A cidade de Maputo poderá testemunhar, nos próximos tempos, uma espécie de revolução no domínio dos transportes. Está a ser equacionada a criação de um corredor exclusivo de transporte, denominado BRT, que está a ser implementado em grandes cidades da América Latina.
O Plano Director de Transportes, que a seguir apresentamos, traz um novo paradigma para o transporte de massas. No quadro da melhoria das condições de transporte público, algumas vias vão beneficiar de alargamento.
Contando com o forte apoio da cooperação japonesa, o Conselho Municipal de Maputo vai ter que largar dinheiro dos cofres para implementar um projecto de transporte público que está a fazer sucesso em vários países da América Latina.
Trata-se da implantação, em algumas vias, do chamado BRT, um corredor exclusivo de transporte, projecto este que vai obrigar ao alargamento de muitas estradas da nossa cidade capital, concretamente entre Magoanine e a baixa, no eixo Maputo-Marracuene e Maputo e Matola.
Tão rapidamente deverá ser oficialmente criada uma agência para fazer a gestão do tráfego, organismo que a terá que fazer a monitoria do processo de implementação do Plano Director de Transporte Urbano para a região do Grande Maputo.
As faixas dedicadas ao serviço de BRT deverão ficar implantadas na zona central das vias que serão ampliadas, na linha Baixa-Zimpeto, através de um investimento que vai rondar cerca de 92 milhões de dólares americanos.
Segundo apuramos, para a linha Baixa-Magoanine e Museu-Magoanine, o projecto do “BRT” deverá custar aos cofres da edilidade cerca de 220 milhões de dólares americanos.
Tal como referiu Yuzo Nakano, especialista em construção de estradas, as duas fases de implementação do projecto poderão ocorrer num período de 15 a 24 meses.
As vias deverão ser ampliadas para uma extensão de 31 metros de largura, de modo a comportar os corredores exclusivos de transporte público, com paragens e estações de autocarros de alta “performance” técnica.
O QUE É BRT?
Alan Cannel, especialista em sistema viário do Brasil, disse que o projecto “BRT” está a operar em cidades como Salvador, Bogotá, Curitiba e Cleveland, apresentando-se agora para os maputenses como uma solução de transporte seguro e eficaz.
No corredor exclusivo de transporte, apenas se movimentarão os autocarros públicos, ficando reservadas as restantes faixas de rodagem para as viaturas particulares.
Cada autocarro terá quatro entradas do lado direito, prevendo-se que sejam construídas cerca de 16 paragens e três terminais, entre a Praça dos Trabalhadores e o bairro de Zimpeto. De acordo com o estudo, as terminais funcionarão junto da Estação Central dos Caminhos de Ferro, na zona de Missão Roque e no Zimpeto.
Tal como foi explicado, o acesso às paragens, pelo facto de se encontrarem no eixo da via, será feito em segurança por meio de passadeiras apropriadas para que não se coloque em risco a vida dos passageiros.
Tal como soubemos, o sistema de pagamento do bilhete não deverá ser feito à vista, mas sim pela via electrónica, um sistema que, segundo os especialistas, permite uma maior segurança em termos de cobranças.
Os estudos apontam que, a tarifa dos autocarros deverá ser, de certo modo, reduzida, tal como tem sido a prática adoptada nas grandes cidades onde estão a operar os serviços do “BRT”.
Os passageiros só poderão ter acesso aos autocarros mediante a aquisição do bilhete electrónico, o qual deverá ser passado por um dispositivo que será colocado nas paragens.
Cada autocarro, com uma capacidade de cerca de 160 passageiros cada, deverá observar paragens para carregamento num período equivalente a 20 segundos, projectando-se que a distância entre uma e outra paragem seja de 670 metros.
O Conselho Municipal de Maputo prepara-se para efectuar a aquisição de 150 autocarros que irão operar nas duas linhas que se pretende criar.
Os estudos apontam que, através do serviço BRT, possam a ser transportados por hora cerca de quatro mil pessoas, o que poderá ser uma alternativa em termos de transporte para muita gente.
De realçar que, o serviço “BRT” está a ser implementado com sucesso há 40 anos na cidade de Curitiba, no Brasil, como um sistema de transporte massivo de pessoas.
MEXIDAS DE VULTO
A versão final do estudo indica que funcionarão neste sistema as linhas Baixa-Bigada Montada-Zimpeto, assim como Baixa-Acordos de Lusaka-FPLM-Magoanine e Museu-Avenida Eduardo Mondlane-Ronil-Magoanine.
A linha Baixa-Zimpeto partirá da estação dos CFM, passando pela Rua das Estâncias, seguindo o traçado da via-férrea até à ex-Brigada Montada, atravessando os bairros do Jardim, Inhagóia, 25 de Junho, Bagamoio e Benfica.
Outra linha partirá da baixa da cidade de Maputo, estendendo-se pelas avenidas Guerra Popular, Acordos de Lusaka, FPLM, Praça dos Combatentes, Julius Nyerere e irá desaguar em Magoanine, mais concretamente na Praça da Juventude.
No processo de implantação das referidas linhas, deverão ser expropriadas infra-estruturas e terrenos, o que levará a que fiquem afectados muitos estabelecimentos que se encontram a operar nas bermas das estradas abrangidas.
Está projectada ainda a construção de uma via de ligação de Maputo para a Matola, através do Rio Mulauze, mais concretamente no eixo Missão Roque e a zona da Portagem de Maputo.
O Plano Director de Transportes, que integra a cidade da Matola e os distritos de Boane e Marracuene, concluído ao longo da semana passada, traz, na sua essência, propostas de certo modo ambiciosas para a solução do serviço do transporte público ao nível da Área Metropolitana do Grande Maputo.
Os estudos, que vinham decorrendo há dois anos, apontam que, até 2035, os níveis de crescimento do parque automóvel subirão cada vez mais para números que obrigarão à criação de vias alternativas, entre as cidades de Maputo e Matola.
Tal como foi referido, durante a apresentação pública do Plano Director de Transportes, as estradas que compreendem o eixo Marracuene-Matola-Maputo-Boane processam mais de 30 mil veículos por dia. Os estudos divulgados na semana passada apontam que, em 2035, naquele mesmo raio poderão ser processados por dia cerca de 135 mil veículos.
FINALMENTE O METRO
O serviço de transporte rápido desenhado para estabelecer a ligação entre Maputo e Matola, bem como a vila de Boane, deverá ser assegurado através de um Metro, prevendo-se que seja construída uma linha exclusiva paralela à via ferroviária de Ressano.
O ponto de partida do Metro na cidade de Maputo será a estação dos CFM e irá estabelecer o transporte de passageiros até à região de Boane, passando pelos bairros do Município da Matola.
De referir que o serviço “BRT” não vai se estender para a cidade da Matola, devendo circunscrever-se ao Município de Maputo, no quadro da melhoria das condições de mobilidade.
O vereador dos Transportes e Trânsito do Conselho Municipal, João Mathlombe, não escondeu a vontade do executivo de implementar o projecto ainda a partir deste ano.
Por sua vez, o presidente do Conselho Municipal de Maputo, David Simango, disse que os próximos tempos vão ser “cativantes”, mesmo assim, afirmou que esta solução para o problema do transporte público não deixa as autoridades “relaxadas”.
BenjamimWilson