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Efectivada suspensão do secretário-geral da CVM

Por admin

Consumada a suspensão do secretário-geral da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) pelo Conselho Executivo Nacional (CEN), a expectativa gira em torno da recepção do relatório de auditoria encomendado pela instituição à Federação Internacional da Cruz Vermelha em torno das acusações de abuso de poder, desvio e má aplicação de fundos e criação de grupinhos.

Está confirmada a suspensão do secretário-geral da Cruz Vermelha de Moçambique, Américo Ubisse, na sequência da carta denúncia dos trabalhadores, apontando várias irregularidades cometidas pelo visado que vão desde o abuso de poder, criação de grupinhos, marginalização dos grupos de tomada de decisão, tentativa de venda do património da organização, penhora de bens na banca, usurpação de competências quando passou a fazer pessoalmente a gestão financeira em detrimento da Direcção Financeira.

O Conselho Executivo Nacional (CEN), reunido, há dias, decidiu-se pela suspensão de Américo Ubisse através de um comunicado interno em que refere o seguinte: “na sequência da deliberação do CEN datado de 14 de Março corrente e ao abrigo do artigo 61 na alínea E dos estatutos da Cruz Vermelha de Moçambique, conjugado com o artigo 40 nas alíneas F, G e H do regulamento interno determina-se: a suspensão de Américo José Ubisse do cargo de secretário-geral da CVM, com efeitos imediatos e consequente interdição deste frequentar quaisquer instalações da CVM. Bem como de agir em nome da instituição em qualquer fórum público ou privado até ordens ao contrário por parte do Conselho Executivo Nacional”.

O documento tem efeitos desde o dia 20 de Março, porém, segundo o domingo apurou, o mesmo não foi divulgado antes, porque a CVM estava envolvida na 13ª Gala de Beneficência realizada a 21 de Março na cidade de Maxixe, em Inhambane, numa parceria com a Televisão de Moçambique e Gabinete da Esposa do Presidente da República.

A nossa fonte precisou que Ubisse estava tão por dentro do evento que naquele momento não se julgava adequado suspendê-lo para o bem da imagem da instituição.

Para além dos factos acima indicados pesam sobre o então secretário-geral o descaminho de parte de 500 mil dólares americanos de um parceiro no âmbito da solidariedade e ordenado a construção de uma padaria em Xai-Xai.

A construção da padaria segundo informação colhida pelodomingo não foi do conhecimento nem teve anuência do CEN, estrutura hierarquicamente superior ao secretário-geral.

Os funcionários acusam ainda o secretário-geral suspenso de ter descaminhado parte de um valor correspondente a 500 mil euros em donativo oferecido pela congénere portuguesa em roupa da marca Salsa e objectos de adorno. O referido donativo foi calculado a preços bonificados que resultariam num valor de 12 milhões, 432 mil e 500 meticais.

Deste valor, apenas consta ter dado entrada no sistema contabilístico da empresa o valor de um milhão, 55 mil e 419 meticais.

Segundo o sector da Contabilidade, do valor remanescente, deduzidas as despesas e partindo do principio de venda completa do donativo, faltam justificar 11 milhões 377 mil e 080 meticais.

Ubisse terá desrespeitado os princípios de consulta ao grupo de tomada de decisão (directores) e unilateralmente ordenado a abertura de uma loja no edifício da CVM sem prévia autorização das autoridades competentes (Ministério da Industria e Comércio) e tendo em conta o carácter da instituição.

Para dirigir as operações na loja, indicou a recepcionista Patrícia Maya, funcionária de eleição do secretário-geral. O valor da venda de roupa segundo os trabalhadores era canalizado à secretária de Ubisse e encaminhado ao cofre no gabinete do secretário-geral.

Este comportamento vai contra os princípios de funcionamento da instituição, pois existe uma direcção Financeira, Contabilidade e um tesoureiro para tramitação de valores.

O rol das acusações feitas pelos funcionários contra o secretário-geral estende-se ao uso de telefone celular via contrato com um limite fixado em dois mil meticais. Na lista de facturas na posse do domingo constam valores acima de 10 mil meticais mês.

A título ilustrativo, foram arroladas quatro facturas com os seguintes valores: 21.675,14, a segunda de 19.548,85 a terceira de 14.685,97, uma factura corrente de 21.675, 14 e um saldo corrente de 41.223,99 meticais.

O SG usa fundos a seu bel-prazer, dão como exemplo que para além do consumo de 50 litros de combustível semanal a que tem direito, Américo Ubisse foi dois dias seguidos à bomba abastecer 40 litros por dia e remeteu a factura à responsabilidade da CVM.

Américo Ubisse é acusado ainda de ter criado um grupinho constituído pelo Director de Planificação e Orçamento, Respeito Chirindza, porta-voz, Abílio Campos, técnico Júlio Mondlane, secretária Rosa Matsinhe e pela recepcionista Patrícia Maya.

O mau ambiente que se vive na CVM foi despoletado quando um grupo de 32 trabalhadores afectos à sede da instituição escreveu uma carta em finais do mês de Fevereiro para o CENm dando conta dos desmandos protagonizados pelo secretário-geral Américo Ubisse.

Tratava-se de uma carta de 16 páginas acompanhadas por abaixo-assinados dos funcionários, onde apresentaram uma série de inquietações sobre a forma como a instituição era gerida.

A Cruz Vermelha de Moçambique tem pouco mais de 400 trabalhadores do quadro que estão há nove meses sem salário, excepto aqueles que estão afectos aos diferentes projectos da instituição.

UBISSE ESGRIME ARGUMENTOS

Contactado telefonicamente ,o suspenso secretário-geral da Cruz Vermelha de Moçambique, Américo Ubisse esgrimiu os seus argumentos para justificar que tudo que fizera foi para o bem da instituição e que em última instância tal ficará provado.

Ubisse garante a pés juntos que o empreendimento construído num terreno da instituição está registado em nome da CVM e que o dinheiro proveniente da venda de pão serve para minimizar várias dificuldades pontuais.

Mesmo assim, os funcionários dos sectores que lidam com as contas negam que os valores estejam registados nos canais oficiais da instituição.

O suspenso secretário-geral argumenta ainda que quando o donativo chegou e depois dos procedimentos aduaneiros, houve um debate sobre a forma que iriam vender a roupa. De entre as várias opiniões alguns defendiam a tese segundo a qual os funcionários pegariam peças de roupas para vender junto a conhecidos.

Ubisse alega que depois de duas semanas ficou claro que a recepcionista Patrícia Maya é que possuía uma vasta carteira de clientes e que os funcionários não devolveram a roupa nem pagaram o que haviam levado.

“Dentro dessa conjuntura, achei por bem que ela, Patricia Maya, devia ficar encarregue de vender toda a roupa pelo número de conhecidos e clientes que tinha”, disse Ubisse. 

O então secretário-geral concluiu dizendo que a padaria construída em Xai-Xai é da CVM e que o dinheiro dos parceiros e do donativo em forma de roupa foi todo canalizado para as contas da instituição, excepto aquele levado pelos funcionários em forma de crédito.

Jaime Cumbana

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