Perante uma plateia de quatro mil convidados o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, definiu, no seu discurso de tomada de posse, sábado 24 de Maio, aquilo que são as prioridades da sua governação para o seu segundo mandato de cinco anos.
Como seria de esperar, face à grave situação económica e social da África do Sul, as prioridades do Presidente reeleito prendem-se com as questões de criação de emprego, da melhoria do acesso à educação e à saúde e o combate à corrupção.
Nada de substancialmente novo e que não tivesse sido tentado durante o seu anterior mandato, que ficou longe de ser cumprido por razões que se prendem, sobretudo, com a própria complexidade do sistema de funcionamento económico vigente no país e imensamente dependente dos investimentos estrangeiros.
Como primeira curiosidade neste discurso de tomada de posse, ao contrário do que sucedeu cinco anos atrás, não estiveram presentes entre os quatro mil convidados representantes oficiais dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Ao invés, na plateia estavam enviados dos executivos da Rússia e da China. Esta inversão de posições, no que respeita aos países ocidentais que prestigiaram a tomada de posse do reeleito Presidente da África do Sul, é um primeiro e forte indício daquilo que podem ser, nos próximos cinco anos, os alinhamentos estratégicos do país no que respeita às suas politicas económicas e sociais.
Para corporizar a sua estratégia de desenvolvimento social e económico, o governo da África do Sul necessita de dinheiro vivo e, sobretudo, de muito investimento externo nas áreas por si definidas como estratégicas. Na última década, é conhecida a estratégia da China no que respeita ao apoio ao desenvolvimento social e económico do continente, contando para isso com avultadas quantias destinadas a suportar programas criados por países africanos para a criação de bases que facilitem a aplicação de medidas destinadas a sustentar essas perspectivas de crescimento.
A Rússia, desde há muitas décadas, sempre foi uma parceira empenhada no desenvolvimento do continente africano, através, primeiro, do apoio a movimentos nacionalistas que combateram pela independência e, depois, mantendo estreitas ligações com jovens governos, no sentido de os ajudar na aplicação de programas de desenvolvimento. A ausência de representantes dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha é também um reflexo daquilo que tem sido o comportamento destes dois países em relação às necessidades de crescimento e de desenvolvimento do continente africano e que raramente se encaixam nas suas próprias estratégias.
Nos corredores da diplomacia africana têm sido ainda muito comentadas as visitas que recentemente foram feitas pelo Secretário de Estado dos EUA e pelo Primeiro-Ministro da China, nas quais, enquanto o primeiro falava na necessidade de uma maior aproximação política para fomentar o aumento da cooperação económica, o segundo apresentava-se aos seus interlocutores já com uma série de contratos prontos a serem assinados. Enquanto o responsável norte-americano vinha, mais uma vez, com uma mão cheia de promessas, o segundo trazia no bolso numerosos contratos prontos a serem de imediato assinados.
Jacob Zuma, ao ter perante si altos representantes dos governos da Rússia e da China, sentiu-se suficientemente motivado para renovar uma série de promessas e dar garantias de que, desta vez, elas têm mais facilidades de ser cumpridas porque, como disse na ocasião, “sabemos com que amigos podemos efectivamente contar.”
Ainda na esteira dos seus planos para os próximos cinco anos, o Presidente Jacob Zuma prometeu a aplicação de medidas que facilitem um maior e mais fácil acesso às linhas de crédito bancário por parte de médios e pequenos empresários sul-africanos que assim podem prosperar, paralelamente às grandes empresas nacionais.
Seguindo um pouco do que já é praticado no Zimbabwe, Jacob Zuma aflorou a possibilidade de aplicação de programas de “indigenização”, mas tendo o cuidado de explicar que eles não têm qualquer conotação rácica. Por falta de informação, criou-se a ideia de que um programa de “indigenização” se destina a favorecer a classe empresarial negra, quando, na verdade, do que se trata é de favorecer a classe empresarial nacional, independentemente da sua raça ou crença religiosa.
Já assim é no Zimbabwe e, tudo indica, passa também a sê-lo na África do Sul.
Os empresários nacionais passam a ter um tratamento preferencial, por parte do Estado, sendo parceiros obrigatórios com um mínimo de 51 por cento em todas as empresas que os estrangeiros queiram criar no país, estando, para isso, abertas e disponibilizadas linhas de crédito com juros bonificados, de modo a que se possa passar da intenção aos actos.
É neste processo de dar mais poder ao empresariado nacional que a África do Sul espera poder contar com o apoio de instituições financeiras chinesas, das mais capacitadas ao nível de todo o mundo em termos de massa monetária excedente.
Não o tendo especificamente dito, mas deixando-o transparecer nas entrelinhas, o Presidente Jacob Zuma conta com o apoio russo para redimensionar o sector mineiro do país, ultimamente abalado por uma série de greves e sob a permanente desconfiança de estar a ser mal gerido. Consiga, numa primeira fase, Jacob Zuma dinamizar o sector empresarial nacional e dar ao sector mineiro do país a dimensão que o seu enorme potencial exige, podem os sul-africanos começar a sair de uma situação que ameaça mergulhar o país numa profunda crise, sem necessidade de se estarem a hipotecar politicamente a Nação, cedendo às exigências externas que nada ajudam ao desenvolvimento.
No pleito de 7 de Maio passado, o Congresso Nacional Africano (ANC), do Presidente Jacob Zuma, que governa a África do Sul, venceu com 62,5 porcento dos votos as eleições gerais, seguido pela Aliança Democrática (DA), com 22 porcento dos votos, e pelo partido radical populista de Julius Malema, Combatentes pela Liberdade Económica, com 6,1porcento.
Nascido a Inkadla 12 de Abril de 1942, na Zululândia (actual parte de KwaZulu-Natal), é desde Dezembro de 2007 o presidente do ANC, o partido governante do país.
Já foi vice-presidente da África do Sul de 1999 a 2005,1 e Presidente do país, após a vitória do seu partido nas eleições gerais de 2009.
In Jornal de Angola (on line)