e uma tenda para eventos como casamentos.
NADA COM HCB
Seu clube relaciona-se bem com os outros?
O nosso relacionamento com os outros clubes é bom. Já tenho marcado um encontro com o presidente… (não mencione o nome do clube). Pretendo fazer-lhe entender que a colectividade Costa do Sol não é inimiga do seu clube, apesar de sempre que as nossas equipas se defrontam surjam rixas entre os adeptos. O Costa do Sol é pela prática sã do desporto, na perspectiva de promoção de harmonia entre as pessoas.
Hoje se pode considerar o Chingale de Tete sucursal do Costa do Sol?
Não. A relação que existe entre Costa do Sol e Chingale, assim como com o Desportivo de Nacala, deriva do facto de os três clubes terem o mesmo principal patrocinador, que é a EDM. Não há dependência.
E com o HCB de Songo?
Com o HCB não há nenhuma relação. O que a EDM pede é que se o Costa do Sol tiver que dispensar um jogador tem de consultar ao Chingale ou Desportivo de Nacala se o precisa. O mesmo deve acontecer com aqueles clubes.
Está a gostar de ser dirigente de um grande clube?
Gosto de prestar apoio ao desporto. Não é difícil. É preciso saber ter desafios. Ninguém dirige sozinho.
Já tinha sido dirigente desportivo?
Não como presidente de um clube do tamanho do Costa do Sol. Esta é uma boa experiência. Estou na EDM há trinta e um anos. Há mais de vinte anos como chefe. Fui formado em administração e gestão de empresas. Actualmente sou assessor do Conselho de Administração da EDM.
Praticou futebol?
Jogava no recreativo na cidade da Beira, onde até era tido Conde por em campo parecer Orlando Conde, sobretudo nos cabeceamentos. Deixei de jogar depois de contrair lesão que me causou esta cicatriz na perna.
Tem mais algo a dizer?
Pode escrever que no próximo ano o Clube dos Desportos da Costa do Sol completa sessenta anos da sua existência, isso a 15 de Outubro. Em função disso, o clube vai agendar um programa específico de festividade a partir de Fevereiro. Vai haver espectáculos, torneios, programas sociais e surpresas. Tudo será feito na perspectiva de unir cada vez mais a família canarinha. Seria muito bom se ganhássemos o título de 2015, o que iria colorir a nossa festa.
Manuel Meque
Fotos de Inácio Pereira