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Infantários esgotam capacidade

Por admin

As cidades de Maputo e Matola estão a registar, nos últimos tempos, o aumento de crianças abandonadas pelos seus familiares e perdidas nas vias públicas. A maior parte destas são encaminhadas aos infantários das duas cidades acima mencionadas o que levou a lotação das casas de acolhimento.

O país conta actualmente com 17 centros infantários em funcionamento, destes oito são geridos pelo Estado, distribuídos pelas diversas cidades nomeadamente: Maputo, Matola, Xai-Xai, Inhambane, Chimoio, Beira, Quelimane e Nampula. Os remanescentes (nove) são do sector privado. Para além destes, existem em funcionamento 81 centros de acolhimento.

Até o passado mês de Dezembro, estes infantários tinham recebido 1424 crianças, das quais 707 nos centros públicos e 717 nos privados. Ainda assim, os 17 infantários existentes continuam poucos para atender a procura que se tem verificado nos últimos dias.

O cenário inquieta as autoridades do Ministério da Mulher e Acção Social que entendem que a melhor forma para ajudar as crianças em situação difícil é reintegra-las nas suas famílias ou em famílias adoptivas, mas estes preferem abandona-los.

A preocupação do Governo está virada para a província e Cidade de Maputo onde os respectivos centros já esgotaram a sua capacidade de acomodação. Para tal, perspectiva-se que nos próximos anos sejam construídos mais dois, sendo um em Maputo e outro na Matola.

domingo apurou que a actual capacidade do Infantário da Matola é de 48 pessoas, porém alberga 80 menores , enquanto o Infantário 1° de Maio, na capital do país, alberga, 58 crianças, tendo 50 de capacidade máxima.

Estes centros recebem por semana entre seis a 10 crianças e adolescentes perdidos e três abandonadas, com idades que variam de 4 a 17 anos de idade.

Em relação as perdidas, na sua maioria são crianças recrutadas em alguns distritos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane para trabalharem como domésticos nos municípios de Maputo e Matola.

Segundo apuramos, a maior parte destas crianças, não chegam a corresponder as expectativas dos patrões, por isso são precocemente expulsas sem sequer dinheiro para levá-las ao destino de proveniência.  

Noutros casos, pela natureza do trabalho que encontram nas casas para onde são levadas, elas fogem sem destino nem sem saber o futuro que lhes espera na rua.

Sobre as crianças abandonadas, na sua maioria são aquelas que tem problemas de saúde, como HIV, deficiência física, mentais, epilepsia, entre outras. Há relatos de que outros petizes são abandonados nos hospitais pelas suas mães. A maior parte delas são largadas nos portões dos centros.

A situação preocupa tanto as autoridades dos centros, assim como ao Governo, por essa razão apelam aos pais e ou encarregados de educação no sentido destes aceitarem a realidade dos seus filhos.

Aliás, devido a falta de espaço há centros onde no mesmo quarto ficam doentes mentais e crianças com outras doenças como epilepsia e as "normais".

INTEGRAÇÃO

As direcções dos infantários quando recebem as crianças perdidas têm procurado conversar com elas para apurar a sua proveniência e com quem viviam. E de seguida tem procurado em vão localizar a casa dos parentes.

Os gestores destes locais revelaram que enfrentam enumeras dificuldades para acompanhar as crianças aos locais de origem porque algumas destas não falam e outras vem de longe. A situação torna-se complicada porque estas instituições não têm transporte para garantir a deslocação.

No Infantário da Matola, a nossa reportagem deparou-se com uma menina que aparenta ter 10 anos e em conversa, ela disse que vinha da Maxixe, província de Inhambane. Saiu de lá por causa de uma tia que a maltratava.

Enquanto no Infantário 1° de Maio, cidade de Maputo, a equipa acompanhou a história de uma adolescente de 14 anos que disse que vinha da Namaacha, província de Maputo. Ela revelou ser órfã e que vivia com a sua avó antes de abandonar a casa.

Neste momento, estão em curso trabalhos com vista a localização das famílias destas crianças, mas ainda sem sucesso. Outra dificuldade enfrentada pelos infantários prende-se com a falta de transporte para chegar aos locais onde se presume que podem ser encontradas famílias.

Precisamos de cadeiras de rodas

– Directora do Infantário da Matola

A directora do Infantário da Matola, Laura Francisco Machuancuana, disse que a sua instituição precisa de mais cadeiras adaptadas para os seus doentes. O centro tem 12 crianças com deficiências profundas e que neste momento ajeitam-se em cadeiras sem condições.

Para além destes meios, precisam igualmente de um médico para atender as doenças mentais e epilepsia.

Segundo a directora, o centro tem um posto de saúde interno que conta com um terapeuta, psicóloga, fisioterapeuta, uma enfermeira, técnico psiquiatra, todos estes vem fazer trabalho duas vezes por semana.

Já temos a consciência de que os pais não querem viver com os seus filhos, então a nossa preocupação neste momento é garantir meios de transporte para levar aqueles que estão doentes aos hospitais. Temos um doente com intervalos de lucidez, quando a situação começa parte palitos e coloca-os nos ouvidos. Falta-nos transporte para leva-lo ao hospital para assistência, disse a directora.

Pedimos ajuda da sociedade civil

– Judite Enoque,

A Chefe da Repartição e Gestão de Pessoal Órgão Central do Ministério da Mulher e Acção Social, Judite Enoque, reconhece que há tendência nos últimos tempos

de aumentar o número de crianças abandonadas ou perdidas. Para fazer face a esta situação referiu que é preciso contar com o envolvimento da sociedade civil, sobretudo no aconselhamento dos pais de forma a permitir que estes tenham o hábito de ficar com os filhos mesmo que sejam doentes.

Estamos preocupados porque as vezes encontramos crianças que vivem nos infantários acima da idade exigida. Tudo porque está a ser difícil integra-las as suas famílias. Achamos que é preciso dizer aos pais para aceitarem os seus filhos independentemente do estado físico ou mental,disse.

Acrescentou que atendendo que existem pais que não querem receber os seus filhos, o Governo está a levar a escola, sobretudo para ensino adaptado vocacional.

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