Texto de Benjamim Wilson
A cada dia que passa, o recinto do Jardim Zoológico de Maputo vai ficando com a “cara” triste. O processo de degradação começou há quase duas décadas. Hoje o zoológico em nada se assemelha com aquela montra de espécies faunísticas, que já chegou a ser uma referência na zona austral de África.
O domingo leva o leitor a uma visita guiada pelo “zoo” da capital que, dos 95 hectares de área que possuía, ficou reduzido a um terço.
Depois de atravessar a porta de entrada, vê-se o antigo restaurante rodeado de folhagens de uma trepadeira, que mais se pode assemelhar a um lugar que serviria de palco para uma cena cinematográfica, sobretudo para a gravação de filmes de terror.
Ali próximo, um grupo de crianças, trajando uniforme escolar, correm agitadas por baixo de casuarinas, muitas daquelas árvores empoleiradas de vários tipos de aves, de onde escoam uma miscelânea de cantares daqueles tipos de espécies.
O reservatório, onde durante muito tempo residia o famigerado hipopótamo, está quase seco, as folhas das árvores praticamente tapam o espaço, sendo certo que o seu potencial ocupante deixou de ali permanecer.
Bem próximo, numa pequena área cercada, apercebemo-nos da presença de dois crocodilos, cuja nossa presença pareceu ter constituído incómodo ou que éramos vistos pelos répteis como “produto” fácil para ser devorado.
Ao lado, estão duas gaiolas, que possuem no seu interior, umas poucas cobras venenosas, que assumem a característica habitual de andarem sempre escondidas nas respectivas tocas.
CARA TRISTE
Estão, de seguida, localizadas, no interior do recinto, umas gaiolas que, em tempos, continham muitas aves, que constituíram um encanto para os visitantes do “zoo” de Maputo, sobretudo espécies de pombos, galinhas e patos. Praticamente que, as espécies desapareceram em muitas delas gaiolas, visto que a respectiva rede se apresenta sinais claros de degradação.
Em duas das gaiolas, ainda se encontram duas jibóias que, perante a presença humana, aproveitam para “passear a sua classe”, trepando em alguns bocados de ramos que ali foram especificamente colocados.
Quem está no centro do recinto do Jardim Zoológico de Maputo, não tem dúvidas de que, de uma maneira geral, as infra-estruturas estão em estado acentuado de degradação.
A jaula, que era habitada, tradicionalmente, pela população de macaco-cão, onde se chegava a ver mais de vinte qualidades, cujos pulos serviam de encanto para os visitantes, hoje se encontra menos de cinco animais como representação daquela espécie. Predominaram, no “zoo”, espécies de macaco da Índia, da Austrália, entre outros pontos do planeta.
A outra jaula que revela a tristeza do “rosto do zoo” de Maputo é aquela onde ficavam os ursos, na qual se pode se ver hoje cheio de folhas de árvores e amontoado de capim.
No reservatório onde se encontram cinco jacarés, funciona ali um repuxo, mas foi necessário colocar uma placa com os dizeres “proibido cartar água”, como forma de evitar que o vandalismo do homem atinja o “habitat” daquelas espécies.
O átrio onde se podiam ver animais de grande porte, como búfalos, rinocerontes, elefantes, cudos, entre outras espécies, está hoje transformado em lugar desabitado, revelando-se consequentemente como outras das “caras tristes” do Jardim Zoológico.
O vasto terreno onde habitavam avestruzes e girafas está transformado num emaranhado de plantas, chegando a parecer um lugar perigoso para o homem lá se movimentar.
Nas jaulas onde ficavam os leões, encontra-se uma vasta mata, onde qualquer visitante pode percorrer no seu interior sem temer que naquele lugar pode encontrar o chamado “Rei” da selva.
O último leão, que tinha de idade 22 anos, morreu há sensivelmente sete anos, conforme tomamos conhecimento ao longo da realização deste nosso trabalho de Reportagem.
ESPAÇO REDUZIDO
Hoje em dia, restam apenas 23 espécies no reduzido espaço do Jardim Zoológico de Maputo, tendo, os restantes dois terços da sua área, sido invadida pelas populações para a construção de habitações.
Em 1998, quando a Associação dos Amigos do Jardim Zoológico de Maputo (AJZM), decidiu travar com a onda de invasão para salvar o espaço, as construções passaram a ser edificadas no período da noite.
Conforme soubemos, parte das pessoas que invadiram o espaço do “zoo”, tiveram a ousadia de levar a AJZM até a barra do tribunal para tentar provar, com mais “a” e mais “b”, que eram titulares das parcelas.
Restam, presentemente, apenas 35 hectares, espaço que não oferecerá grandes possibilidades de se voltar a fazer levantar o Jardim Zoológico, pelo menos nos moldes que já foi desde a sua construção em 1945.
Face à invasão e de outras práticas de vandalismo, fica-se hoje a saber de uma elevada variedade de plantas que ali existiram terão servido de lenha em algumas residências circunvizinhas.
Ratos da Índia
acabaram nas panelas
Os ratos da Índia, vulgo “xicarapitana”, tiveram como destino as panelas de algumas famílias, servindo de condimentos para refasteladas refeições, corria o tempo em que a crise tinha que ser debelada a todo o custo.
Tal como aquelas espécies que servem de estimação, destino idêntico acabaram tendo outras criaturas que constituíram a delícia e representaram momentos de puro laser para muita gente de Maputo e não só.
Ali existia uma variadíssima qualidade de cabritos, coelhos, impalas, porcos, ursos, só para citar algumas espécies da tanta riqueza, em termos de fauna, que se encontrava ali agrupada e as pessoas podiam apreciar e passar momentos de “piquenique”.
Tal como apuramos, junto da Associação dos Amigos do Jardim Zoológico, para se travar com a onda de ocupação do recinto daquele parque, foi necessário arranjar recursos para se concluir de imediato com a vedação de todo o perímetro.
Hipopótamo morreu
com 59 anos de idade
O último hipopótamo que habitou no espaço do Jardim Zoológico, trazido pelo grupo que explorou aquele parque de laser que existe em Maputo, morreu com sensivelmente 55 anos de idade.
Foi em Junho do ano passado que se realizaram as respectivas cerimónias fúnebres, numa área que funciona, desde a sua criação, como cemitério para cães e outros animais do “zoo”.
Refira-se que, aquela espécie de animal, foi trazida pelos fundadores do Jardim Zoológico de Maputo no distante ano de 1974, contando, na altura, com apenas 20 anos de idade.
Soubemos que, a última espécie de leão que “morou” no Jardim Zoológico, morreu há sensivelmente sete anos e possuía, à data da sua morte, cerca de 22 anos de idade.
ADD-3
Transformar o “zoo”
num eco-parque
A Associação dos Amigos do Jardim Zoológico traçou, no respectivo Plano Director, a possibilidade de uma transformação da área que resta do “zoo” para a instalação de um eco-parque.
Tal possibilidade, passará pela fixação de dois serviços que possam gerar rendimentos, divididos entre as áreas de entretenimento e de comércio propriamente dito.
Segundo nos disse o presidente da associação, Daúde Carimo, pretende-se assegurar que, na área que era reservada para o laser, possa ser transformada num ponto de atracção para muitos habitantes de Maputo.
Pretende-se fazer com que, ainda no que concerne a área em causa, seja transformada num espaço privilegiado da cidade de Maputo, no qual as pessoas passam passar o dia, tirando, simultaneamente, proveito das condições de existir um dos pulmões verdes da urbe.
Para a sustentação das espécies que ainda se encontram naquele recinto, conforme nos disse Daúde Carimo, a associação conta com o apoio técnico dos jardins zoológicos de Johannesburgo e Pretória.
A fonte disse ser necessário ter uma nova abordagem para o “zoo” de Maputo, visto que este, aquele foi criado numa altura em que os animais podiam viver em cativeiro, cenário que hoje enfrenta barreiras legais quanto à sua subsistência.
Conforme nos explicou, pretende-se agora implantar um serviço que possa estar dividido entre o laser e a criação de animais de fácil convívio com os visitantes, sem que as espécies permaneçam em cativeiro.
Na parte frontal do Jardim Zoológico, existe a ideia de se construir um centro educacional, incluindo um espaço destinado à realização de conferências, ficando, as restantes áreas, reservadas para a montagem de um centro para a prática de desportiva e actividades culturais.
A associação, em parceria com o Conselho Municipal de Maputo, pretende estabelecer futuramente, um intercâmbio com o Parque Ecológico de Zimpeto, onde se situava o paiol da capital, cujo projecto está em curso para se transformar numa realidade.
Parte do espaço do “zoo”, de acordo com a nossa fonte, deverá ficar reservado para o desenvolvimento de um projecto botânico, destinado à preservação de raras espécies de plantas.